"Game over"

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Maratona = (9/15)

Prazer

Desejo

Calor

O céu

- Ahhh! - arfei abraçando João Pedro fortemente a mim, atando-o com meus braços e pernas. Ele abraçou me também aumentando a colisão de nossos corpos e chegando ao ápice juntamente
comigo.

Estávamos suados, cansados, arfantes e Mota me preenchia todo. Havia tanto dele em todo o lugar! O prazer me dominou. Fechei os olhos, relaxei, sorri. E então, pouco a pouco, como ácido que corrói a carne, a verdade foi chegando.

A racionalidade me atingiu com uma força incapacitante. Abri os olhos e encarei o teto, atônica. O que eu havia feito comigo, com Leonardo? Como eu pude? Como pude me deixar ser seduzida por ele? Como pude ser tão fraca? Meus braços e pernas deixaram de envolvê-lo. João Pedro saiu de cima de mim dando-me espaço para respirar. Eu não perdi tempo. Apos me libertar do peso de seu corpo, que até entao comprimia o meu na cama, eu me afastei, arrastei-me até ficar bem próxima da ponta da cama oposta a ele e fiquei de costas para o mesmo, em posição fetal.

Meu corpo tremia, mas não era pelo prazer que a pouco senti e sim pelo desespero, pela tristeza, pelo arrependimento, pela vergonha. Eu tinha raiva, não de Mota por ter se aproveitado de minha fraqueza, mas de mim mesma. Apesar de saber o quão errado foi me entregar a ele, ainda sim eu me sentia feliz por ele ter me tomado, por ter sido o primeiro.

Eu era nojenta, nociva, repulsiva. Eu queria chorar, mas não conseguia derramar uma lágrima sequer, chocada demais com os últimos acontecimentos para ordenar ao meu cérebro para fazê-lo. Eu não me importei de estar em sua cama, nua, com a pele exposta para o vento invernal que penetrava o quarto por alguma janela aberta. Eu não ligava para mais nada. Tudo estava acabado para mim.

Senti o edredom deslizar pela minha pele; João me cobria. Deitou se de lado, atrás de mim, perto o suficiente para eu sentir sua pele nua ainda em chamas. Abraçou me por trás.

Eu continuei na mesma posição sem me importar em virar e corresponder ou sair correndo dali.

Game over

Eu dormi. Eu dormi na cama dele. Pensei
que, após a noite que tive com ele, eu não conseguiria dormir com a consciência tão pesada. Espreguicei me na cama e afastei o edredom que me cobria. Quando olhei para o meu corpo nu, com algumas marcas da noite passada, senti uma revolta tão grande de mim mesma!

Sua idiota! Estúpida! Como pôde! protestei para mim jogando-me repetidas vezes de encontro à cama, querendo me punir fisicamente pela minha fraqueza.

Cheguei a me socar duas vezes no rosto. E então percebi que não adiantaria. Ficar me punindo não traria minha virgindade de volta.

Sentei na cama e olhei para a janela, as cortinas afastadas, para constatar que o Sol já havia raiado e que devia ser tarde. Levantei logo em seguida, eu precisava de um banho. João Pedro não estava na cama, não estava em lugar nenhum do quarto.

“Aposto que se mandou! Conseguiu o que queria e foi se vangloriar em algum lugar. Eu mereço!" eu pensei cheia de revolta.

Cruzei nua o quarto e o corredor, entrando em meu quarto. Não havia ninguém lá. Pretendia entrar no banheiro, mas vi algo no chão, em cima da minha cama, ao lado da minha bolsa: meu celular.

- MERDA! - corri até a cama e o peguei.

O celular estava desligado. Estranho. Ele deveria estar ligado. Eu o liguei e rapidamente vi milhares de mensagens e chamadas não atendidas de Leonardo. Estremeci. Eu havia esquecido completamente dele.

"Eu to perdida!" disquei o número enquanto pensava em uma desculpa.

O que diria a ele para justificar a minha falta? A verdade? Não, eu não poderia dizer a verdade. Ele me odiaria; ele me enxotaria de sua vida. Este pensamento deveria causar pânico em mim, perder Leonardo, mas não senti nada. Isso era o pior. A noite com Mota havia me modificado tanto assim? Leonardo atendeu. Olhei o celular sem saber o que fazer. Lentamente coloquei o celular no ouvido.

- JÚLIA? É VOCÊ? JÚLIA! - gritava em agonia. Foi difícil balbuciar algo, mas consegui.

- Leonardo?

- JÚLIA, ONDE VOCÊ ESTÁ? O QUE ACONTECEU COM VOCÊ?

- Leonardo, acalme-se. Eu estou bem.

- POR QUE NÃO ME ATENDEU? TEM IDEIA DO QUÃO PREOCUPADO EU FIQUEI?

- Desculpe, eu tive um imprevisto...

- QUE TIPO DE IMPREVISTO É ESSE? - ele estava furioso. Sua fúria não ajudaria em nada na nossa conversa.

- Eu tive... Tive um problema com o João Pedro. Não pude ir ao nosso encontro. Desculpe.

- Problema com João Pedro? Que tipo de problema? - perguntou numa voz um pouco mais composta.

- Eu discuti com ele ontem e... - eu me calei. O que eu diria? "Nós discutimos e depois transamos?”.

- E? - me incitou a continuar. - JÚLIA , ele fez algo contra você? Conte-me. Se ele a machucou eu vou...

- Não! Eu tô bem! Olha, eu peço perdão mesmo. Com toda a confusão de ontem eu me esqueci de manter o celular por perto para falar com você. Eu sinto muito. - murmurei sentindo a voz sumir. Eu estava enganando ele, a pessoa mais decente que conheci depois dos meus pais e de Duda. Leonardo suspirou.

- O importante é que você está bem. Eu fiquei muito preocupado, procurei você e liguei para você. Cheguei a procura-lá na casa do João Pedro, eu fui até o seu apartamento, mas nao me deixaram subir. O recepcionista disse que muito provavelmente vocês não estavam no apartamento já que ninguém atendia ao telefone. - pensando na noite passada, não me lembro de ouvir telefone tocando.

- Eu peço perdão. Façamos o seguinte eu vou tomar meu banho e me arrumar. Venha me pegar aqui em casa. - eu não tinha certeza se era isso o que eu queria, estar com Leonardo, mas não queria encontrar com João Pedro e seu sorriso "eu venci você”.

- Tudo bem então. Eu ligo quando estiver aí no seu prédio. E vamos conversar sobre o que aconteceu ontem.

Estremeci. Eu não conseguiria mentir para ele, infelizmente.

- Ok. Até mais.

- Eu amo você Júlia. - ele disse numa voz afável esquecendo-se de minha falta.

Minha voz ficou presa na garganta.

- Eu... Eu também. - murmurei. Desliguei o celular.

Definitivamente eu queria que a terra me tragasse.

Banho tomado, vestida com roupas bem simples (calça jeans, camiseta branca, sandália vermelha) e com a minha bolsa, eu segui para fora. Eu segui pelos corredores do apartamento, mas não passei da sala de estar. Quase me esbarrei com alguém que carregava uma bandeja com café da manhã.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora