"Pela Primeira Vez! Ele Olhou Para Mim"

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- Tome. Acho que calçamos o mesmo número. Não é tão bonito quando o seu salto de tiras, mas pelo menos não vai precisar ir embora para trocar. - disse sorrindo.
Ana Júlia olhou-me boquiaberta.

- Poxa... 0brigada, mas... Esses sapatos são seus.
Você calçará o que? - Ana Júlia perguntou olhando para meus pés descalços.

- Eu estou indo para casa afinal. Sem problemas. - falei e fiz sinal para um táxi, ele parou ao meu lado.
Ana Júlia pegou parecendo surpresa com minha
generosidade exacerbada.

Após ela pegar o salto que lhe ofereci, eu entrei
no táxi e segui para casa. Claro que eu poderia
dizer quem era certamente isso poderia me
beneficiar no trabalho. Bobagem. Eu não era do
tipo aproveitadora.

Além disso, eu não gostava dos
sapatos que entreguei a ela. Não estava perdendo nada.

...

Mais um dia na empresa. Dia tumultuado. Eu estava em frente ao computador quase desenvolvendo uma lesão por esforço repetitivo de tanto que digitava.

Tínhamos recebido muito trabalho. Mesmo com a carga alta, eu trabalhava tranquila.
Ao contrário de Bela, ela estava prestes a ter um colapso.

- MEU PAI! COMO PODE TER TANTO TRABALH0?
- ela disse digitando freneticamente com uma
mão enquanto a outra tirava papéis impressos da impressora. Dei de ombros.

Gosto de Bela, mas verdade seja dita ela não era
muito de trabalhar. Quando vem muito trabalho, ela se desespera.
- Acostunme-se Bela. A empresa está em expansão desde a morte de Ricardo. Teremos muito trabalho. - disse e levantei quando a campainha do intervalo soou. - Vou ao refeitório. Vem comigo?

- Melhor näo Júlia. Tenho muita coisa para fazer. Vai à frente, ok?

- Ok - fui para o refeitório a passos lentos.
Eu estava estressada, não pelo trabalho, sei lá.
Nem eu mesma sabia o motivo. Pensei que deveria
relaxar, talvez sair da cidade nas minhas férias..

- Hei! Vocêl - ouvi a voz dizer. Virei-me e vi
Ana Júlia com um sorriso nos lábios, trajava um
blazer azul marinho belo, salto alto preto, uma flor de tecido presa no cabelo. Linda, estilosa, o oposto de mim.

- Oi?- perguntei aturdida com o sorriso enorme em seus lábios.

- Nossa então você trabalha aqui? Quem diria!
Lembra-se de mim ontem?

- Sim. Eu emprestei meus sapatos.

- Puxa nem sei como agradecer! Você salvou minha noite com meu marido. Eu sabia que a conhecia de algum lugar.
Ah, deixe eu me apresentar: Sou Ana Júlia Mota. - Ana estendeu a mão para mim. Eu a cumprimentei e sorri, parecia ser
impossível não se contagiar com seu sorriso.

- Prazer, Júlia.

- Como forma de agradecer ao que fez por mim será
que você me acompanharia até o refeitório, Júlia?
perguntou Ana.

-Claro.
Ana jukia era agradável, bem diferente do que eu imaginava. Agradeceu-me inúmeras vezes e, quando estávamos sem assunto, fez perguntas sobre mim, perguntas sobre o que eu fazia na empresa, há quanto tempo estava lá, o que eu achava dos meus colegas de trabalho, enfim!

Eu respondi a tudo tranquilamente, enrubescendo por Ana se mostrar tão interessada em mim.
Pelo amor de Deus eu só emprestei um sapato!

- Senhora Mota, a conversa está boa, mas eu
tenho que ir. O horário do meu almoço acabou. -
disse sem graça, não queria que ela interpretasse meu ato como rudeza, mas ela sorria.

- Que pena. você é muito agradável bem como
imaginei que fosse.

- Poxa, fico feliz que pense assim. Você também é muito legal senhora..
- Perai! Nada de senhora! - ela disse parecendo
horrorizada com a alcunha. Eu sorri sem jeito.

- Desculpe. Então eu preciso ir.

- Obrigada pela companhia Julia. Vamos fazer isso novamente, foi fabuloso conversar com você! - ela falou super empolgada. Ela era estranha, mas boa gente.

- Claro Ana Júlia, Foi bom conversar com voce.
Até mais. - levantei da mesa do refeitório pegando
minha bandeja vazia e colocando-a sobre a lixeira.

Dei uma última olhada para Ana que acenava.
Eu imaginei outra coisa. Quero dizer ela era uma Mota. Eu devia estar tão acostumada ao
tratamento indiferente de João Pedro que pensei que sua irmã agiria da mesma forma.

Estava tão perdida em pensamentos que acabei por tropeçar, algo comum para mim. Eu nunca fui de ter um bom equilibrio.

Surpreendentemente eu não me choquei
no chão, alguém me amparou colocando um braço
na frente do meu corpo e me suspendendo.

- Puxa obrigad.. - eu olhei para a pessoa que me
ajudou e estaquei.
João Pedro, lindo como sempre, havia me ajudado a não cair. Isso poderia ter sido um ato como qualquer outro se não fosse por um detalhe: João me olhava.

Não estou falando de um simples olhar, do tipo
que você olha para alguém e verdadeiramente
não vê. Estou falando de um olhar penetrante, tão
penetrante que me senti desfalecer.

Pela primeira vez na vida João Pedro Mota me
olhou. Eu me senti imensamente feliz por isso.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora