"Eu me libertei"

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- Você acabou comigo... A Júlia que eu era... Aquela Júlia, você matou! Eu te amava tanto! Eu sacrifiquei tudo por você! E você, após o nosso casamento, me tratou como um lixo! Por quê? O que eu fiz para merecer tanto sofrimento? Como pôde fazer tanto mal a mim, SEU MONSTRO! VOCÊ ME DESTRUIU! EU SOU UMA PESSOA HORRÍVEL POR SUA CAUSA! E AGORA QUANDO EU TENTO ME REERGUER VOCÊ QUER ME ARRASTAR PARA O INFERNO! - cobriu seu rosto com suas maos e voltou a chorar, mergulhada demais na sua dor.

A sua agonia era quase uma dor física para mim.

Eu me odiava tanto naquele momento! Tanto! E mesmo sabendo que eu não a merecia, de fato ela estaria melhor com qualquer um, eu não queria abrir mão dela. Eu a queria mais do que nunca. Para amá la e ser amado, experimentar a felicidade que secretamente invejei de Ana Júlia. Curar a feridas que causei, ou pelo menos costurá las.

Calmamente eu me aproximei, ajoelhando-me no gramado em frente a ela, colocando minhas mãos em seus ombros. Júlia afastou se de mim como se meu toque a houvesse queimado.

- NÃO ME TOCA! EU TE ODEIO! - gritou tentando se afastar. Eu não permiti, não poderia. Como se meu abraço pudesse de alguma forma curá la, eu a abracei fortemente, impedindo que se afastasse Tentou me empurrar, mas não adiantou.

Ela estava esgotada, física e mentalmente.

Encostou se em mim deixando-me abraçá la, para recuperar se e voltar a me empurrar, quem sabe. Eu a mantive em meus braços, esperando que se acalmasse. De fato se acalmou um pouco, os tremores e o choro diminuíram um pouco. Eu não pude apreciar tê-la em meus braços, não poderia. Ela estava sofrendo e eu tinha que pensar um pouco nela, em seu sofrimento.

- Eu te amava tanto João Pedro! Você era tudo pra mim, o meu mundo inteiro! Você brincou comigo. Eu fui só um passatempo que você jogou fora assim que se cansou... - disse e cada palavra doía.

Eu a feri, isso era imperdoável. Ferir alguém
como Júlia, tão boa e pura! Mesmo com tudo o que aconteceu, sua abrupta mudança, ela nunca se deixou corromper. Enquanto via seus olhos raivosos e ouvia o sarcasmo e ódio em sua voz, ela ainda mantinha se pura, perfeita. E eu quase a arruinei.

- Não Júlia... Não é desse jeito... - murmurei.

O que eu poderia dizer em meu favor? Any achava que eu a havia tratado como passatempo. Quem não soubesse da verdade pensaria da mesma forma. Será que se eu contasse a verdade ela me compreenderia? Entenderia que se eu a tratei mal e não cheguei a tocá la, foi pensando nela? Não, nem eu entendia minha lógica de outrora. Ela não entenderia. E eu não poderia correr o risco de perdê-la.

- Eu te amava tanto que eu suportei calada ao seu desprezo. Cheguei a me culpar pelos seus atos e então, enquanto eu me martirizava você estava com outras mulheres. - e então, enquanto ela desabafava, eu soube o motivo de sua mudança.

Anteriormente cheguei a pensar que Júlia havia descoberto a verdade, mas agora eu sabia. Ela descobriu de alguma forma que eu a trai, este foi o motivo de sua mudança. Eu me sentia devastado por dentro, devastado pelo que eu fiz e por ser obrigado a ver os estragos que causei de uma perspectiva diferente, a perspectiva dela. Afaguei suas costas em mais uma tentativa vã de consolá la. A mesma se afastou.

- NÃO ME TOCA! EU TE ODEIO! POR SUA CULPA EU ME TORNEI UMA PESSOA HORRÍVEL! TERIA SIDO MELHOR NUNCA TER FICADO COM VOCÊ, TER SIDO UM NADA PRA VOCÊ! VOCÊ ME FEZ TANTA ATROCIDADE E PARA QUÊ? PARA NADA! ESTAVA SE DIVERTINDO AS MINHAS CUSTAS ENQUANTO ME HUMILHAVA E AGORA QUE ESTOU ME RECUPERANDO VOCÊ QUER... - Júlia gritava frenética, e temi que tivesse uma parada cardíaca ou algo assim. Eu queria acalmá la, mas como poderia fazer isso se eu era a causa de tudo isso?

- Júlia... - eu a chamei querendo pará-la e fazê-la me ouvir. Independente do que eu diria, se a verdade ou apenas um pedido de desculpas. Ela me ignorou, imersa na sua própria tristeza.

- O QUE MAIS DÓI EM MIM É SABER QUE TUDO QUE EU FIZ, ATÉ O QUE JULGUEI SER UM PROGRESSO, FOI PARA CHAMAR SUA ATENÇÃO, PARA ATINGÍ LO. EU NÃO SEI SE ME ODEIO MAIS OUSE... - ouvir isso foi uma surpresa.

Júlia confessava que tudo, até mesmo, quem sabe, estar com outro homem era para chamar a minha atenção. Eu senti a felicidade me tomar enquanto a conclusão de que ela ainda me amava vinha, mas procurei sufocar qualquer reação que denunciasse meu estado de espírito.

E então eu senti que estava preparado, não para dizer a verdade, mas para dizer algo muito mais significativo. Eu a sacudi levemente pelos ombros exigindo sua atenção.

- Eu amo você! Eu sinto tanto Júlia! Queria poder voltar atrás e corrigir meus erros, mas nao dá! Tudo o que posso prometer a você é que tudo será diferente agora, porque o que eu mais quero é amá la como você merece!

Libertador

Eu me libertei e senti o peso sair de mim. Finalmente consegui dizer a ela que a amava. E pude ver que ela sentia, pela sua imobilidade,
que eu estava sendo verdadeiro. Eu nunca fui mais verdadeiro em toda a minha vida. E eu nunca amei uma mulher mais do que a amava.

Enquanto Ela estava paralisada pelas minhas palavras, enxuguei suas lágrimas com a ponta dos dedos enquanto prometia, em meu íntimo, que nunca mais a faria derramar uma misera lágrima por mim. Eu a protegeria; eu a amaria; eu a faria feliz... Ou pelo menos morreria tentando.

Meus lábios, movidos por uma atração irresistível, foram de encontro aos lábios de Júlia, da minha mulher. Rocei meus lábios com o dela, apreciando o contato como se fosse à maior coisa do mundo. Eu a adorei como uma deusa, enquanto tomava seus lábios delicadamente. Ela deveria de fato ser venerada. Como ela tinha força para aceitar uma carícia minha após tudo que fiz?

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora