"Vamos logo acabar com essa palhaçada!"

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Maratona = (10/15)

- Ah! Júlia! Você acordou! Eu estava levando café da manha na cama para você. - disse numa voz estranhamente afável. Levantei o rosto e me deparei com João Pedro.

Tinha uma cara feliz, estava vestido bem casual (calça jeans preta, camisa vermelha e tênis All Star preto). Fechei a cara de imediato. Ele caminhou até a mesa da sala de estar e deixou a bandeja com comida em cima da mesma.

- Já que você levantou, vamos tomar café aqui na sala? - afastou uma cadeira na certa para que eu me sentasse.

- Eu estou de saída. - disse querendo sair o quanto antes dali, mas Mota me parou segurando meu braço.

- Tome café comigo, por favor. Não custará nada pra você. Poxa, tive tanto trabalho para fazer! - resmungou. Eu o olhei, cética. - Ok, eu comprei tudo o que está aqui em cima da mesa. Não sei fazer nada. - confessou.

- Onde estão Magdalena e Eli? - perguntei sentando-me na cadeira ofertada por ele. Pela minha visao periférica eu o vi sorrir.

- Liguei e dei o dia de folga para elas. Quer que eu lhe sirva? - perguntou já segurando o bule com o café. Eu lancei um olhar irritado.

- Minhas mãos ainda funcionam, eu posso me servir sozinha. - esbravejei.

Mota congelou com meu ato, afastou-se do bule e se sentou no seu lugar, quase ao meu lado. Eu sabia que ele não merecia minha raiva, ele não havia feito nada. Eu sentia raiva de mim mesma por ter cedido tão facilmente. Durante alguns minutos ficamos em silêncio comendo. Jp me olhava o tempo todo, mas ignorei. Eu só queria comer e fugir dali, fugir das reações que a proximidade com ele causava em meu corpo.

- Minha irmã ligou. - disse subitamente. - Ela está na fazenda pertencente à família Mota juntamente com Pedro. Ela nos convidou para passar o domingo lá. Eu disse que iríamos.

Assim que o mesmo terminou de falar, eu parei de comer.

- Ligue e diga que você vai sozinho. Eu não pretendo sair com você! - eu olhei com raiva. Mota me olhou ressentido.

- Júlia, nós precisamos conversar. Você sabe disso. Então eu pensei que seria bom se fôssemos...

- Não precisamos ir para lugar nenhum para conversarmos! Podemos conversar aqui!

- Eu não quero conversar aqui sujeito a intervenção de qualquer um. Por favor, Júlia. - João Pedro me olhou suplicante. Eu odiava aquela cara de cão sem dono que ele fazia, me deixava vulnerável.

- Me dê uma boa razão para ir com você? - cruzei os braços em frente ao corpo.

- Eu não aceitarei conversar em outro lugar. - disse firme.

Eu poderia contestar mandá lo a merda e ir embora, mas eu precisava resolver tudo.

- Tudo bem. Aceito o convite não por você, mas pela Ana Júlia e pelo Pedro. Eu já recusei convites demais deles. - justifiquei.

Que ele não percebesse que havia mais coisas que me motivavam a aceitar. Eu não queria admitir para mim mesma que eu ia por ele, quem dirá admitir para o próprio João Pedro!

Levantei da mesa.

- Aonde vai? - Mota perguntou.

- Vou arrumar algumas coisas e fazer uma ligação. - disse seguindo para o meu quarto.

...

- Eu não acredito! Por que não é mais para eu ir buscá-la? - Leonardo perguntou irritado. Eu suspirei ao celular.

- Eu vou resolver minha situação com o João Pedro definitivamente. Sei que havia dito que resolveria depois, mas após o que aconteceu eu decidi resolver logo. Eu não quero ser a mulher leviana nessa história. É melhor resolver logo.

- Se você acha isso então tudo bem. Eu apoio a sua decisão. Júlia, você quer que eu esteja ao seu lado enquanto resolve sua situação com ele? Eu não me importo de...

- Não Leonardo! Fique aí. Eu resolvo sozinha. Ligo para você ao anoitecer.

- Ok. Eu espero que resolva mesmo sua situação. Eu não suporto mais tudo isso Júlia! - disse com agonia na voz.

- Eu sei, eu sei. Eu vou resolver. - falei nervosa.

Eu amo você. Não se esqueça disso. - Silêncio. "Vamos! Diga que o ama!" exigi de mim.

- Eu amo você. Agente se vê depois.

Desliguei o celular sentindo-me arrasada. Eu estava mentindo para ele? Eu ainda o amava? Se eu o amava, por que eu o traí?

A resposta estava diante de mim, mas eu me recusava a vê-la. Coloquei o celular em um bolso da minha pequena mala de viagem. Eu a peguei e sai pela porta do meu quarto.

Mota estava de pé encostado na parede ao lado da minha porta. Sua postura rígida e rosto enfezado deixavam claro que ele ouviu minha conversa a telefone. Eu não iria me abalar com isso.

- Vamos logo acabar com essa palhaçada! - disse dando passos firmes para a saída. - Hoje tudo isso irá acabar. - murmurei.

Por duas vezes, enquanto íamos para a garagem, captei sua mão aproximar se da minha, como se  quisesse pegá-la. Fiquei satisfeita por ele não ter ousado tanto.

Entrei em seu carro jogando minha pequena mala atrás no banco dos passageiros e ele fez o mesmo com sua pequena bolsa de viagem. Afivelei meu cinto e encostei minha cabeça no vidro da janela olhando para fora enquanto João Pedro ligava o carro tirando-o da sua vaga na garagem.

Tudo se resolveria hoje. Tinha que se resolver. Após o que aconteceu comigo e com Mota não poderíamos mais ficar do jeito de antigamente.

Pov's Mota

Durante alguns dias fui ignorado por Júlia, de novo. Eu entendia seu ato, ela estava irritada com o que fiz a Izabela. De qualquer forma eu estava tranquilo. A demissao dela de fato manteve Júlia mais em casa, o que era um alrvio.

Pensei... Já que ela não voltou a sair e se encontrar com o cara com quem ela ficou naquela noite, significa que ele não era importante.

E com o passar dos dias, o sábado chegou.

Eu sabia que tinha de dar o próximo passo, mas sempre me acovardava, deixava para o outro dia a conversa definitiva com Júlia. Isso me enervava, mas, mesmo que isso me incomodasse, eu não conseguia fazer algo. Havia contratado uma nova secretária, uma senhora de quarenta e sete anos super eficiente e feia. Ninguém nunca em sã consciência poderia dizer que tenho um caso com a senhora e isso poderia diminuir a raiva de Júlia; ela sabia que eu tive algo com Kate.

Talvez Júlia só estivesse sendo difícil comigo por que até então Kate trabalhava para mim. Eu esperava que as coisas melhorassem com minha decisão quanto à demissão de Kate.

Naquela manhã de sábado Júlia saiu antes de mim em sua moto. Cheguei um pouco tarde à empresa e nem pude falar com ela, sequer olhá la, pois tinha muitos compromissos naquele dia.

- Bom dia senhor Mota. - a nova secretária cumprimentou. Suspirei.

- Bom dia.

Dia atarefado, dia muito atarefado. Eu não tinha tempo para nada. Bom, era ótimo estar ocupado assim e deixar as decisões difíceis para depois. Eu pensei que tudo seguiria seu curso normalmente como tem sido nos últimos dias, mas não foi isso o que aconteceu. Entre uma reunião e outra, à tarde, passei no setor do RH e vi um rosto familiar. Sorri.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora