"Ele estava lindo"

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Pov's Júlia

O carro andava pela cidade com suavidade (Mota dirigia mais devagar do que deveria). Tive a impressão de que ele estava me obrigando a passar um tempo maior com ele no carro; esperei que fosse só impressão. Mantive minha cabeça inclinada olhando a paisagem da minha janela, não querendo de forma alguma vê-lo.

Eu sabia que não tinha o direito de ficar irritada com ele afinal de contas fui eu a culpada, eu aceitei seu convite.

O que eu estava fazendo? Por que aceitei ficar ao seu lado em um evento empresarial em troca de dinheiro? Eu estava me equiparando às prostitutas dele!

Eu poderia desistir, bastava entregar o cheque e...

- Chegamos. - Jp anunciou. Olhei para fora, estávamos em frente a uma boutique incrivelmente chique. Todo aquele luxo me intimidou. A frente era incrivel, com traços da arquitetura grega, um predio de mais de quatro andares.

Procurei me recompor. Eu não queria mostrar que ainda havia resquícios da antiga Júlia , a provinciana.

- Lembre-se João Pedro: todas as despesas serão pagas por você! - falei forte caminhando a passos firmes para a porta.

Um funcionário muito bem vestido nos recepcionou. Estava tão irritada que banquei a mal educada, ignorei a todos que me cumprimentavam. Fui diretamente a uma atendente. Ela me olhou dos pés a cabeça avaliando meus recursos financeiros.

- Bom dia senhora...

- Eu quero um kit completo para ir a um evento, exclusivo. Roupas, acessorios... E nao me preocupo com dinheiro então pare de me olhar com indiferença como se eu fosse uma ladra! - falei irritada, despejando veneno em quem nem merecia tanto. Ela estacou.

- Ouviu minha esposa, não é? Ofereça a ela O melhor. - Mota disse atrás de mim. Ignorei sua atitude protetora.

- Sigam me. - ela pediu. Eu a segui. João Pedro projetou seu corpo para frente, mas eu o impedi virando-me e colocando a mao em seu peito.

Sacola em mãos. Eu não vi o preço do vestido,
da lingerie, das jóias e dos sapatos, mas posso apostar que o valor era próximo do que Meu "maridinho" me pagou para sair comigo. Ele se manteve afastado e para a minha surpresa vi que ele também havia comprado algo para vestir. Ele sorria malicioso (como eu odiava esse sorriso!) satisfeito por seus planos estarem dando certo. Eu iria mostrar a ele, iria envergonhá lo! Ele me pagaria caro! Ainda mais caro do que gastou comigo! Funcionários pegaram nossas compras e guardaram na porta malas do carro.

Entramos no carro, silenciosos. O maldito ainda sorria como se tivesse ganhado o jogo. Eu me controlei, não perderia a calma por tão pouco. Eu iria rir por último.

- E agora vamos ao SPA. Eu não tinha a intenção de frequentar o SPA, mas eu terei um dia de beleza só para lhe fazer companhia. - falou num tom que soava debochado.

- Escute aqui só por que eu aceitei dinheiro não significa que aceitei ficar de papo. Só irei representar o papel de boa esposa quando for o momento. - falei entredentes. Minhas palavras o deixaram visivelmente aborrecido.

- Então tudo bem. Mas terá de representar bem afinal eu posso exigir reembolso se você não agir como eu quero. - suas palavras provocaram arrepios em minha pele.

- Claro afinal de contas você está pagando. De que outra forma eu o trataria bem? - Disse. Ele deu atenção à estrada, amuado.

Fomos a um SPA ainda mais luxuoso que a boutique onde compramos as nossas roupas. Eu não abaixei a cabeça, mesmo com a opulência daquele lugar. Eu não deixaria ninguém me diminuir, João Pedro já havia feito isso até demais.

Os funcionários foram bem simpáticos e consegui deixar o meu mau humor de lado. O idiota estava em algum lugar do SPA, mas como a ala para mulheres ficava em um local diferente da ala de homens eu não o vi, felizmente!

Não sei por quantas cosias fui submetida, quantas massagens, depilação, sessões de alguma coisa com pedras... É impressionante como gente rica gasta fortunas com coisas banais! Uma boa maquiagem e uma mudança no cabelo bastariam.

Ainda sim aceitei a tudo, o pacote completo, só para que Mota gastasse ainda mais comigo. E, além disso, eu queria estar perfeita, com as roupas e jóias que eu escolhi e que ele não viu até o momento. Eu queria que ele babasse ainda mais por mim.

Eu sei, eu nao deveria agir como se eu me importasse com a opiniao dele, mas eu importava. Eu estava agindo com impulsividade assim como ele. Estremeci ao pensar no que aquilo poderia nos levar, toda aquela tensao, aquele ódio...

- Agora iremos para o almoço. Deseja almoçar ao lado de seu marido, senhora Mota? - a funcionária perguntou enquanto eu vestia um roupão.

- Não, quero comer sozinha. - disse com os olhos fixos no chao.

Tudo bem. Vamos senhora Beauchamp. a funcionária disse. Eu a segui; já sentia a tensão pelo evento estar próximo. Eu sentia em meu íntimo qui algo iria mudar.

"Que venha o evento!  João Pedro Mota vai sentir todo o meu veneno!”,

Eu não me reconhecia. Eu estava diferente, tão diferente! Não só fisicamente, mas o rosto com expressão sisuda não parecia meu. Eu trajava um vestido tomara-que-caia vermelho sangue que se abria em camadas de minha cintura até os meus pés.

Os saltos agulha pretos deixavam me mais alta, mais poderosa. Meu cabelo estava presos em um elaborado coque, uma jóia de diamantes e rubis o prendia, e estas mesmas pedras faziam parte de meus brincos. A maquiagem era forte para realçar meu rosto.

Mota me esperava na sala. Eu havia chegado antes dele, vim de táxi para casa. Ele não havia me visto, nem eu a ele. Só de pirraça eu demorei mais tempo do que o necessário desafiando ele a entrar em meu quarto e dizer que nós estávamos atrasados, mas ele não o fez.

- Agora é a hora. - murmurei em frente ao grande espelho do meu closet.

Peguei minha bolsa de mão preta (outro acessório que comprei) e saí para a sala onde ele me esperava.

Ele estava em pé, olhando para a paisagem que a sacada oferecia.

- Estou pronta. Vamos logo para acabar com essa palhaçada. - disse ríspida.

Jp virou se e me encarou. Eu estaquei. Ele estava lindo trajando um smoke clássico, a gravata vermelha combinando com meu vestido. Procurei me recompor.

Então notei que me olhava abismado.

- Então vai ficar me encarando como um idiota ou vai se mexer? - falei com aspereza enquanto seguia para a porta. O garoto logo se postou ao meu lado, tinha aquele sorriso de quem está vencendo.

“Vamos ver se você terá este sorriso no final da noite seu idiota!" pensei.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora