"Eu precisava de Júlia Franco"

52 1 0
                                    

- Você é sempre irritante quando está feliz? - perguntou. Meu sorriso deve ter se ampliado.

- Não, eu sou irritante quando estou amando. - confessei feliz por poder dizer sem problemas que eu a amava, livre dos bloqueios de antes. - E então?

Olhei para seu rosto, seus lábios. Eu queria me perder neles novamente, tantas vezes quanto possível. Eu me aproximei, mas infelizmente ela captou minha intenção e me brecou colocando a mão em minha boca.

- Se eu não estiver muito cansada eu irei. Agora vá trabalhar. - falou autoritária seguindo para a sua mesa.

Eu sabia que com um pouco de pressão ela cederia.

Caminhei até ela e me curvei para uma Júlia de costas. Eu me aproximei de seu pescoço inalando seu doce perfume. Beijei sua nuca sentindo em meu: lábios sua pele em brasas. Ela estremecia, claro. Eu sabia que era imprudente de minha parte aquela carícia em público, mas eu estava queimando e precisava ter este fogo apagado. A única que poderis apagar esse fogo era ela.

- Leonardo fazia isso também. - Parei

Foi como levar um soco, um chute no órgão genital, um choque. As palavras dela não deixaram de provocar dor mesmo com o passar dos segundos. Eu senti um sentimento tão opressor que me afastei.

Eu precisava fugir dali.

...

Eu agia como um boneco naquela reunião chata de negócios. Queria sair dali e ir até Júlia, levá-la para jantar. Não somente queria fazer isso por estar com fome, mas queria desfazer meu ato horas atrás. Enquanto a beijava, ela disse o nome de Leonardo comparando-me a ele.

Fiquei tão chocado que fui embora sem dizer nada. Agora eu estava arrependido. Quero dizer parando para pensar Júlia só havia tecido um comentário após um ato meu ter se lembrado do viadinho, mas e daí? O cara havia sido chifrado e chutado e pronto! E daí se minha atitude parecia com a dele?

"Eu preciso manter o equilíbrio, embora não tenha ideia de como farei isso..." refleti e acordei de meus devaneios quando um sócio exigiu minha atenção.

- Senhor Mora, a reunião acabou? - minha secretária perguntou. Assenti com a cabeça e continuei a caminhar colocando meu casaco.

- Sim. Estou indo. Minha esposa deve estar...

- Ah, sua esposa esteve aqui durante a reunião. Ela pediu para avisá lo que foi para casa.

- O QUE? - meu tom de voz foi alto e certamente os homens que ainda estavam na sala de reuniões ouviram. A senhora Slater encolheu se assustada com minha súbita cólera.

- Ela soube que estava em reunião então foi para casa. Algo de errado? - a velha senhora me olhou com evidente curiosidade passado o susto.

- Não. Eu vou para casa. - disse e, após murmurar um "boa noite" a minha secretária e aos funcionários que encontrei pelo caminho, segui para a garagem.

Tudo bem que Júlia não havia dito um "sim" para meu pedido de jantarmos juntos, mas ir embora sem sequer se despedir de mim era demais! Por que ela fazia isso?

Algo deveria ter mudado após nossa conversa, Júlia deveria ao menos tentar ser um pouco mais flexível. Nada havia mudado. Ela continuava a me tratar como se fôssemos inimigos ou coisa pior.

Dirigi rápido pelas estradas temendo deixá-la sozinha. Eu não duvidaria se a mesma saisse com alguém ou simplesmente fosse dormir em seu quarto com a porta trancada. Se eu não fizesse algo o muro que existia entre nós jamais se romperia.

O que eu iria fazer?

Como concertar o que eu fiz? Como recuperar todo o mal que eu fiz?

Como fazer minha mulher me olhar com olhos amorosos, os mesmos olhos que tantas vezes lançou a Leonardo?

Enquanto um sinal fechava e eu parava o carro, encostei minha cabeça no volante. Eu sempre fui um cara prático, calculista, que encontrava solução para tudo. Mas quando se tratava de vida pessoal eu era um fracassado. Será que havia herdado isso do meu pai? Eu não duvidava. Só desejava não terminar como ele, chorando pela perda da mulher que ele não deu valor: minha mãe.

Ao entrar na garagem do condomínio fiquei surpreso em vê-la estacionando. Então ela havia saído da empresa um pouco antes de mim apenas. Ela parecia alheia, certamente não notou minha chegada. Desceu da moto e seguiu para o elevador. Apressado, estacionei meu carro de qualquer jeito, sai às pressas para alcançá la como alcancei no elevador da empresa.

Praticamente corri e, antes que o elevador fechasse, coloquei a mao na porta. Entrei rapidamente, arfante, furioso. Ouvi ela murmurar um "eu não vi você" como se isso fosse corrigir suas atitudes indesculpáveis de hoje.

- Pensei que tínhamos um trato. Disse que iríamos jantar juntos. Por que veio para casa? - falei arfante. Júlia me olhava com confusão.

- Eu soube que estava em reunião então eu pensei que não daria para jantarmos. Além disso, eu estou cansada entao eu pensei em... Eu posso preparar algo para comermos aqui. Não cozinho tão bem quanto um mestre cuca, mas acho que minha comida é boa.

Apesar de dizer que faria comida para mim, eu não me deixei enganar pelo clima agradável que Júlia tentava estabelecer. Tudo parecia uma tentativa de me afastar, mas não deixar a situação óbvia. Assim que o elevador abriu ela saiu apressada já pegando as chaves para entrar. Parecia nervosa. Poderia apostar que se trancaria em seu quarto.

- Eu vou tomar um banho primeiro. Feche a porta ao passar por ela. - falou, mas eu não a ouvia mais.

Um instinto quase animalesco me atingiu. Desejo, frustração, raiva, confusão. Eu nunca me senti mais tomado por sentimentos do que agora. Sem parar para pensar eu segurei seu braço e a puxei para minha frente, prensada na porta, incapaz de fugir. Sem dar espaço para racionalizações eu a beijei com urgência. Senti que ela tentava me afastar, mas eu não a deixei. Peguei suas maos entre as minhas prendendo-as.

Minha presa

Eu estava queimando, nunca senti nada assim por mulher alguma, nem pela mais experiente e bela das prostitutas. Eu precisava de Júlia Franco como um viciado em heroína precisava da droga. Pouco a pouco ela foi cedendo e éramos como galhos de um videiro enroscando-se. Mãos, lábios, língua em toda a parte.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora