"Gosta do seu emprego rapaz?"

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Porém eu também tinha os meus para agir com certa indiferença. Fechei os olhos, passei as mãos pelo meu cabelo querendo me tranquilizar.

- João, eu entendo seus motivos para agir assim, para estar aborrecido, mas você precisa entender os meus que são muito mais lógicos que os seus. Tudo aconteceu rápido demais, entende? Eu ainda estou atordoada. Eu preciso de um tempo. Não prometo que tudo será perfeito, só seria perfeito se o passado fosse apagado, mas eu prometo tentar um pouco a cada dia.

- Eu sei Júlia, mas eu... Eu queria pôr um ponto final. Eu queria tê-la como eu sempre desejei. Esperei muito por isso. - ele se mostrava frustrado, vencido pelos meus argumentos. Eu sabia que ele estava infeliz com meus atos.

- Sabe há quanto tempo eu desejo você? Eu desejo há muito mais tempo, desejei mesmo quando você me destratava. Então sua espera não é nada se comparada com a minha. - a mágoa era evidente em minha voz.

O mesmo calou-se, claro. Pareceu ficar entregue a pensamentos por alguns instantes. Subitamente ele ofereceu sua mão, seus olhos em mim. Eu a segurei e fui puxada para os seus braços.

A princípio eu fiquei tensa, mas rapidamente relaxei nos braços dele. Inspirei seu cheiro, um cheiro delicioso. Eu me sentia bem ali com aquela estranha sensação de que aquele era o meu lugar. A cabeça de Mota inclinou se e senti no ombro um beijo. Fiquei surpresa com o surto de paz que senti, ali, presa naquele elevador com João Pedro... Presa...

João? - eu o chamei num fio de voz. Ele migrou seus lábios para a minha mandíbula.

- Sim? - sua voz fraca, os olhos fechados.

- Você não tinha problemas com lugares fechados?

Quando fiz essa pergunta ele se afastou. Olhou para mim evidentemente desconcertado.

- Bem... Eu... - e então eu percebi: ele havia mentido no dia em que ficamos presos nesse mesmo elevador.

- VOCÊ...! - eu o empurrei apertando o botão de emergência. O elevador voltou a funcionar.

- Eu menti por uma boa causa amor. Eu precisava conhecê-la e não sabia como me aproximar.

- BOA CAUSA O ESCAMBAL! EU QUASE MORRI DE PREOCUPAÇÃO NAQUELE DIA IMBECIL! - gritei sem me importar se alguém de alguns dos andares ouviria.

- Poxa amor não fica assim! Nunca contou uma mentirinha para conhecer alguém por quem se interessava? - virei para João Pedro ante sua pergunta. Minha cara irritada respondeu ao questionamento. - Eu acho que não.

O elevador se abriu e segui para fora, a passos apressados.

- Acho que não é um bom momento para convidá la para jantar, não é?

Sem olhá-lo, mandei o dedo do meio para ele e
fui para o corredor que levaria ao RH, precisava justificar minha falta. Ouvi a risada dele e então cada um seguiu com sua rotina.

- Eu estou... Eu não sei o que dizer. - Duda murmurou.

- Eu sei. Eu também não acredito em tudo o que aconteceu. - confessei tomando um gole do meu suco. Estávamos no refeitório e eu havia contado tudo a Duda. Ela estava tão surpresa que ignorou a comida.

- Eu sei o que vai dizer. Eu sei que eu fiz besteira escolhendo João Pedro, teria sido mais sensato ficar com Leonardo e...

- Júlia?

- Que foi? - eu a olhei, mas não vi julgamento em seus olhos. Evelyn sorria.

- Você está feliz? - perguntou. Abaixei a cabeça.

- Infelizmente sim.

- Então está tudo bem. Estará tudo bem desde que você esteja feliz.

- Pensei que você me censuraria.

- Ah, isso eu deixo com a Bela quando souber. Ela sim vai censurá la.

- Nem me fale. Izabela vai me matar, isso sim. - apoiei minha cabeça em uma mão.

- Não se preocupe com o julgamento dela. Diga que João Pedro é bom de cama e ela deixará para lá.

- Você acha? - perguntei entre um riso e outro.

- Certeza amiga. Agora vamos terminar de comer.

Assim sendo continuamos nossa refeição e o assunto, para a minha felicidade, migrou para Duda e seu relacionamento com Gab. Pensei que falar sobre ela seria bom, mas ao saber de como ela e Gab eram felizes, eu me senti mal. Eu me perguntava se algum dia João Pedro e eu seriamos assim, ou se nosso relacionamento conturbado estava fadado ao fracasso.

Pensava em Leonardo. Nas mãos o meu celular e no visor as mensagens que Ele enviou durante nosso tempo de namoro. Eu queria ligar para ele, suavizar os danos que causei.

"Você não pode fazer nada, pelo menos não por enquanto. O melhor é deixá lo em paz”.

Meus pensamentos eram racionais, mas minha vontade não. Disquei os dois primeiros números e quando ia discar o terceiro...

- Ocupada?

A voz masculina, tão próxima, me sobressaltou. Meu celular escapuliu das mãos e caiu no carpete.

- Que susto! - esbravejei. Quando notei que a pessoa que me observava era um estranho, procurei me recompor. - Desculpe. Eu estava...

- Tudo bem. Eu é que peço desculpas. - o sorriso do rapaz era simpático, apesar da minha rudeza.

- Deseja algo? - perguntei voltando minha atenção para o meu trabalho.

- Eu estava pensando se você poderia ceder está cadeira que não está sendo ocupada. apontou para cadeira que antes pertencia a Bela. Por um descuido meu eu quebrei minha cadeira agora a pouco. - Ah, meu nome é Demetri.

Demetri entrou em meu cubículo e ofertou sua mão Aceitei o cumprimento.

- Júlia e pode pegar a cadeira se quiser. Está sem uso

- Obrigado. - mas ao invés de pegar a cadeira e sair, Demetri sentou se nela e virou se para ficar de frente para mim.

- Sou novo por aqui.

- Sério? Realmente nunca o vi por aqui. De qual setor faz parte?

- Sou do setor artístico da empresa. - Demetri disse com seus olhos em mim.

- Do mesmo setor da Maria Eduarda. Você a conhece?

- Acho que sei quem é. Ela é a funcionária mais competente de lá. E você é do setor contábil, certo? - o sorriso de Demetri era bonito, sua postura despreocupada interessante.

- Estou interrompendo alguma coisa? - Demetri e eu nos viramos para ver quem nos interrompia, embora eu soubesse quem era.

- Senhor Mota. - Demetri balbuciou. Levantou se e ofereceu a mão para um cumprimento. - Oi. Eu sou novo aqui. Meu nome é... - Demetri abaixou a mão ao notar a postura defensiva, hostil de João Pedro. Os olhos de Mota fixados no crachá do rapaz.

- Gosta do seu emprego rapaz? - João Pedro perguntou. Demetri assentiu confuso. O rosto de Mota assumiu uma expressão maliciosa. - Que pena para você. - disse num falso lamento retirando o crachá do rapaz.

Eu entendi o que ele pretendia.

Levantei de minha cadeira e arranquei o crachá das mãos dele. Devolvi a Demetri.

- Agente se vê. - disse sorrindo. Demetri, confuso e um pouco temeroso, afastou se. Olhei raivosa para Mota.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora