"Eu queria sumir, desaparecer"

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Eu já deveria estar acostumada com o fato de que Ana não gostava de ser contrariada. Aprendi isto quando ela se encarregou dos preparativos de meu casamento.

...

- foi ótimo e nós vamos ajudar algumas escolas da África. E aproveitamos para termos outra lua de mel. Ah, por que não retornou as minhas ligações Júlia?

- Eu mal ouvia a voz de Ana! - JÚLIA!

- Ah, oi. O que foi?

- Você está escutando o que eu estou falando? Está tão aérea! Eu aqui contando minhas aventuras na África com Pedro e você ai, parada.

- Desculpe, qual foi sua última pergunta... Coisa que disse?

- Por que não me ligou ou atendeu minhas ligações? - Ana cruzou as mãos e apoiou seu queixo nelas.

Eu olhei para minha comida intacta no prato. Era meu horário de almoço, estávamos no refeitório da empresa. Anaju só bebia um chá e eu tinha um prato intocado na minha frente.

- Eu liguei, mas estava fora de área quando eu ligava - menti. Eu nem tentei ligar.

- Sério? Que pena! Tipo em alguns momentos meu celular ficou fora de área mesmo. - Mas me fale de você? Já falei muito sobre mim e você claramente nao escutou.

- Você deve ter falado com o João. Ele não falou como estamos? - indaguei com os olhos em meu prato. Vi pela visão periférica Ana Júlia dar de ombros.

- Ele só falava que tudo está bem. Eu quero detalhes. Fala! - Ela pareceu concentrada em minhas palavras. Procurei ser fria, indiferente.

- Estamos bem. Agora eu vou voltar para o trabalho. levantei da mesa.

- Júlia, você nem comeu! Fica!

- Lamento, eu preciso ir. Até! segui meu caminho.

Ana Júlia era esperta, perceberia a mentira e faria perguntas. Nunca fui boa em mentir, mas tenho mentido com frequência, ocultando minha vida miserável por vergonha.

- Ah, vai haver um jantar hoje à noite! Na minha casa. Vá com o Mota. Pedro quer ver você e ele. A mesma disse. Eu acenei de costas.

O pior foi ouvi la falando em como foi maravilhoso estar com Pedro. Foi ter inveja dela, desejar que o mesmo acontecesse comigo. Eu me sentia um lixo!

Meus passos foram aumentando até que eu estava correndo. Correndo em direção ao banheiro. Eu ia ter uma crise e iria ser violenta. E como sempre as perguntas me assaltavam:

- Por que comigo? Por que eu? Onde foi parar o amor que João Pedro sentia por mim?

Acabei no banheiro feminino após passar por diversas alas. Entrei em um compartimento e fiquei lá, sentada no chao, encolhida.

Eu queria sumir, desaparecer. Lembranças dos últimos dois meses me assaltavam.

Mota mal falando comigo, Mota e seu olhar frio, Mota me ignorando, Mota ...

- Júlia? Júlia você está aqui? - era Duda. Ela estava em frente ao local onde eu havia me refugiado.

Merda. murmurei encolhendo-me mais na parede.

Eu nao queria ver ninguém, não quando estava arrasada. Ela bateu na porta do local do Box onde eu estava.

- Júlia, eu sei que está aqui. Eu vi você correndo para cá. Abre a porta, por favor. - Duda suplicou. Não sei o que me motivou, mas abri a porta.

Não ousei olhar para ela, eu veria pena em seus olhos. Eu vi uma vez pena nos olhos do João Pedro, em nosso segundo dia de casados. Eu ainda guardava aquele olhar de piedade. Eu odiava aquele olhar de piedade. Eu senti a porta sendo fechada, mas Duda nao saiu. Ela ajoelhou se a minha frente e ficou me olhando.

- Está acontecendo algo com você, algo muito grave. Tem haver com o Seu marido não é?

Eu fiquei calada fitando o chão. Ela entendeu meu silêncio como um "sim".

- Por que não nos contou? Somos suas amigas. Podemos ajudá la.

- Como Duda? Não podem me ajudar. - murmurei.

- A nao ser que... Que faça com que ele me ame e me aceite. Pode fazer isso, Duda? - eu a olhei e vi seu olhar sobre mim.

Pena, tristeza.

- Desde quando está tendo uma crise no seu casamento? - ela perguntou. Já que Duda tinha me visto naquele estado deplorável, eu não vi motivos para mentir, não mais.

- Desde o primeiro dia. Eu nunca dormi com ele como disse, nunca tivemos viagens nem nada. Eu menti. Tive que mentir. Eu não poderia contar que fui rejeitada na manhã seguinte, que João Pedro tem me desprezado. É muita humilhação. - coloquei a cabeça entre as mãos e chorei copiosamente, de novo. Duda ficou calada, ainda de joelhos diante de mim, olhando meu sofrimento. Eu sabia que ela estava de mãos atadas.

Ninguém poderia me ajudar. A única pessoa que poderia me livrar daquele sofrimento era ele e ele não mostrava sinais de que iria fazê-lo.

- Sabe por que ele agiu assim? Duda perguntou. - Eu balancei a cabeça em negativa.

- Não. Eu não fiz nada. Nada.- a voz falhava, as lágrimas caiam.- Eu nunca fiz nada, nada! Pensei que a culpa era minha, pedi perdão, mas o próprio admitiu que eu nada fiz. Ele se arrependeu de casar comigo. Eu não deveria ter aceitado, foi tudo rápido demais! Mas eu queria tanto tê-lo pra sempre que... A culpa ainda é minha.

- Ah, Jú.- Duda disse soando como um lamento. Abraçou me. Fiquei encolhida em seus braços chorando.

Eu não conseguia mais segurar, estava difícil. Já foi muito que eu fiz, guardando só para mim o meu sofrimento durante dois meses. O pior não era chorar diante de alguém, mas saber que meu ato não mudaria nada.

- Até quando vai ficar só assistindo, Duda? Acho que já está na hora de contar. outra voz soou próximas a nós duas. Virei e vi de pé na porta Bela.

Fiquei surpresa, não imaginei que a veria. Ela  tinha a cara amarrada, aborrecida com algo. Olhou brevemente para mim e voltou a falar com Duda.

- Acho que já esperamos tempo demais para contar. Nao aguento mais ver a Júlia agindo como um zumbi para aquele filho da puta! - ela falou alterada. Eu a olhei, confusa, e então a ficha caiu.

- Você sabia, sabia que meu casamento não andava bem. Sabia que eu mentia quando eu respondia suas perguntas acerca do casamento. murmurei. - Bela limitou se a assentir.

Era o pior. Se até alguém tão avoada como Bela tinha percebido então todos da empresa sabiam.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora