Júlia não disse nada. E assim seguimos silenciosos para a garagem. Ela não iria fugir por muito tempo, prometi. Eu já havia passado por muita coisa, já havia esperado tempo demais por ela. Eu a olhava de solaio censurando-a pesadamente. A mesma estava alheia a tudo, ou pelo menos procurava se manter assim.
Sobressaltei me ao ver que ela seguia para a sua moto preparando-a para partir. Tudo bem, eu não havia combinado que iríamos juntos, mas esperava que ela me desse pelo menos isso, sua companhia enquanto íamos para a empresa. E seria uma ótima oportunidade para forçá la a me dar atenção.
- O que você está fazendo? - perguntei.
- Pegando minha moto para ir ao trabalho. - disse já sentando em sua moto.
- Eu pensei que você iria comigo no meu carro. - mostrei todo o meu desapontamento querendo sensibilizá la. Ao contrário do que eu esperava, Júlia mostrou uma frieza ainda maior que o esperado.
- Não pense que vou alterar as coisas que faço diariamente só por que estamos juntos. - ligou a moto e partiu. Simplesmente partiu.
Por alguns instantes fiquei parado, chocado, olhando o caminho feito por ela. Então eu acordei e meu corpo se moveu rapidamente.
Eu iria alcançá la e EXIGIRIA uma póstuma dela! Como era possível? Após tudo o que passamos, ela...! Voei com o carro a fim de seguí-la.
De fato consegui encontrá-la na avenida e dirigir próximo a ela. Eu mantive os olhos mais nela do que na pista. Quase provoquei um acidente por estar alheio a tudo que não fosse ela.
Eu sabia que tinha de ser paciente com ela pelas coisas que fiz, mas eu a queria tanto...! Eu simplesmente não iria mais esperar! Ela ia ter que me ouvir!
Estacionei em minha vaga com meus olhos nela. Júlia estava mais adiantada do que eu, chegaria ao elevador, iria para seu andar, e me evitaria como se eu fosse um leproso. Isso era tão típico dela agora! Tive de correr para alcançá-la. Júlia pegou o elevador para funcionários de baixa categoria e eu consegui impedir o elevador de seguir colocando-me entre a porta.
- Você nao vai pegar o seu elevador? - ela perguntou enquanto eu adentrava o elevador. Claro que ela queria que eu pegasse outro elevador e a deixasse em paz!
- Não me importo com o elevador que eu vou pegar desde que eu chegue aonde quero. - disse rispidamente.
Tudo bem, a situação estava caótica. Se continuasse do jeito que estava não demoraria a ela me chutar e reviver algo com o filho da putinha do tal Leonardo ou com outro cara. E eu não iria perdê-la, nem para ele e nem para ninguém! Eu precisava desabafar e fazer com que ela entendesse meu lado, e seria agora!
Olhei o botão de emergência. Certa vez o apertei para me aproximar dela. Eu usaria com o mesmo propósito de outrora. O elevador parou assim que apertei o botão.
- O que houve? Estamos presos aqui? - perguntou.
- Não. Eu apertei o botão de emergência e o elevador parou. - disse preparando o que diria.
- Por que fez isso João Pedro? - ela me questionou e projetou seu corpo para frente querendo alcançar o botão. Claro que eu não permitiria.
- Júlia, nós precisamos conversar. - disse com firmeza. Ao perceber que não teria escapatória, ela migrou para os fundos do elevador.
- Sobre o que você quer conversar? - perguntou com indiferença. Isso não seria nada fácil.
- Você sabe sobre o que nós iremos conversar.
- Se eu soubesse, eu não perguntaria - mostrava impaciência e eu mostrava que eu estava puto.
- Júlia, eu estou tentando. Mas se você não ajudar, nós não conseguiremos. - ela me olhou com confusão e isso só me irritou mais. - Estou falando desse muro que nos mantém afastados. Não finja que não existe tal muro. Eu estou tentando rompê-lo, mas sozinho não vou conseguir. Preciso que você tente também.
- O que exatamente você quer de mim? - perguntou.
Ótimo, ela queria fingir que não tinha responsabilidade no clima estranho entre nós. Definitivamente a conversa não seria fácil, para mim pelo menos.
- Quero que você faça algo! Não aja como se ainda fossemos inimigos! Eu quero que você seja a minha esposa em sua totalidade! Eu quero que você...
Que você me ame e me deixe amá la sem medo. Eu não disse isso, apenas pensei.
Júlia não tinha a menor idéia do quanto eu estava me reprimindo. Agora mesmo eu queria estreitar o espaço entre nós e tomá la com minhas mãos, meus lábios, minha língua...
- Mota, não dá!
- Claro que dá! Será que vai doer você me abraçar, me beijar, falar um pouco mais carinhosamente comigo? Você sequer consegue dizer que é minha esposa, pelo amor de Deus! - eu estava um caos!
Eu queria tanto que Ela cedesse e me deixasse tê-la como eu sempre quis! Por que nós ainda tínhamos de passar por isso depois dela ter me escolhido?
- João, eu entendo seus motivos para agir assim, para estar aborrecido, mas você precisa entender os meus que são muito mais lógicos que os seus. Tudo aconteceu rápido demais, entende? Eu ainda estou atordoada. Eu preciso de um tempo. Não prometo que tudo será perfeito, só seria perfeito se o passado fosse apagado, mas eu prometo tentar um pouco a cada dia. - suas palavras aquietaram um pouco o fogo de raiva e frustraçao que ardiam em mim.
- Eu sei Júlia, mas eu... Eu queria pôr um ponto final. Eu queria tê-la como eu sempre desejei. Esperei muito por isso. - desabafei sem me importar com o que ela pensaria de mim. E a atitude dela me fez pensar que talvez ela não me desejasse tanto assim.
- Sabe há quanto tempo eu desejo você? Eu desejo há muito mais tempo, desejei mesmo quando você me destratava. Então sua espera não é nada se comparada com a minha.
Suas palavras me amordaçaram. Como eu poderia falar depois daquilo? Quem eu era para exigir algo dela? Eu não era nada. Eu não merecia nada, mas ainda sim...
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"The contract" Adaptação Moju
FanfictionUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...