"Afinal, O que Quer De Mim?"

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Eu nunca bebia, não sabia beber, mas não consegui dizer não a João Pedro. Beberiquei o vinho, não era tão bom, eu preferiria beber coca, mas não poderia
contrariar Mota. Ele me olhava intensamente
enquanto bebia.

- João Pedro, por que me convidou para almoçar?
perguntei e me arrependi da pergunta. Não queria parecer aborrecida ou algo assim.

- Não sabe? - perguntou voltando a provar seu  vinho. Eu peguei minha taça e beberiquei a bebida mesmo não sendo do meu agrado.

- Não. Pode me explicar? Ainda é por se sentir grato por ontem?

- Não Júlia. Não é apenas por isso. Como posso
explicar.. Hmmm.. - estava perdido em
pensamentos e desejei poder ler mentes. Algo
brotou em mim: esperança.

O que? Eu com esperanças de ser outra coisa que
não uma simples funcionária? Eu devia estar
bêbada com o pouco que bebi.

- O que? -inclinei-me a frente dele e então minha
refeição veio.
Droga! João Pedro pareceu dar toda a sua atenção a sua taça de vinho e eu tive que dar atenção à comida.

Não foi fácil comer. Toda a fome que eu sentia
desapareceu. Ainda sim me forcei a comer e nossa! A comida era super deliciosa! No entanto vinha em pouca quantidade, eu não entendo gente rica que gasta tanto com tão pouco.

Não foi fácil comer com classe, ainda mais com tantos talheres sobre a mesa, mas procurei apenas me lembrar do básico:
coma devagar e com a boca fechada. João pedro passava a maior parte do tempo olhando-me, às vezes parecia sorrir. Ele era tão encantador!

Parecia estar apreciando estar comigo e isso me deixava tão feliz!
De tão distraída que fiquei, logo o meu prato estava vazio. Eu pensei em não tocar no assunto temendo decepção com as palavras de Mota.

Fiquei ocupada demais com minha taça e quando havia esvaziado a taça, João Pedro colocou mais para mim. Murmurei umn
"obrigado" e fitei a toalha de mesa.

- Então, retomemos ao assunto em foco. - disse e  se serviu de mais uma taça da garrafa de vinho. Fiquei tensa. O que ele iria falar?

- Você queria saber o porquê de eu convidá-la para almoçar, não é?- seu meio sorriso era uma coisa de louco. Eu estava
hiperventilando sem saber.

- Sim. - disse tão baixo que não tinha certeza se Mota  tinha me ouvido.
Ele segurava a taça mexendo o conteúdo do vinho para lá e para cá enquanto balançava.
-Serei direto, Júlia. Não é de o meu feitio enrolar.
O que? Que papo era esse? Oh droga ele vai me
despedir ou o que? Talvez me ofereça um cargo...

- É o que tem para me dizer? Não consigo imaginar o que. Vai me demitir ou algo assim? - cara eu odeio quando exteriorizo meus pensamentos, mas parece
um tic. Năo dá pra fugir disso. Mota sorriu.

- Claro que nãol Eu não demitiria alguém que tanto me fascina desde o dia em que impedi você de cair no corredor. - O que? O que ele disse? Estou com cera do ouvido?
Não, João Pedro não disse isso.

- Mentira.. - murmurei debilmente. Eu não
Conseguia me conter.

- Acha que estou mentindo? Por que mentiria pra você.

- Não sei João Pedro, mas acho difícil de acreditar que eu fascine você. Eu sou tão desinteressante! Eu.- João fez sinal para o funcionário que nos atendeu vir até nós interrompendo-me. Eu me calei instantaneamente.

- Sim senhor Mota?

- A conta. - retirou um cartão de crédito do bolso
interno do paletó que usava juntamente com
duzentos dólares. - Sua gorjeta. - disse apontando para as notas.
Quem dá duzentos paus de gorjeta? Apenas alguém rico.

O homem sorriu como um retardado e se
encaminhou para o caixa. Eu fiquei calada sem
saber como iria tocar novamente no assunto. João Pedro tinha um olhar perdido para uma persiana de vidro atrás de mim.

O funcionário trouxe o papel com a
conta e o cartão, tudo já pago. Mota levantou-se e eu fiz o mesmo. O clima estava tão estranho que pensei
em pedir a João Pedro para ir de ônibus para a empresa.

Enquanto seguia para seu carro olhei nervosamente
para meu relógio de pulso, eram duas e meia, meia hora de atraso. Eu estava me sentindo leve e um pouco tonta.

Cambaleei duas vezes e nas duas senti a mão de
Mota em sinal de apoio. E então estávamos dentro do carro. Eu fiquei mortalmente calada e prometi a mim mesma não falar nada de constrangedor, ou seja, nem tocar no assunto que estávamos falando.
João Pedro dirigiu direto para a empresa e assim que ele estacionou seu carro eu me apressei em sair.

- Obrigada pelo almoço e pela carona. Tenha um
bom dia. - falei rapidamente desafivelando o cinto e tentando abrir a porta, mas não consegui. João segurou-me pelo braço impedindo-me de sair.

- Espere. Temos algo a tratar antes. - ele disse e eu congelei. Eu não estava preparada para o que quer que viesse agora.

- So-sobre o que? - perguntei enquanto gaguejava.

- Não acabamos nossa conversa. Você dizia que
não sabia os motivos por eu sentir fascínio por
você e quando eu ia responder o funcionário do
restaurante nos interrompeu.
Eu nem conseguia olhar para a cara de João Pedro. Isso não podia estar acontecendo, podia?

- Ah, sim. Olha, eu sei que você está muito
agradecido com o que aconteceu, mas qualquer um teria feito o que eu fiz então..

- Você năo agiu como qualquer uma. Você foi
maternal. As outras pessoas năo seriam assim.
Eu fiquei espantada. Naquele instante eu tinha
todos os pensamentos possíveis com Mota, menos pensamentos maternais. Se bem que.

Quando o vi frágil daquele jeito eu quis protegê-lo. Talvez ele tenha interpretado isso como sentimento maternal e não como amor.

- Pode até ser, mas... - virei-me para ele a fim de
simplificar tudo e disse - Afinal, o que você quer de mim?- perguntei com a voz tremula de expectativa e medo.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora