Pov's Júlia
Minha cabeça girava loucamente. A luz machucou meus olhos quando eu os abri.
Demorou um pouco até eu reconhecer meu quarto, ou melhor, o quarto que João Pedro me dera após o casamento. Como vim parar aqui? Estava seminua trajando apenas um lingerie e um cobertor me cobria. Sentei na cama e olhei o quarto, tudo estava calmo ao meu redor. Procurei pelos fragmentos de memória da noite anterior e logo eles vieram.
- Júlia, você compra e nós escolhemos! Izabel a disse enquanto olhava as araras com roupas de uma boutique. Eu assenti. Naquela boutique gastei todas as minhas economias em roupas escolhidas por Bela e Duda
E mais memórias vieram deixando-me ainda mais zonza.
Eu olhei para Mota que me fitava. Eu queria avançar em seu pescoço e esganá lo, mas nada fiz. Passei por ele emitindo a frieza que até então ele dirigia a mim e sai para cair na gandaia.
As memórias da boate eram extremamente falhas. Lembro-me das luzes ofuscantes, da música alta, dos risos, bebida, dança e...
- Meu pai amado! - disse enquanto a única lembrança que nao estava tao embaçada era vivida por mim. Lembro de um rapaz bonito que arrastei para fora da pista, lembro do seu abraço, seu hálito em meu rosto...
Era oficial: e tinha traído João Pedro.
Sorri com o pensamento.
Apesar do banho gelado, do comprimido para dor de cabeça, eu estava mal. Nunca fui de beber e havia bebido mais do que provavelmente beberei em toda a minha vida. Apesar de sentir um vazio no estômago eu sabia que se comesse em excesso eu iria vomitar. Fiquei bebericando um chá que Magdalena fez para mim enquanto lia o jornal da manhã.
Infelizmente eu tinha que trabalhar, mas não fiquei triste com o fato, mesmo estando de ressaca. Agora O que eu mais queria era ficar longe da casa, de João Pedro. Consegui me controlar em nosso primeiro encontro após saber que ele me traía, mas não saberia dizer se conseguiria essa proeza novamente. Para a minha infelicidade, ele acordou antes que eu saísse.
Enquanto bebericava o meu chá e mantinha meus olhos fixos no jornal, João Pedro caminhava até a mesa e sentava se próximo a mim. Eu podia sentir seus olhos me sondando.
- Ah entao acordou cedo. Estou surpreso! Com a bebedeira de ontem pensei que teria que acordá la também! - falou num tom sarcástico.
Não me movi. Continuei a agir com naturalidade, fingindo ler uma matéria qualquer do jornal. Eu não ia perder a cabeça, já tinha passado muito tempo bancando a sentimental.
- Hei, está me ouvindo? Bebeu tanto que afetou sua audição? - ele disse ríspido, provocativo. Eu não ia me estressar com esse infeliz!
Com toda a calma do mundo, olhando-o com uma indiferença tediosa, eu o encarei. Minha cabeça apoiada em uma das mãos e a outra mão segurando o jornal.
- Está falando comigo? Ah é que estou tão acostumada a ser ignorada que não notei - falei num tom sarcástico.
O Mesmo arregalou os olhos como se tivesse levado um soco no estômago. Eu sabia que não conseguiria agir com frieza durante muito tempo, não quando minha vontade era de pegar a faca de cortar pão de cima da mesa e degolá lo.
Levantei pegando minha bolsa que estava em cima da mesa.
- Aonde vai? - Mota perguntou - Trabalhar - disse e segui para a porta.
- Você sempre vai comigo - ele disse, a voz um pouco estressada.
Virei e lancei uma expressão de pura zombaria.
- Odeio as músicas que você ouve naquele carro, prefiro as músicas escolhidas pelo motorista de ônibus - e assim sendo eu saí.
Não pude me segurar. Quando entrei no elevador para descer, soltei uma gostosa gargalhada. Eu até tinha esquecido o som de minha risada durante os dois meses de depressão que vivi. Após rir histericamente eu olhei minha face no espelho ao fundo do elevador.
Eu estava um horror com olheiras e sem maquiagem para disfarçar. O pior foi perceber, naquele momento, que eu tinha perdido Ele. A única coisa que eu poderia ter era a minha vingança, nada mais. E doía, doía por que mesmo sentindo ódio por ele, uma parte de mim ainda o amava.
- Como eu sou ridícula! - murmurei para a imagem decadente no espelho
...
- Bom dia! - Bela me cumprimentou.
- Bom dia! - murmurei com a voz cansada sentando-me em minha mesa.
- Credo Júlia sua cara tá horrível! Por que não passou um pouco de maquiagem? - izabela perguntou levantando-se e vindo em minha direçao.
Eu mal sabia onde estava Bela - resmunguei juntamente com um bocejo. A mesma voltou a se sentar.
E ai, como foi com o Mota? Você só nos contou como foi para ele vê-la bonita.
Eu contei? - virei para ela Bela me encarou.
- Deixe-me adivinhar: você ficou tão porre ontem que não se lembra de muita coisa, não é? - ela perguntou com uma expressao facial engraçada no rosto.
- Acertou! Não me lembro de quase nada. Que tal você refrescar a minha memória com um resumo da noitada?
Izabela fez cara de pensativa enquanto murmurava um "hmmmm" e entao botou tudo para fora.
- Você gastou uma fortuna na boutique em que a levamos. Lembra-se disso?
- Não, mas vou me lembrar quando verificar minha conta bancária. E o que mais? - eu perguntei ansiosa pela parte da festa em que eu fico com um cara, ou penso ter ficado.
- Após as compras você foi para a sua casa, se arrumou. - Duda e eu fomos pegá la. Você nos contou no carro que João Pedro ficou boquiaberto ao vê-la e que pensou que estava arrumada para um jantar que ocorreu na casa da sua cunhada. Fomos para uma boate, mal chegamos e você foi para a pista. Dançou feito uma louca! Nem mesmo eu tive pique para acompanhá la. Você chamou muito a atenção dos rapazes, até dos comprometidos. Um carinha muito lindo dançou com você. Eu pensei que você tinha ficado com ele, já que sumiu da pista, mas...
- Mas? - eu não gostava do "mas". Izabela franziu os lábios.
- Quer mesmo saber da parte deprimente da noite? - ela perguntou deixando-me mais alarmada. Dei de ombros para disfarçar a tensão.
- Pior do que está não pode ficar - murmurei olhando para o piso.
- Você veio minutos depois de ter desaparecido com ele. Sentou em nossa mesa e pediu algo alcoólico. Disse que não conseguiu ficar com o cara, que viu o rosto do Mota quando fechou os olhos para beijá lo. Começou a chorar e a encher a cara se lamentando o tempo todo.
Ouvir aquilo me chocou. Então eu não tinha conseguido afinal. Os laços que me prendiam a João Pedro ainda eram fortes demais para simplesmente pular no pescoço do primeiro.
- E depois? Perguntei.

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"The contract" Adaptação Moju
FanfictionUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...