"Eu beijei suavemente seus lábios"

86 2 0
                                    

Maratona (3/15)

Um grupo composto por várias pessoas, à maioria homens, estava em frente ao prédio conversando ruidosamente. A tal Bela os cumprimentou e pareceu apresentar Júlia e a outra para o grupo. Por alguns instantes todos ficaram se cumprimentando em frente ao prédio, mas logo entraram.

"Uma festa? Franco foi fazer uma maldita festa no antigo apartamento?" pensei enquanto a fúria antes esquecida voltava com força total nublando minha mente.

Não demorou a eu ver as luzes do apartamento  se acenderem e barulhos virem daquele andar. Sim, Júlia Franco estava dando uma festa com um punhado de gente, a maioria homens, que ela conheceu um pouco antes de subir.

- Como é irresponsável! Depois de ter chegado tarde à empresa, ao invés de descansar, vai para outra farra! - resmunguei.

Eu sabia que eu não tinha o direito de ficar plantado ali em frente ao prédio jogando maldiçoes para ela e suas amigas por estarem aproveitando a noite e eu não. Meu celular vibrou no bolso. Devia ser Kate. Ignorei. Peguei o celular e o desliguei.

"Eu vou esperá la aqui. Desta vez eu tenho argumentos para contestá-la. Ela vai ver!" pensei cheio de satisfação.

- INFERNO! esbravejei socando o volante.

Eu já estava há vários minutos em frente ao apartamento . A festa ainda rolava lá em cima. Eu estava estressado, dolorido por ter passado tanto tempo sentado, faminto e sedento.

Eu precisava sair dali, comer algo, tomar um bom banho e dormir. No entanto eu não conseguia erguer a mão e girar as chaves do carro para partir.

"Por Deus o que eu estou fazendo?" minha consciência exigia uma resposta, mas eu não a tinha. Eu não saberia dizer o porquê de eu estar ficando tão obcecado por Júlia.

Por que eu não aproveitava este seu momento de abandono para tocar minha vida? Por que parecia que o afastamento dela estava me
prendendo ainda mais a ela?

Um movimento na entrada do prédio chamou a minha atenção. Estaquei ao ver Júlia saindo do local e pegando rapidamente um táxi. Olhei o relógio, ainda era cedo.

Estaria ela indo para casa? Eu duvidava. Tinha se tornado um hábito chegar tarde em casa a fim de se esquivar de mim e alguma coisa me dizia que hoje não seria diferente. Eu a segui sentindo as pálpebras um pouco cansadas pelo dia estressante que tive.

Não demorou ao táxi estacionar e definitivamente não estávamos próximos de meu apartamento.

A mesma desceu em frente a um bar, entrou no local. Estacionei em frente ao bar e, como as paredes da fachada e do bar eram de vidro, acompanhei seus movimentos. Ela se sentou em um banquinho no bar e conversou com o garçom, devia ter pedido algo para beber.

"Para Júlia ter saído do apartamento significa que a festa não está sendo ofertada por ela. Entao é assim que ela vai acabar a sua noite? Bêbada?”.

Sai do carro e entrei no bar, mas não me aproximei demais. Preferi sentar em uma mesa o mais afastado dela.

- Deseja algo senhor? - um atendente veio para o meu lado. Assustei me. Eu não havia notado sua aproximação concentrado demais em certas coisas. Olhei em volta, temia que Franco se virasse quando ouviu a voz do rapaz e me visse, mas ela estava concentrada demais em sua bebida.

- Traga uma água para mim, por favor. - pedi. O atendente franziu a testa pelo meu pedido, eu o ignorei. Fiquei à observando, a rapidez com que entornava a bebida que o barman trazia era impressionante.

"Por que ela está fazendo isso consigo mesma? O que ela vai ganhar bebendo desse jeito?”.

Eu sabia a resposta, mas não queria admitir que fosse o culpado por ela  estar assim tao entregue a destruiçao. Lembrei da Júlia anterior ao casamento, ela era menos vaidosa que esta nova, mas parecia mais feliz. Logo minha água chegou e eu a bebi sem vontade observando cada movimento de Franco.

Não sei quanto tempo se passou, mas logo vi Júlia curvasse sobre o balcão até tombar. Aquele era O momento para me aproximar. Levantei da mesa em que estava vendo ela inconsciente devido ao excesso de bebida alcoólica que ingeriu. O barman a sacudia tentando acordá la, na certa preocupado que tivesse de cuidar dela. Eu me aproximei cauteloso até ficar ao seu lado de frente para ela.

- Sua tola, o que você ganha fazendo isso com você mesma. - murmurei.

- O que disse senhor? - o barman perguntou.

- Nada. Ela é minha esposa. Vou levá la para casa. - eu disse começando a pegá la no colo. O barman me olhou desconfiado.

- Sua esposa, mesmo? - olhou para a mão de Júlia onde deveria estar a aliança.

Bufei.

- Veja na bolsa dela. Seu nome é Júlia Franco Mota. - eu disse. O barman olhou para a bolsa.

- Tudo bem. Tenha uma boa noite senhor. - ele disse sem se mexer, com preguiça demais para pegar a bolsa e verificar se o nome da moça em meus braços era Júlia. Com algum esforço eu peguei a bolsa e saí.

A noite estava fria, eu a mantive bem próxima a mim para aquecê-a. Felizmente o atendente do bar veio até mim e me ajudou a colocar ela no banco do carona. Afivelei seu cinto, dei uma gorjeta para o atendente e parti. Júlia dormia profundamente. Seu corpo inclinou se em minha direção. À Puxei um pouco para mim assim ela não correria o risco de chocar se com a estrutura do carro durante o sacolejar da viagem.

Enquanto dirigia para casa, meus olhos vagavam para a pista e para Júlia .

"Merda! Não sei o que fazer! Nunca passei por uma situação como esta.”

Não demorou nada a eu chegar a minha casa. Franco não dava sinais de que iria acordar então eu pude carregá la sem preocupações. Magdalena e Eli não estavam lá, isso era bom.

Levei Júlia até o seu quarto, eu a deitei em sua cama e a ajudei a ficar um pouco mais confortável. Retirei seus sapatos, casaco, blusa, calça, deixando-a apenas de calcinha e sutiã. Procurei não olhar muito o seu corpo temendo as reações que eu sabia que sentiria. Em minha mente ainda tinha sua imagem nua banhando-se.

Eu a embrulhei com o edredom. Ela remexeu se um pouco, mas logo estava ressonando.

Mesmo abatida pelo cansaço e pela bebida, Júlia ainda era linda. Eu senti que a enxergava pela primeira vez e acredito que isso não se devia a sua mudança de visual, mas sim a sua mudança de atitude. Eu não conseguia enxergar aquela Júlia apática de outrora, diferente de agora. Eu olhava aquela nova mulher com uma nova faceta e me sentia hipnotizado por ela, não era a toa que eu estava perturbado com tudo que acontecia.

Sentei na cama, próximo da mesma. Ergui minha mão e toquei uma mecha de seu cabelo colocando-a atrás de sua orelha. Meus dedos passearam pelo seu rosto da têmpora até o queixo. Sua pela era sedosa. Uma excitação me atingiu, mas nao procurei racionalizar muito sobre isso, nao naquele momento em que a mesma estava desacordada, vulnerável, diante de mim. Eu poderia fazer o que quisesse com ela sem que soubesse. A ideia me pareceu irresistível. Com toda a confusão que eu estava sentindo eu tinha que admitir que estar ali com a garota seminua era bem mais excitante que estar com Kate ou com prostitutas. Franco estava despertando, sem querer, algo em mim que eu não conseguia descrever.

Eu me inclinei na direção dela, minha mão segurou uma mecha de seu cabelo castanho, eu inspirei o aroma dos fios. Meus lábios chegaram mais perto até roçarem em sua bochecha esquerda bem lentamente.

“O que eu estou fazendo? Por que não consigo me fazer parar?" minha mente protestou enquanto meus lábios passeavam por aquela pele sedosa. E antes que a consciência chegasse até mim, eu beijei suavemente seus lábios cheios.

Foi o frenesi.

Tinha algo nos seus lábios, algo diferente, algo viciante. Como se o sabor de seus lábios que sempre foram bons no passado, estivessem com um sabor ainda melhor. Ela nao correspondia, ainda estava dormindo, mas isso nao fez com que o beijo fosse ruim.

À razao me encontrou enquanto eu estava ali, quase deitado sobre ela com meus lábios colados nos seus. Afastei me abruptamente enquanto as cenas do ocorrido vinham em minha mente deixando-me horrorizado.

O que diabos estava acontecendo comigo? Por que eu estava deixando o meu "eu" ser atingido por ela?

Saí do quarto o mais rápido que meus pés puderam correr. Fechei a porta do meu quarto e pus a mão na cabeça.

Eu dormi com a estranha sensação de que a mudança de Júlia Franco me levaria ao buraco.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora