Eu levantei e fiquei desnorteada. Por fim eu o segui. Montei em sua moto colocando o capacete ofertado por ele. E ele, ao contrário das outras vezes, dirigiu bem rápido.
Eu havia acabado com tudo, antes mesmo de refletir sobre o melhor para mim. Agi por impulso seguindo meu maldito coração. Isso não iria acabar bem. E quando desci da moto e retirei o capacete, apenas a alguns metros da casa de João Pedro eu soube que era o fim de Leonardo e eu.
O olhar que ele me lançou, um olhar magoado, partiu meu coração. Eu o havia ferido com meus atos, a uma pessoa que não merecia. Se havia alguém que merecia ser magoado, esse alguém era João Pedro, não Leonardo.
- Responda a uma simples pergunta: o que eu fui para você? Fui uma forma de chamar a atenção do seu marido?
- Não! Primeiro foi uma válvula de escape. Eu precisava me sentir amada, sentir algo a mais do que ódio e ressentimento. Depois eu realmente gostei de você, queria um futuro com você, mas... - minha voz sumiu. As lágrimas voltaram a banhar meu rosto.
- Seu amor por aquele cretino é mais forte do que eu imaginava. Perdoar o que ele fez a você... Tem que amar muito alguém para aceitar tal coisa. - disse censurandome. Abaixei a cabeça.
- Eu sinto muito. - funguei. Ouvi o barulho da moto sendo ligada. Eu levantei a cabeça e o vi na moto. - Leonardo, eu... Vai soar egoísta, mas você é uma pessoa maravilhosa e eu não quero perder... Não quero perder você. Por favor, como amigos...! - pedi. Eu realmente não queria me afastar dele, ele era uma pessoa que me fazia sentir bem. Ele não se virou para me olhar. Eu pensei que ouviria um “não”, mas...
- Com o tempo isso pode vir a acontecer, mas preciso de um tempo longe de você.
- Eu sei. Você tem razão.
Enquanto eu via ele se preparar para partir, senti uma dor terrível no peito. Eu sabia que quando ele partisse, não haveria volta. E mesmo o meu lado racional querendo pedir perdão e ficar com ele, implorar para ele de joelhos para perdoar minha falta, ele não poderia falar nesse momento. Meus olhos verteram novas lágrimas.
- Júlia? - ele me chamou. Não olhou para mim.
- Você vai se arrepender dessa escolha. - e partiu em sua moto deixando-me, com a situação e suas palavras, em pedaços.Fiquei parada vendo-o desaparecer pela avenida. Quando ele não estava mais visível, eu projetei meu corpo para frente. Com pressa de chegar ao meu quarto e chorar copiosamente, caminhei apressada pela calçada com a cabeça baixa. Quando cheguei ao condomínio, levantei o rosto, o suficiente para olhar melhor os degraus da escada, e estaquei.
Sentado na escadaria, encolhido, estava João Pedro. A cabeça abaixada fitando o chão. Seu rosto tinha uma expressão sofrida e verdadeiramente não entendi por que parecia tão deprimido. Seria por minha causa? Não importava. Nada importava. Eu estava destruida, destruída pelas mãos desse homem, e ao invés de largá lo eu...
João Pedro pareceu perceber minha presença, levantou seu rosto e me olhou surpreso. Eu o olhei por alguns instantes e logo mais segui a passos apressados para dentro do prédio. Ouvi passos atrás de mim, devia ser ele em meu encalço. Entrei em um elevador, queria me isolar naquele lugar, mas para minha infelicidade o mesmo conseguiu entrar comigo. Encostei me ao fundo do elevador, os olhos no chao, os braços cruzados em frente ao corpo, 0 choro severamente controlado. Mota estava em uma posição similar, mas olhava para mim, eu sentia.
"Não vou chorar! Não posso!" minha mente conseguiu controlar o corpo.
Ainda sim eu sabia que a qualquer momento eu poderia desmoronar. Eu precisava ficar só.
Quando o elevador abriu, sai em disparada para fora em direção a porta do apartamento. Eu a
abri e não me detive um só segundo, caminhei rapidamente para meu quarto sendo seguida. Fechei a porta assim que passei por ela. Olhando ao redor num exame para me certificar se havia alguém, e não havia, eu retirei meus sapatos rapidamente, assim como o casaco que eu vestia, escorreguei até o chão, sentando, me encolhi toda encostando minha cabeça nos joelhos e chorei tudo o que tinha de chorar.O que estava acontecendo com a minha vida? Como eu deixei de ser aquela Júlia bondosa de vida pacata e ser essa Júlia que está sempre sofrendo? E mesmo com tudo o que eu havia passado, eu não sabia se queria voltar. Isso tudo juntamente com o meu término com Lamar doía, doía muito. Por alguns instantes o único barulho a soar era o meu choro incontrolável. Após vários minutos um segundo barulho soou.
O barulho da porta não me fez parar de chorar. Agora que tinha começado eu não poderia frear. Meu choro foi se tornando mais e mais ruidoso enquanto eu pensava em como minha vida teria sido se eu tivesse escolhido Leonardo: nós dois num canto qualquer, felizes.
Eu não sabia se conseguiria ser feliz com João Pedro. Eu era um capricho dele. Ele poderia me chutar agora que eu o havia escolhido. Minhas mãos foram para meu cabelo. Eu os puxei querendo provocar dor em mim, uma dor que sobrepujasse a dor no meu peito mas não consegui. Ainda sim fiquei naquele estado lastimável de autoflagelaçao.
- Não, não faça isso. Não se fira! - João Pedro implorou pegando minhas mãos e tirando-as do meu cabelo. Elas caíram ao lado do meu corpo. Mota colocou suas maos no meu rosto e o ergueu. Meus olhos marejados insistiam em fitar o chao. Mais silêncio.
- Eu penso que se você tivesse escolhido Leonardo, você pegaria suas coisas e me deixaria com um sorriso no rosto. Mas, olhando para você agora, analisando seu comportamento... Para você estar tão triste, chorando dessa forma tão desesperada, você me escolheu, não foi? - João Pedro disse com brandura, seus dedos acariciavam meu rosto. Assenti vagarosamente ainda mantendo meus olhos no chão.
Ouvi sua risada baixa, contida, e entao fui puxada para a prisao dos seus braços.
A sensação de ser abraçada por ele atenuou um pouco a dor, mas não por muito tempo. A dor veio novamente me atormentar e parecia ficar ainda mais forte enquanto eu estava abraçada a ele. Tentei afastá lo, mas João Pedro não permitiu. Manteve-me em seus braços com força e suspirou aliviado.
- Eu estou tão feliz Júlia que eu... - sussurrou com a voz carregada de emoção.
Afastou se, mantendo-me ainda próxima, e projetou seu corpo para frente a fim de me beijar. Eu o detive, colocando uma mão em seu peito e a outra em seu rosto, meus dedos tocando seus lábios.
- Então aproveite a sua felicidade, por que você é o único a sentí-la. - murmurei levantando-me do chão .
Caminhei cambaleante até a minha cama e me joguei. O cansaço físico e mental me oprimiu prometendo, como consolo, uma noite sem sonhos. Eu precisava dormir; dormir para não pensar. Eu precisava de algo para aliviar a dor da incerteza, da perda, enfim, todas as dores que me atormentavam naquele momento. Apesar de não estar chorando com escândalo como outrora, meus olhos ainda vertiam lágrimas e tinha certeza que fariam isso até a inconsciência me tomar.
- Você vai ficar muito chateada se eu ficar aqui? - perguntou. Lembrei me que disse algo parecido naquela manhã, na fazenda. Continuei deitada de lado, olhando para a parede a minha frente, de costas para ele. Num fio de voz eu disse:
- Vou ficar muito chateada... Se você sair deste quarto. - não sei por que falei algo desse tipo, o mais natural era mandá-lo sair e ser engolida pela minha dor.
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"The contract" Adaptação Moju
FanfictionUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...