"Mota me viu com Leonardo?"

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Maratona = (7/15)

- Você não precisa se dar ao trabalho e antes que diga algo, um sermão, saiba que eu sou dona do meu nariz. Chego a hora que me der na telha! - falei a centímetros do seu rosto. Virei me pronta para partir. Ele segurou minha mão. - Não encosta em mim. - disse irritada. Livrei me de sua mão com um safanão.

- Houve uma época em que você implorava pelo meu toque e agora, simplesmente, não tolera o meu toque, nem me olha. Posso saber o motivo da mudança?

- Não te interessa. - falei.

- Tem haver com o que eu vi lá embaixo? Com aquele cara?

Congelei. Mota me viu com Leonardo?

- Agora deu para me espionar? Não imaginei que se rebaixaria tanto!

- Quem era ele Júlia? A sua nova forma de me atingir? - ele voltou a segurar o meu braço.

- Eu não sou baixa como você. Não estaria com alguém para atingí lo. Agora ao invés de me encher por que você não vai gastar seu dinheiro com as suas prostitutas? eu o empurrei e voltei-me para o apartamento.

- É por isso que tem agido assim? Acha que eu a traio? - ele perguntou. Eu ri.

- Eu tô pouco me lixando para o que você faz! Eu ajo assim porquê quero e não porquê quero que pague por ter me traído. - menti. Não era assim, eu agia de forma rispida para fazê-lo pagar, mas ele nao precisava saber disso.

Ouvi João Pedro murmurar algo, mas segui apressada para o meu quarto e fechei a porta assim que passei por ela.

A convivência com ele estava a cada dia mais insuportavel. Embora estivesse mais manso que nos dois primeiros dias de casamento, ele ainda me incomodava profundamente.

Pouco a pouco a Júlia que um dia fui morria dando lugar a este novo ser que eu admirava e temia. Isso era apavorante.

Pov's Josh

Não consegui dormir bem, de novo. Preocupei-me. Será que dormir mal por
causa da Júlia seria uma constante em minha vida? A cada dia a mudança dela me afetava. O pior foi o que aconteceu ontem, aquele beijo impensado.

Eu procurei não pensar no beijo nem antes de dormir, nem agora quando estou acordado para mais um dia de trabalho; impossível. Enquanto levantava, tomava meu banho, escolhia a roupa que iria usar e consequentemente a vestia, eu só pensava nela.

Não era apenas arrepender me pelo beijo, era também sentir arrependimento pelo que eu havia feito a ela. Eu poderia ver o que Júlia estava fazendo com ela mesma.

Vê-la sozinha bebendo compulsivamente no bar, destruindo-se, mexeu comigo de uma forma intensa. Aquela foi a primeira vez que eu vi, após a mudança dela, o estrago que fiz. Eu nunca estive tão ciente do dano que causei a ela como ontem. E eu não poderia voltar atrás, não dava. O que eu poderia fazer agora era apenas tentar ser gentil na tentativa de amainar os atritos entre nós.

"Vou tentar ser mais simpático. Quem sabe assim ela não fica um pouco mais calma?" pensei positivamente enquanto saia do meu quarto.

Passei no quarto de Franco, ela não estava lá. Segui para a sala de jantar e a encontrei lá comendo.

Quando eu me aproximei eu a vi ficar imediatamente tensa embora tentasse disfarçar. Respirei fundo. Eu tinha que melhorar o clima entre nós.

- Bom dia. - disse numa voz anormalmente gentil. Júlia ficou calada. Aquilo me enervou. - Pode pelo menos bancar a educada ou é pedir demais? - pedi frustrado. E a garota continuou a me ignorar. Notei que usava fones de ouvido, provavelmente nao me ouviu.

Num surto de raiva arranquei os fones dos seus ouvidos.

- Hei! - ela esbravejou.

- Eu acho que mereço o mínimo de respeito já que eu cuidei de você ontem! - disse irado. Franco ficou atônica por alguns instantes antes de rir com vontade.

- Deus, você é muito patético! Acha que vou agradecer e tratá lo como um rei pelo que fez por mim? Eu não me lembro de ter pedido sua ajuda colega! - falou com desdém. A raiva me tomou. Eu sabia que não tinha o direito de exigir nada, mas exigi mesmo assim.

- Eu não espero ser tratado como um rei, eu só quero... - eu a vi se levantar. Aonde vai?
perguntei. - Trabalhar. - disse já se dirigindo a saída. - Eu levo você. - murmurei sabendo o que ela diria.

- Agradeço a oferta, mas não tô a fim da sua ilustre companhia. - foi tudo o que disse antes de virar as costas e partir.

- Inferno! - murmurei colocando minha cabeça entre as maos.

Sentia a dor de cabeça se formar. Eu estava perdido com essa mulher!

Cheguei bufando no escritório. Kate veio me beijar quando adentrei minha sala, mas quando viu minha cara de poucos amigos, parou.

- O que foi? - perguntou enquanto eu me sentava.

- Nada. Passe minha agenda. - disse.

- Por que tá assim? Tem haver com a sua esposinha e o desvio comportamental dela? - Kate perguntou com aspereza.

- Não me aborreça Kate! - esbravejei. - Não é porque você é minha amante que pode agir desse jeito. Ponha se no seu lugar como minha secretária! - despejei em Kate todo o veneno que colhi com o tratamento desdenhoso de Júlia Franco.

Kate calou se finalmente amordaçada. Passou a agenda para mim em silêncio. Eu não iria pedir desculpas, eu estava certo. Ela fez seus afazeres amuada, eu a ignorei. Havia algo que eu precisava fazer e não tinha nada a ver com Kate.

Enquanto mexia em meu computador, eu disse:

- Kate, chame minha esposa para mim. -

- Como é que é? Quer que a tal Júlia...

- Você me ouviu Kate? Disse para chamá-la! - disse num tom ríspido, amordaçando-a novamente antes que Kate fizesse algum protesto. Ela se calou e seguiu para a saída.

Esperei pelo momento em que Júlia entraria com certa tensão.

Logo ela entrou, pude sentir pela súbita carga elétrica que tomou conta do ambiente. Eu larguei o notbook e a olhei sem poder conter minha frustração.

- O que quer senhor Mota? Estou trabalhando. É algo relacionado ao trabalho? - perguntou em uma posição arrogante, os braços cruzados em frente ao corpo.

- Não. - falei sem saber o que dizer em seguida. Era difícil pensar com coerência quando ela tratava me de forma hostil. Eu nunca fui tratado assim por mulher nenhuma.

- Então eu me retiro. Não é do meu feitio resolver questões pessoais em ambiente de trabalho. - disse curta e grossa.

Eu tinha que dizer algo, mesmo que o "algo" fosse de certa forma humilhante pra mim. Não importava.

- Eu quero me entender com você. - falei enquanto Júlia já projetava seu corpo em direção a saída. Ela parou, mas não se virou.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora