"João Pedro Mota é um babaca"

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Maratona = (1/15)

- Também não curtiu a festa? - uma voz masculina me despertou. Olhei para trás e vi um rosto conhecido em meio à penumbra, afastado das luzes da cidade.

- Você é amigo da Bela, não é? - perguntei enquanto via a silhueta do rapaz aproximar se, nas mãos duas garrafas de cerveja.

- Isso ai. Leonardo Ferri. Nós já fomos apresentados antes. - ele disse risonho e me estendeu uma garrafa. Eu a peguei e voltei a olhar para a paisagem abaixo de nós, a paisagem urbana que apesar de caótica ainda encantava.
- E aí? Curtindo esse pedaço de paraíso chamado "terraço"? - perguntou apenas para manter um diálogo entre nós.

- Bom eu curto esse terraço desde que me entendo por gente. - falei num tom um pouco sarcástico. Eu sempre vim aqui quando morava nesse prédio. Não é novidade para mim.

- Mas ainda sim esse lugar fascina, não é? - Leonardo disse. Eu o olhei e vi que olhava para frente enquanto bebia da sua cerveja.

- Sim. - concordei.

- Hoje você está sem aliança. Você se divorciou desde aquele dia que nos conhecemos? Você é rápida hein? - ele falou num tom brincalhao. Eu tinha todo o direito de ficar chateada com suas palavras, mas não fiquei. Sorri.

- Não se desfaz de um casamento de uma hora para outra, sabia? Por mais que a minha vontade seja de mandar tudo a merda, eu tenho que manter o casamento. - disse num tom amargo virando a garrafa, ignorando o fato de que quase me engasguei com a bebida.

- Isso depende. O problema é tirar o cara do coração, aí o casamento acaba. - ele falou. Com essa tive que olhá lo, mas o mesmo parecia alheio as próprias palavras.

- Tem razão. - foi tudo o que eu disse e por alguns instantes ficamos em silêncio bebendo nossas cervejas.

- Eu sei que eu não tenho nada haver com isso, mas parece que você está infeliz com esse casamento. Eu fui um pouco intrometido e perguntei a Bela qual era o problema. Ela nao disse nada, mas imagino que deva ser... Sabe... Ele deve traí la.

- Então até você que não tem vínculo com a empresa sabe? Eu fui a última a descobrir mesmo! - disse irritada. Lembrar de Mota era mesmo nocivo. Fiz menção de sair.

- Hei, não vai! Desculpa! Cara eu não deveria me meter nisso.

- Tudo bem. De qualquer forma eu pretendia ir para casa. Obrigada pela cerveja. - disse.

- Olha não fica chateada comigo, mas sabe aproveitando que eu já estou ferrado com você por ter tocado em um assunto desses... Esse tal João Pedro Mota é um babaca. - virei me.

- Por que diz isso? - Perguntei aturdida.

- Você deve saber. Por que você é uma pessoa legal, pelo menos foi o que eu percebi. Ele é um otário pelo que faz.

- Fala isso por que eu sou bonita? Mas caso você não saiba eu já fui alguém repugnante que homem nenhum...

- Olha eu to dizendo isso porquê você parece legal e não por que você é bonita. - ele disse tentando conter a irritação que minha voz demonstrava.

As palavras dele me deixaram sem fala. Nunca ninguém disse algo assim pra mim, a não ser Mota. Mas o que ele disse não significou nada afinal. O mesmo discurso mentiroso, mas... Quando olhava para o tal Leonardo eu sentia uma sinceridade ferrenha.

- Eu preciso ir. - murmurei e saí sem nem me despedir direito.

O Garoto devia pensar que tenho problemas mentais, mas quem começou a tocar em assuntos pessoais foi ele. Eu não entendia como ele pôde comentar minha vida daquele jeito e por que eu não senti que ele agia como um intruso fazendo isto. Pensei em passar por Izabela e me despedir dela, assim como por Duda, mas acabei indo sem falar com ninguém.

Peguei um táxi na porta do prédio. Não fui para casa, eu não poderia. Pedi para que me levasse em um bar. Eu tinha um dinheiro, gastei tudo com bebidas ignorando o fato de que precisaria de dinheiro para voltar para casa. Tomei um, dois, três coquetéis. Eu adorava quando minha cabeça ficava turva, pesada, e nao sobrava espaço para pensamentos dolorosos. E as palavras de Leonardo vinham distantes em minha cabeça.

"Isso depende. O problema é tirar o cara do coração, ai o casamento acaba."

"Eu sei que eu não tenho nada haver com isso, mas parece que você está infeliz com esse casamento. Eu fui um pouco intrometido e perguntei a Bela qual era o problema. Ela nao disse nada, mas imagino que deva ser... Sabe... Ele deve traí la."

"Olha não fica chateado comigo, mas sabe, aproveitando que eu já estou ferrado com você por ter tocado em um assunto desses, esse tal João Pedro Mota é um babaca."

E eu que pensei que teria uma noite tranquila, tive uma das piores da minha vida. Não me importei com nada, trabalho, dinheiro, saude, nada. Bebi até minha cabeça tombar no balcao do bar em que estava.

Pov's Mota

Um cheirinho bom invadiu minhas narinas, cheiro de mulher. Enterrei meu rosto em um travesseiro onde o perfume era mais concentrado. Eu conhecia aquele cheiro, ele me deixava tranquilo. Demorou meio minuto para eu perceber quem este cheiro me lembrava. Quando abri os olhos pulei de susto.

MAS O QUE... olhei em volta atordoado.

Eu estava no quarto de Júlia, havia amanhecido. Franco, claro, não estava lá. O pior era pensar em que conclusões ela chegou ao me ver em sua cama, o que pensaria do meu ato? Notei que meus sapatos haviam sido retirados, minha gravata foi retirada. Alguém havia feito isso por mim. Teria sido Júlia ? Eu duvidava, era mais fácil ela me matar durante o sono. No entanto não consegui pensar em mais ninguém. Vi minha gravata dobrada em cima de uma poltrona, eu me levantei e a peguei. O perfume dela, o mesmo concentrado em seus lençóis estava na gravata. Ela fez isso por mim.

"Merda, que situação complicada!" pensei.

Procurei por ela pela casa, mas só encontrei com Magdalena e sua filha.

- Oi, vocês viram a Júlia? - perguntei a Magdanela.

- Não senhor Mota, eu não a vi desde que entrei. - ela falou.

- Voltei a procurá la pelo enorme apartamento. Olhei o relógio, estava cedo demais para Júlia ter saído.

"Deve ter dormido fora. Mas ela esteve no quarto então foi embora após ter me visto lá".

Deixando as especulações de lado tratei de me arrumar, precisava ir à empresa.

Olhei o relógio com fúria. Franco já deveria estar na empresa à uma hora, mas não apareceu. Ela até poderia cair na gandaia, mas até então nunca chegou atrasada. Meus pés batiam no piso e Kate estava tão absorva com os meus compromissos que não notou.

- Você tem uns quinze minutos de descanso antes do seu encontro com o pessoal dos sabonetes Velux que contratarão os nossos serviços.

- Ótimo. Kate, vá até o saguão e os receba. Eu vou ficar aqui descansando um pouco. E peça para alguém me trazer um café, eu estou de ressaca. - disse recostando-me melhor em minha poltrona, afrouxando o nó da gravata.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora