"Ele me evitava, era frio"

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Pov's Júlia

Eu não adormeci completamente. Senti que
alguém me carregava colocando-me em uma cama macia, talvez fosse ele. Ao abrir os olhos eu soube que realmente João tinha me tirado do sofá e me colocado no meu quarto. Levantei cambaleante, vi o horário em um relógio, era madrugada. Eu fui até o quarto de João Pedro em frente ao meu, trôpega, e bati a porta. Bati uma, duas, três vezes e entao finalmente alguém me atendeu.

Ele estava descabelado, a cara inchada de sono, lindo. Mas naquele momento de angústia eu não vi beleza, não vi nada. Entrei num átimo no quarto e passei a caminhar para lá e para cá.

- Sabe que horas são? Eu preciso dormir - disse irritado, sentou se em sua cama.

Eu me aproximei, o rosto já tomado pelas lágrimas, e ajoelhei diante dele. Deitei minha cabeça em seu colo e chorei copiosamente. Ele ficou imóvel.

- Por favor, me fala o que foi que eu fiz! Eu peço perdão mesmo sem saber! Fale-me! Eu peço perdão, eu peço perdão, mas para com isso! - exigi aos berros sem me importar se estava fazendo bobagem.

Mota ficou parado sem oferecer nenhum consolo. E minha mente gritava fazendo perguntas sobre a situação. O que estava acontecendo? Eu estava vivendo um pesadelo?

-Para com isso Júlia. - ele murmurou. Eu o encarei. Sua feiçao estava perturbada. Parecia pena O que eu via refletido naquele rosto? Antes que pudesse nomear o sentimento que parecia tomar ele, ele mudou. Sua feição era fria, tão fria que recuei. - Não fez nada de errado, Júlia. Fui eu que fiz. - disse.

Eu levantei do chão e ele fez o mesmo. Ele pegou minha mão e me levou para fora do quarto. Eu fiquei para fora e João ficou próximo a porta.

- O que você fez? perguntei com a voz falha.- Eu PRECISAVA entender o que estava acontecendo. O mesmo olhou o chão e quando me olhou senti um golpe no peito. O seu olhar doía, queimava.

- Eu me casei com você. Foi o meu erro - falou e entao fechou a porta na minha cara.

Eu fiquei parada, não sei por quanto tempo. Eu estava em choque.

Isso não estava acontecendo. Não podia estar acontecendo. Eu nao merecia sofrer.

Este não era o conto de fadas que eu havia planejado para mim.

Onde estava a minha fada madrinha?

"Pode ser só uma fase Júlia. João Pedro vai parar com isso. Vai sim. Ele está confuso." pensei tentando me consolar.

Eu não deveria ter aceitado me casar tão rapidamente. Deveria ter pedido um tempo. Ele se precipitou e estava confuso. Mas logo ele perceberia que foi bom ter casado comigo. Eu mostraria para ele a partir daquele dia que foi a decisão mais sábia. Eu o faria enxergar.

- Vai ficar tudo bem. - disse para mim mesma e rumei para o meu quarto.

Eu esperei, esperei por esse dia. Eu esperei...

...

- Você vai comigo para a empresa. - disse naquela manhã do dia seguinte. Eu sorri.

- Obrigada. - Foi à única coisa que ele falou.Os dias foram passando...

- Aonde vai? - perguntei vendo-o se arrumar.

Era noite. Ele nem olhou para mim concentrado demais em ajeitar a gravata.

- Uma festa da empresa. - disse.

- As esposas costumam acompanhar seus maridos em eventos como este, não é? - comentei risonha.

João Pedro virou se para mim, com olhar frio, e disse curto e grosso:

- Não me acompanhará.

Eu me refugiei em meu quarto, eu não chorava diante dele, mas ele sabia que eu chorava.

Eu voltei a trabalhar normalmente. Tentava sorrir, tentava me empenhar, eu conseguia, mas... Bela estava sempre aérea para perceber minha depressão. Perguntava me insistentemente sobre meu casamento e eu respondia com mentiras. Eu não poderia dizer o que se passava.

Duda, porém, infelizmente estava mais consciente de mim. Ela sentia que eu nao estava bem, perguntou inúmeras vezes o que estava acontecendo. Eu menti, mas ela nao acreditou. No entanto ela não me questionou. Esperava que eu dissesse de livre e espontânea vontade, algo que não iria acontecer.

Eu ainda esperava que meu marido mudasse, mas isso não aconteceu. Ele me evitava, era frio, mal falava comigo. Chegava tarde em casa, as vezes não chegava, e nada dizia. Ele era um estranho pra mim.

Eu viva em sua casa no meu mundinho, meu quarto. Eu passava mais tempo lá quando estava em casa. Uma forma de evitar sofrer, e chorar, era me refugiar lá. Falava com as empregadas, mulheres ótimas.

Eu me fechei em mim mesma e não contei nada
a ninguém. Eu nao poderia. Ana Júlia , logo após
o casamento, viajou para a África com Pedro para cuidar de assuntos da empresa e para uma terceira lua de mel. Ela me ligou durante o tempo em que se ausentou. Eu nao atendi as ligaçoes. Eu não liguei de volta. Eu nao poderia.

Dois meses se passaram...

- Bom dia amiga! - Bela me cumprimentou.

Eu entrei em nosso cubículo e sentei em minha cadeira ligando meu computador para mais um dia de trabalho. Eu era um zumbi, cheia de dor por que o homem com quem eu me casei o homem da minha vida me tratava como um lixo.

A Duda veio agora a pouco aqui, queria falar com você.

- Depois falo com ela. - murmurei com a voz morta, algo que já fazia parte de mim.

- Ah você já alugou a sua antiga casa? - Bela perguntou mexendo em seu computador.

- Nao. Por quê?

- Eu queria alugar. Tô cansada de ouvir meu pai reclamando toda vez que levo Gustavo para lá. Quer dizer ele é meu namorado agora! - falou emburrada.

- Pode ficar lá se quiser. Deixei minha mobília lá. - disse e após isso dei atençao ao meu trabalho.

O silêncio que tomou nosso espaço foi quebrado por uma voz conhecida.

- Oie! a voz soou. - Virei-me rapidamente.

- Ana Júlia? murmurei. - Ela veio saltitando, linda em seu vestido Chanel verde oliva, em minha direçao.

- Você vem comigo! - disse autoritária e saiu me puxando.

- Ana Júlia, eu preciso trabalhar! - pedi. Ela me ignorou.

- Vamos!

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora