"Sai do quarto sem conseguir tirar os olhos dela "

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Eu andei cautelosa até o seu carro. O rapaz moreno se apressou em sair e abriu a porta para mim.

- Senhorita - cumprimentou divertido Eu sorri.

Obrigada - disse. Logo o rapaz entrou sentando em seu lugar. Izabela aumentou o som do carro e acelerou.

Minha noite só estava começando.

Pov's Mota

"Aproveite o jantar." murmurou com a voz sedosa, algo que me surpreendeu.

Saiu sem mais delongas deixando um rastro de
seu perfume pelo corredor. As lembranças de Júlia estavam vividas. O olhar, as palavras, o cheiro, tudo ficou marcado. Eu ainda estava digerindo o que vi e ouvi.

- João tudo bem? - Pedro perguntou.

Naquele momento percebi que estava na casa de Ana Júlia bebendo uísque com Pedro. Suspirei. Eu não devia deixar um fato insignificante me atingir, mas lá estava eu abobalhado com o fato.

- Eu estou um pouco cansado. Só isso - disse servindo o restante de meu drink.

- Ea Júlia, por que não veio? - ele perguntou. Dei de ombros.

- Ela estava cansada e decidiu ficar - disse. O que eu queria dizer era...

ELA DEVE ESTAR SE ACABANDO EM UMA BOATE!

O pensamento era difícil de acreditar, mas não consegui pensar em mais nada. Para onde ela iria com aquelas roupas? Para a igreja? Eu duvidava. Sem perceber meus pés batiam o piso e minhas mãos tamborilavam no braço da almofada. Ana Júlia apareceu do nada, bonita, com um vestido chique demais para um jantar em família.

- Boa noite! Espero não ter demorado. - disse. Pedro se pôs de pé e a beijou carinhosamente.

- Está linda - murmurou.

Olhei para o outro lado segurando a ânsia de vômito. Odiava presenciar casais apaixonados. Fiquei olhando o nada esperando pela fúria de minha irmã ao perceber que eu não tinha trazido a Cunhadinha dela, ou melhor, que Júlia nao quis vir.

- JOÃO PEDRO! CADÊ A JÚLIA? - gritou histérica.

Não veio, estava Cansada - menti sabendo que ela não acreditaria.

- Mentiroso! Não acredito que não a trouxe! Eu vou ligar para ela! - ameaçou caminhando para seu quarto a fim de pegar o celular. E eu sabia que teria um jantar daqueles!

Definitivamente deveria ter ficado em casa.

Ana contou com detalhes sua viagem com Pedro. eu fiquei encarando a comida. De vez em quando ela comentava que não conseguiu falar com Júlia pelo celular e blá blá blá. CHATISSE! Se já não bastava Franco e seu teatrinho de "foda se maldito" pra mim agora tinha que ouvir minha irmã e seus sermões de "você é um péssimo marido!”".

Tentei me concentrar em qualquer coisa como a conversa tediosa, a comida boa, o sexo que eu tive com Kate ontem... Mas inevitavelmente meu pensamento vagava para ela. Nunca Júlia Franco tinha agido daquela forma. O que havia acontecido com ela?

Eu iria descobrir, assim que o jantar acabasse o que não demorou.

...

Olhei o relógio. Quatro e quarenta e oito da madrugada. Franco não havia voltado ainda. Tentei dormir, tentei. Não consegui. E embora nunca fosse admitir era a preocupação que não me deixava pregar o olho. Júlia não estava muito normal quando partiu, poderia estar por ai em algum apuro.

"Vou ter que sair para procurá la. Se acontecer algo a ela..." pensei levantando-me da cama e caminhando para meu closet.

Ana Júlia dissera que ligou, mas Júlia não atendeu. Certamente não me atenderia também. Seria melhor procurá - la muito embora eu não soubesse onde começar a procura.

Não precisei sequer retirar a primeira peça do meu Pijama. Um barulho chamou minha atenção. Parei o que estava fazendo e olhei para a minha porta. Não pensei duas vezes, rapidamente rumei até a sala. Queria ver Júlia, temia que não fosse ela. Temia que tivesse acontecido algo a ela.

A primeira coisa que senti foi alívio. Era ela afinal. Entrou trôpega pela porta fechando com dificuldade a mesma. E entao o alívio foi substituído pela irritação. Estava visivelmente bebada. Eu me preocupando com ela enquanto ela ficava de farra por ai?

Ela caminhou apoiando-se nas paredes. Por alguns instantes pareceu não me notar ali, em pé, próximo a ela. Ergueu a cabeça tentando enxergar naquela penumbra. De fato estava um pouco escuro, mas eu conseguia vê-la. Liguei a luz com um comando de voz e então ela pôde me ver.

Seus olhos castanhos fixaram nos meus. Estava um pouco suada, as vestes amassadas, a maquiagem um pouco borrada e os cabelos em desalinho. Estava definitivamente em alguma farra.

Júlia ... - comecei, a voz alterada, pronto para lhe dar um sermão, mesmo que eu não fosse a pessoa mais indicada.

A mesma tentou ficar ereta e olhou não para mim, mas através de mim como se eu não estivesse diante dela. Novamente eu era invisível para ela, como aconteceu antes dela  sair de casa. Tal percepção do fato me incomodou e isto era frustrante. E então ela desabou. Se eu não tivesse sido rápido em
pegá la, Júlia cairia no chão.

- Júlia! Droga! - praguejei ajeitando-a até que pudesse erguê-la.

Quando o fiz me apressei em levá la ao seu quarto. A mesma murmurou palavras desconexas, seus olhos fechados. Pareceu voltar a si quando eu a deixei em sua cama.

- O que deu em você? Por que bebeu? - falei numa voz refreada. Eu sabia que ela não poderia me ouvir, bêbada como estava.

Subitamente começou a tirar peças de roupas.

Eu fiquei parado diante dela sem saber o que fazer. Quando trajava apenas uma lingerie, Franco deitou se. Fechou os olhos rapidamente. Eu acompanhei a cena toda atordoado. Jamais imaginei que um dia testemunharia um porre da perfeita Júlia Mara Franco. O que havia dado na garota? Teria se tornado usuária de drogas ou algo assim?

Ela adormeceu diante de meus olhos incrédulos com a sucessão de fatos. Eu a vi estremecer pelo frio. Procurei cobrí la com o edredom e passei uns bons minutos fitando seu rosto, tentando entender o que foi tudo aquilo? Surto psicótico? Possivelmente.

Catei suas roupas que estavam no chão colocando-as em uma poltrona afastada da cama. Sai do quarto sem conseguir tirar os olhos dela que agora ressonava tranquila. Alguma coisa estava acontecendo, alguma coisa se movia por debaixo dos meus pés.

Senti que isso era só a ponta do iceberg.

Era de dia. Eu não havia dormido bem. O cheiro de Júlia ainda estava em mim. Definitivamente deveria ter trocado de pijama. Levantei cansado, irritado, para mais uma manhã. Eu queria que ela me esclarecesse os fatos, dissesse o que deu nela, mas eu não deveria perguntar.

Franco poderia interpretar meu ato como preocupação, como um modo de demonstrar carinho. Eu não poderia esquecer me de ser frio, eu ainda tinha um plano a seguir. Mesmo que o ato da noite passada de Júlia tivesse fugido do meu planeiamento. Eu nao iria me alterar.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora