"João Pedro me pagou para estar aqui"

57 1 0
                                    

- Não abuse João Pedro. Caso o contrário esqueço a merda do dinheiro. - esbravejei baixinho.

Rapidamente mudei para uma expressão risonha e cumprimentei a aqueles que vinham até nossa mesa parabenizar antecipadamente. Ele, a fim de me irritar, aproveitou se deste momento para me manter ainda mais próxima a ele.

O contato com ele não estava me fazendo bem.

Sua mao que envolvia minha cintura acariciava
a mesma. Procurei me conter. Eu não queria ser tocada por ele!

- Senhor Mota... uma voz nos chamou a atenção. Um rapaz bonito estava diante de nós. Ele tinha seus olhos fixos em mim. Senti Jp enrijecer ao meu lado. - Ah entao esta é a sensação do evento. Sua esposa é adorável.- disse e se aproximou do meu lado, tomou a minha mão e a beijou. - Sou Alec, tenho negócios com o seu marido.

- É um prazer conhecê-lo Alec. Meu marido nao disse que tinha um conhecido tão ... eu oolhei de cima a baixo com um falso olhar de cobiça. ... Garboso. - completei.

- Não somos tão próximos. João tem uma maior proximidade com o meu pai. Estou aqui unicamente para representá lo, já que meu pai nao pôde estar aqui.

- Então Alec obrigado pro vir nos cumprimentar, agora se nos dá licença, temos muitas outras pessoas a cumprimentar. - disse puxando-me pela mão. Alec nos olhou surpreso e um tanto constrangido com a forma como Mota o tratou.

- Hei, o que está fazendo? Você foi rude com aquele rapaz, sabia? - murmurei.

Ele continuou a caminhar sem rumo certo.

- Não ligo se fui rude! Como você disse são todos bajuladores que lucram com as minhas conquistas. Eu posso até mandá los a merda e ainda sim me tratarão bem. - falou todo cheio de si.

Procurei não perder a cabeça, eu nao poderia. Mas suas palavras... De alguma forma elas se encaixaram com nossa vida de casados. Quando eu o tratava tão cheia de amor, mesmo quando ele me desprezava. Eu queria empurrá lo no meio da multidão e pisá lo até sair sangue, mas na minha atual posiçao tudo o que eu poderia fazer era fingir ser a esposa mais afortunada do mundo.

Mais convidados Mais cumprimentos
Mais sorrisos e elogios a Mota num tom tão falso que alguém certamente notou!

Eu era uma perfeita dama, copiando as pessoas de classe com quem tive de conviver desde que passei a trabalhar na empresa de João Pedro. E pelo modo como as pessoas se comportavam diante de mim, era óbvia que eu estava conseguindo a proeza de me misturar. Mas aquele não era meu mundo, aquele mundo de opulência e eu não queria fazer parte dele. Rezei para que o evento acabasse o quanto antes (a falsidade custaria um rosto dolorido de tanto sorrir).

Mota se manteve por perto, seu braço em minha cintura. Às vezes ousava se aproximar demais, ameaçando um contato mais íntimo, mas parava quando via em meus olhos o ódio abrasador que me consumia.

O que ele não sabia era que o maior ódio era direcionado a mim. O meu corpo reagia até ao mais despreocupado toque...

- Sou Júlia Mara Franco. - disse quando fui apresentada a um sócio da empresa. O homem tomou minha mão num ato respeitoso e a beijou.

- Mota. Você se esqueceu de seu sobrenome de casada, meu amor. - disse ao pé do meu ouvido.

Seu hálito provocava cócegas (e náuseas) em mim. Eu queria empurrá lo, mas meu ato poderia ser estranho aos olhos de outras pessoas. Então permiti que enlaçasse minha cintura com um braço e constantemente falasse comigo ao pé do ouvido.

As horas se arrastavam... E a farsa prosseguia

- E como jovem empreendedor deste ano nós presenteamos o senhor João Pedro Mota Moraes com este evento e com este prêmio em minhas maos. - Richard falou segurando uma estatueta de cristal.

Mota estava ao meu lado, afastou se para subir no palanque e receber o prêmio. Uma salva de palmas para ele enquanto aproximava se do seu prêmio. Aproveitei aquele momento para escapar, encontrar um lugar onde eu pudesse descansar. Segui para uma mesa afastada da multidão e sentei em uma cadeira. Ignorando quem pudesse estar me observando, deitei a cabeça na mesa.

Eu queria ir embora, queria descansar e só acordar bem tarde. No outro dia teria que ir para o trabalho e, ao invés de estar descansando, eu fazia aquele papel ridículo!

Por um lado foi proveitoso, eu havia ganhado um valor que não ganharia em anos de trabalho. Mas aquele dinheiro nao tinha nenhum valor para mim. Nao foi um dinheiro conquistado por isso eu não dava o devido valor a ele.

Podia ouvir a voz de João Pedro ecoando pelo amplo salão, ele devia estar fazendo um discurso pelo prêmio recebido. Procurei não ficar atenta a sua voz e ao que dizia, mas acabei captando nuances do que dizia.

Pareceu que ele disse o meu nome em seu discurso...

- Senhora Mota? - alguém me chamava. Por reflexo virei para a direção do som. Enxerguei Alec se aproximando. Sorria.

- O que faz aqui? Não deveria estar em frente ao palco acompanhando o discurso do seu marido?

- Deveria, mas não estou lá e nem pretendo. - falei friamente. Alec continuou a sorrir.

- Posso lhe fazer companhia? - perguntou apontando para uma cadeira ao meu lado.

- Como quiser. - disse.

Alec apressou se em tomar o lugar que a pouco indicara.

- Parece que não sou o único a me sentir entediado neste ambiente. Nao parece apreciar isto aqui. - Alec dizia enquanto olhava a multidao aglomerada.

- Não aprecio.

- Então por que decidiu vir neste após deixar de lado participação em eventos? Antes você não acompanhava seu marido, não é verdade? - Alec tinha os olhos cravados em mim. Dei de ombros.

- João Pedro me pagou para estar aqui. - admiti. Alec riu. Não deve ter me levado a sério.

- Até eu pagaria por uma companhia como a sua! - Alec disse galanteando. Virou seu rosto em direção ao grupo de músicos que tocavam uma música ambiente. - Sei que a probabilidade de você dizer não é grande, mas... Você me acompanharia em uma dança? Acho que deveríamos dar o devido valor à banda que está tocando belamente.

Olhei para Alec, ele não parecia estar brincando. Levantou se e estendeu a mão para mim. Eu não gostava de dançar, sequer sabia. Ainda sim...

- Claro. - levantei me e segurei a mão que Alec mantinha estendida.

Seguimos para um local afastado da multidão, próximo a banda. Eu não queria dançar, fiquei tanto tempo em pé que para mim o melhor era permanecer sentada. No entanto eu queria dançar com o rapaz só para provocar.

Alec pegou uma mão, a outra estava pousada em seu ombro, com um braço ele enlaçou minha cintura e me conduziu para uma valsa. Não precisei me esforçar, minha inexperiência não me atrapalhou na dança. Alec me conduziu muito bem na valsa.

- Dança bem, senhora Mota. - Alec elogiou.

- Está blefando! Eu não danço bem! Você é que conduz bem. - elogiei. Alec deu de ombros.

- É melhor ficarmos por aqui na troca de elogios. Caso o contrário passaremos o resto da noite assim. - ele gracejou. Eu ri. Procurei me concentrar nos meus pés e na música que soava, a melodia era bonita.

- Não reconheço a música que está soando. - comentei com Alec enquanto bailávamos pelo salão.

- Nem eu. Deve ser uma composição nova. - Alec fez uma pausa parecendo se concentrar em nossa dança. Notei que me puxou para mais perto. - Será que eu posso ter mais uma dança?

- Eu...

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora