"Ver a aliança em seu dedo mexeu comigo"

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Após o cavalo ser selado, segui sem rumo certo pela imensidão da fazenda. Embora o dia estivesse lindo e o passeio fosse agradável, eu não via nada. As mensagens de Leonardo mostrando sua preocupação e o seu amor me deixou mais para baixo do que qualquer coisa. Bom, ao menos elas me trouxeram de volta, ressuscitou minha racionalidade. E eu sabia o que faria quando João Pedro acordasse.

Segui sem rumo e parei quando me vi suficientemente afastada da casa grande. Sai de cima do meu cavalo e o amarrei próximo a mim. Deixando-o pastar por aí. Sentei embaixo de uma árvore frondosa e me acomodei o melhor que pude. Meu corpo quase deitado, meus olhos perdidos na imensidao de verde e azul da terra e do céu.

Mota havia dito que me amava, pediu perdão e prometeu me tratar bem. Isso não era o suficiente pra mim. Ele poderia estar todo amoroso agora, mas eu não tinha garantias se ele continuaria assim após eu deixar Leonardo. Mesmo que meu amor por João Pedro fosse maior, era com Leonardo que eu iria ficar.

Claro que só iria ficar se ele me perdoasse.

Eu rezava para que fosse esse o caso. Perdida em devaneios, não percebi que os minutos se passavam. Ouvi um barulho continuo e ao longe pude ver João Pedro, montado em um cavalo, vindo até mim. Suspirei. Mota havia sido difícil todo esse tempo, não seria fácil ele aceitar minha decisão. Aproximou se e desmontou o seu cavalo amarrando-o no mesmo galho que amarrei meu cavalo. Veio sorridente para mim.

- Júlia, amor, eu estive a sua procura. Minha irmã e Pedro me disseram que você havia saído para um passeio. Por que não me avisou? Eu teria tido o maior prazer... - viu o meu rosto que não deveria estar bom. Continuou relutante. - Teria tido o maior prazer em acompanhá lá. - murmurou tenso. Eu continuei a olhar para o nada, alheia a sua presença.

- Eu queria ficar sozinha. disse. - Jp se aproximou a passos lentos.

- Quer ficar sozinha agora? - perguntou.

- O que você acha? Claro que quero ficar sozinha! - esbravejei.

- Vai ficar com raiva de mim se eu forçar a minha presença aqui? - perguntou já se instalando ao meu lado, sentando-se. Bufei.

- Com certeza.

- Que pena, porque eu não pretendo sair daqui.

Eu o olhei com incredulidade. Como João Pedro ainda me obrigava a aceitá lo por perto? Ele olhava para frente. Subitamente pegou algo do bolso do seu jeans azul e colocou entre nós dois.

- Seu celular. - apontou para o aparelho. Eu o peguei. - O tal Leonardo mandou uma mensagem.

- Não tinha o direito de mexer nas minhas coisas. - guardei o celular no bolso do meu casaco. Tentei ignorá lo o quanto pude, mas é claro que ele não deixaria aquele silêncio pairar.

- Contou a ele? - perguntou. Seu rosto rígido enquanto olhava para frente.

- Não interessa a você.

- Acho que me interessa e muito. - virou-se me olhou cheio de frustração. Eu o olhei e sorri. O mesmo me olhou com confusão.

- Você acha que o fato de termos dormido uma vez...

- Duas. Não que eu esteja contando. - falou com um ar de deboche.

- Que seja. Não mudou nada. Você só adiou por uns dias minha decisão. E agora vou fazer o que é certo. - levantei. Fui para perto do meu cavalo e desatei o nó a fim de deixá lo livre e montá lo. Mota levantou se tambem.

- O que é o certo? - perguntou numa voz falha. Parei de ajeitar a cela para responder a sua pergunta.

- Estou voltando para a cidade. Avisei a Leonardo e provavelmente encontrarei com ele hoje. Você pode ficar aqui com a sua irmã, posso voltar de táxi. - montei em meu cavalo rapidamente. - Vou arrumar as minhas coisas e partir o quanto antes.

Segurei as rédeas direcionando meu cavalo para a direção desejada. A voz dele me deteve.

- Eu vou com você. - disse e pelo barulho já devia estar em seu cavalo.

- Não precisa se prestar a isso. Eu posso muito bem...

- Eu vou com você, querendo ou não. - disse num tom ríspido e cavalgou mais rápido do que eu, desaparecendo de vista.

Procurei ignorar sua reação. Eu tinha que manter minha mente limpa, o mais limpa que pudesse, para fazer o que deveria ser o certo.

...

- Obrigada por tudo Ana e Pedro Desculpe qualquer incômodo.

- Imagine! Venha outras vezes, foi muito boa a sua visita. Espero que sua mão melhore. - disse.

Desviei meus olhos de Ana e olhei minha mão coberta por atadura, a mão que usei para esmagar uma taça. Sorri para ela. Pedro colocava minha mala do porta malas do carro de João Pedro. Olhei em volta.

- Onde está o João Pedro? - perguntei.

- Deve estar pegando suas coisas. Eu vou chamá lo. Ana Júlia entrou novamente na casa. Pedro, após colocar minha mala, veio para o meu lado.

- Obrigada Pedro. - sorri. Ele devolveu o sorriso.

- Disponha. Espero que venha aqui mais vezes. Ficaremos aqui durante toda a semana então, se desejar, volte no próximo final de semana.

Eu não poderia prometer tal coisa, mas não queria dizer algo que gerasse perguntas. Assenti. Após alguns minutos de espera, decidi entrar no carro e esperar. Logo João Pedro entrou no carro após colocar sua mala no porta malas e fechá lo.

Mota estava sombrio, não disse nada durante todo o trajeto. Seus olhos focalizados apenas na estrada. Agradeci. Eu não queria falar sobre nada, nem havia necessidade após nossa conversa de ontem. João Pedro não disse nada, mas eu disse tudo o que estava entalado. Procurei ficar na minha, olhando a paisagem que a minha janela proporcionava.

Só houve um momento em que olhei para ele, não para ele, mas para um objeto na sua mão. Parando para pensar aquela foi à primeira vez que notei que João Pedro usava a sua aliança. E eu nem sabia onde estava a minha (joguei em algum canto em seu apartamento). Ver a aliança em seu dedo mexeu comigo, tanto que nem notei o tempo passar.

Assim que o carro adentrou a garagem do apartamento e ele estacionou, saí do carro pegando minha mala e subindo. Mota procurou me acompanhar, pegamos o elevador juntos. Eu podia sentir a tensão no ar, mas procurei relaxar, ou pelo menos fingir.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora