"Tomada por dúvidas e medos..."

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Pov's Júlia

Meus lábios sofriam uma delicada pressão com
um gosto adorável de menta. Minhas pálpebras tremeram e então abri os olhos encontrando um par de olhos Castanhos, me fitando. Ofeguei e num átimo eu me afastei de Mota.

- Mas o que...? - olhei envolta.

Era dia e eu estava no meu quarto. João estava vestido com roupas casuais, uma pólo azul e calça cáqui, diferente das roupas usadas quando vai a empresa. Ele ergueu se sentando na cama, rindo da minha expressão atordoada.

- Você fica uma graça com essa carinha atordoada, sabia? - disse-me reprimindo uma risada.

- Como eu cheguei aqui? A última cosia que me lembro é que eu estava no bar e...

- Não se lembra de que eu a trouxe de carro? Viemos para cá e os elevadores estavam com problemas por isso tivemos de ficar no hall de entrada por alguns minutos. Você estava exausta então eu a carreguei até o seu quarto e, bom, você tomou banho e trocou de roupa. - dizia com seus olhos fixos em mim, avaliando minha reação Nas suas palavras. - E, com a sua permissão, eu dormi aqui.

- Ah, tá. - foi tudo o que consegui dizer. Continuei a olhar para o meu quarto, distraída, e naquele momento olhei o relógio no criado mudo. - MERDA! PORCARIA! - esbravejei pulando da cama. Por pouco meu desequilíbrio nao se transformou num violento tombo.

- O que foi? - perguntou enquanto eu arrancava meu pijama já correndo para meu banheiro.

- Tô atrasada! Porcaria! Por que não me chamou? Se você não está a fim de trabalhar eu tô! - gritei enquanto abria o chuveiro e entrava.

João Pedro me acompanhou até o banheiro. Só então percebi que eu estava nua dentro do Box transparente e o mesmo estava me encarando. Pensei em expulsa-lo de lá, mas estava tão atarantada pelo meu atraso que não liguei. Continuei a dar atenção ao meu banho.

- Não precisa se preocupar. Já comuniquei sua falta para o RH. Você não precisa ir hoje.  - disse. Eu o olhei com desagrado. Ele olhava boquiaberto para meu corpo e então, percebendo a gafe, virou se de costas.

- Desculpe, eu... - murmurou constrangido. Na certa pensando que meu aborrecimento se devia ao fato dele estar de pé me olhando tomar banho.

- Pouco me importa se você está aí plantado me olhando nua. Até parece que já não conhece cada centímetro do meu corpo! O que eu não me conformo é que você poderia ter me chamado e não o fez. - disse enquanto colocava shampoo em meus cabelos.

Cautelosamente, Mota entrou no banheiro e sentou se em um banco que lá havia.

- Você estava exausta ontem. Eu achei que seria melhor deixá-la descansar por mais de oito horas para recuperar as energias. Ora vamos não adianta se desesperar agora! Você vai estar atrasada demais a essa altura!

E ele tinha razão, claro. De que adiantava me arrumar e sair correndo para a empresa naquele horário? Eu não chegaria nem antes do horário do almoço! Suspirei pesadamente ante a constatação.

- Eu não vou ficar o dia inteiro aqui em casa.
- reclamei enquanto deixava a água morna do chuveiro retirar os vestigios de shampoo no meu cabelo. - Eu não estou habituada a ficar aqui, ainda mais a toa. - peguei a esponja e o sabonete líquido a fim de limpar o meu corpo.

- E quem disse que ficaremos aqui? Ana Júlia retornou da fazenda e nos convidou para almoçarmos em sua casa. Arrume-se e iremos para lá.

- Ana e Pedro retornaram? - perguntei olhando-o. Pude ver que Josh evitava olhar para mim diretamente, seu rosto corado.

- Sim. Era para ser um jantar, mas como vieram cedo será um almoço. E então? Você já recusou muitos convites de minha irmã por motivos óbvios, mas agora não tem por que recusar.

- Eu sei que não tenho. Tudo bem eu vou com você. Agora pode me dar licença? Eu quero me arrumar. - pedi. E ele prontamente me atendeu.

De fato agora que Mota e eu havíamos nos entendido não havia motivos para me esquivar de sua família. Tentei me concentrar em meu banho, mas como sempre minha mente seguia por um rumo diferente do que eu queria, pensando na figura.

João Pedro me esperava na sala. Magdalena e Eli estavam na cozinha atarefadas com seus afazeres diários. Primeiramente eu as cumprimentei e só depois fui ao encontro de Mota. Eu estava vestida com um vestido azul e sapatos brancos que havia encontrado em cima da minha cama. Acredito que ele deixou as roupas lá para que eu as vestisse; certamente as comprou antes.

Quando me viu trajando as roupas com que me presenteou, João Pedro pareceu em júbilo.

- Que bom que está com as roupas que comprei! Pensei que as recusaria. - disse enquanto se levantava do sofá.

- Eu estava com preguiça de catar algo para vestir no closet. Afinal de contas quando você comprou isso? - apontei para o vestido tomara-que-caia azul anil. O mesmo me olhou atentamente e entao seus olhos perderam um pouco o foco, como se estivesse imerso em pensamentos.

- Foi há muito tempo. Esse presente estava guardado no meu closet. Eu os achei essa manhã enquanto me vestia. Você gostou dos vestidos e do sapato? Achei bonito e essa cor fica maravilhosa em você. - tomou minha mão despreocupadamente, seus olhos em mim.

Eu estava embasbacada. Era a primeira vez que João me dava um presente sem nenhuma pretensão. Das outras vezes me dava coisas para um fim, como o dia em que me pagou para acompanhá-lo em um evento bancando roupas, jóias e produção.

- Hmmm... Obrigada. - murmurei sem graça.

- Vamos então? Já está tarde e você deve estar com fome visto que pulou o café da manhã. - puxou minha mão até seus lábios e a beijou.

Eu o olhei sentindo-me desnorteada. Mota me puxou para a saída despedindo-se de Magdalena e Eli e então fomos para o seu carro estacionado na garagem do condomínio.

João Pedro havia mudado e para melhor. Agora ele era exatamente o marido que desejei. Era estranho, perturbador. Eu passei tanto tempo acostumada ao seu cinismo de outrora que me custa acreditar que de fato ele mudou. É mais ou menos como se eu estivesse assistindo a um filme em que o próprio é bondoso e parece me amar.

E mesmo tomada por dúvidas e medos...

- Você está muito calada. O que houve? Ainda está se sentindo indisposta? - perguntou. Eu o olhei.

- Não é nada. Eu estou bem. Eu só não tenho o que falar. - disse tentando mostrar calma quando na verdade algo explodia dentro de mim.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora