- Não há o que conversar João. Eu só estou me prevenindo de uma gravidez indesejada. Só isso. Eu pensei nisso por nós dois. Acredito que você não deva estar ansioso para ser pai.
Naquele momento eu entendi. A imagem que passei não foi uma das melhores e Júlia acreditava que eu não queria ser pai. Ela ainda conservava uma imagem nada boa de mim, mesmo com minhas tentativas de convencê-la de que eu havia mudado. Eu precisava desfazer qualquer imagem negativa que tivesse de mim.
- Você tirou uma conclusão precipitada. Deveria ter conversado comigo antes. Acho que só eu posso falar por mim, assim você saberia se desejo ter um filho ou não. - para ser sincero nunca pensei em ter filhos, costumava repudiar a ideia. Mas agora... Eu seria a favor de qualquer coisa que me atasse ainda mais a minha mulher.
- E você quer ser? Você é meio jovem para isso, não é? Tem vinte e três.
- Eu não sou jovem Júlia. Homens se tornam pais aos dezesseis hoje em dia. Vinte três é uma idade perfeita.
- eu costumava pensar que filhos eram a última coisa que um homem deveria ter. Vinte e três, a minha idade, costumava ser o tipo de idade em que você aproveita a sua vida. Eu realmente mudei minha forma de pensar após descobrir que amava Júlia.- Mas você já pensou no assunto alguma vez? - perguntou sondando-me com o olhar.
Tinha que tomar cuidado agora. Não gostaria de confessar que nunca pensei no assunto e até repudiei a ideia, motivo pelo qual não quis fazer sexo com ela após o casamento.
- Bom... Eu nunca havia pensado na possibilidade até agora. Mas eu sempre pensei que você queria. Quero dizer você tem aquele estereótipo de mulher que deseja casar e ter filhos então eu pensei que você queria ser mãe. - dizer a verdade me pareceu o melhor. Eu não queria mentir, já havia mentiras demais nos separando.
- Isso não me passou pela cabeça. Não me sinto preparada para ser mãe e você certamente não está preparado para ser pai. Ao ouvir essas palavras, algo me ocorreu. Agora ela não pensava em ser mãe, mas houve alguma vez em que pensou? Poderia apostar que a ideia lhe parecia boa quando estava com Leonardo.
- Não existe isso de estar preparado ou não! Ninguém nasce preparado para ser um pai ou uma mãe. Se tivéssemos um filho eu faria de tudo para ser um excelente pai. Eu iria administrar isso bem. - esbravejei surpreso com minha própria cólera. Antes eu daria graças a Deus por ela pensar em proteção, mas agora... Incomodava me a ideia de que talvez Júlia pensasse que ter um filho comigo era repugnante.
- Você mal conseguiu administrar um casamento, que dirá um filho. - suas palavras me tocaram como ácido na pele.
Era evidente que a mesma se lembrava do passado e estava remoendo os fatos. Seria sempre assim. Júlia não recuperou sua confiança em mim, embora eu tenha tentado tanto até agora!
- Vou dormir. - anunciou sem me olhar. Estava irritada. Nossa conversa havia despertado lembranças ruins. Merda! Por que eu insisti em falar de coisas dolorosas?
- Espera! Olha, não queria aborrecer você. Não queria discutir. Quando sugeri que tomássemos banho juntos - eu tinha outra coisa em mente. ela parou ao me ouvir. Eu sabia para onde a conversa iria chegar; ela também sabia.
- O que tinha em mente? - fechou o roupão. Se eu não me apressasse em falar nossa primeira noite naquele lugar paradisíaco seria um desastre.
- Seduzir você e convencê-la a fazer amor comigo aqui antes de dormir. - falei tristonho. Júlia reagiu ao meu modo infantil de agir com um sorriso.
- Um ótimo plano, mas hoje dormirei cedo. - disse aumentando meu aborrecimento.
Seu movimento brusco deixou seu andar instável. Eu sabia o que aconteceria, mas nada pude fazer para evitar. Júlia derrapou no chão.
- AI!
-AMOR!! - saí rapidamente do Box para socorrê-la. Ela estava deitada no chão, já se levantava quando a alcancei.
- Você está bem? - perguntei preocupado. Júlia tinha o rosto crispado pela dor e uma mão na testa.
- Você se machucou? Deixe-me ver o seu rosto. - puxei sua mão. O local onde até então ela cobria com a mão estava vermelho e já inchava.
- Não é nada. Eu não bati a cabeça no piso completamente. Amorteci a queda com os meus braços. - Any se levantou e eu fiquei preparado para ampará la caso voltasse a cair. Voltei ao Box do banheiro desligando meu chuveiro e peguei meu roupão.
- Eu vou chamar um médico para olhá la, ou você quer que eu a leve ao hospital? - sugeri enquanto a via ir até a sua bagagem. A mesma remexeu lá pegando algo, parecia ser um kit de primeiros socorros.
- Não precisa, não foi nada grave. Vou passar uma pomada e cobrir o ferimento com algo e vai ficar tudo bem. - ela caminhou até a cama deixando o kit de primeiros socorros lá em cima. Mas acho que antes eu vou trocar de roupa.
Eu acompanhei seus movimentos e logo mais efetuei a mesma coisa. Troquei de roupa, trajando agora um pijama ao invés do roupão. Esperei até ela estar pronta, ela ainda demorou penteando os cabelos, e fui para o seu lado quando ela sentou na cama.
- Deixa que eu cuide do ferimento. - pedi sentando-me em frente a ela.
- Eu posso fazer isso. - protestou.
- Olhei sua testa - havia um ponto bastante inchado. Aquilo me preocupou. E se o ferimento não fosse insignificante como ela fazia parecer? - Eu faço - falei num tom decidido.
Júlia pareceu desistir e ficou quieta enquanto eu massageava a área com uma pomada anti inflamatória. Era óbvio para mim que tocar o local lesionado estava causando dor nela, mas procurou disfarçar. Peguei um band aid e o retirei da embalagem, colocando no local onde havia um galo.
- Deveríamos ir ao médico. Você bateu a cabeça no piso e teve uma concussão. E olha só o galo que ficou na sua testa! - toquei levemente o galo.
Eu temia que algo mais grave tivesse ocorrido e ela só percebesse isso quando fosse tarde demais. Talvez eu estivesse sendo exagerado, mas não estava disposto a perdê-la por algo tão pequeno.
- João, não foi algo grave. Felizmente eu amorteci a queda com os braços. Isso não é nada. Um pouco de pomada no local e Tylenol vai resolver. - ela tentava me dissuadir a levá la a um hospital
- Mas amor, não devemos menosprezar o ferimento por menor que seja. E se esse golpe se transformar em um aneurisma ou algo assim? - eu a encarei já apavorado com as coisas que surgiam em minha mente. Quando olhei a expressão incrédula dela, e divertida pela minha excessiva preocupação, eu parei. - Quer os comprimidos agora? - pego para você.
Eu levantei indo até a mala dela em um local onde deviam estar alguns remédios que certamente ela se lembrou de trazer. Não demorei a encontrar o que procurava: uma cartela de Tylenol, remédio para a dor. Dei os comprimidos a ela e trouxe água da pequena cozinha que havia em nosso quarto. Júlia tomou sem pressa o remédio e após isso se deitou na cama. Devia estar cansada e os remédios certamente agiriam aumentando o seu sono.
- Sabe, acho que você me jogou uma praga por eu não ter cedido no banheiro. Por isso eu caí. - disse num tom brincalhão enquanto eu deitava ao seu lado. Eu a puxei para mim. Era bom poder tocá-la com certa liberdade, bem diferente de antes. Júlia já não via o ato de tocá-la como um desrespeito. Aceitava com naturalidade isso.
- Credo amor eu jamais faria isso! Eu sei que a palavra tem poder, não falaria algo para prejudicá-la. - falei entre risos, maravilhado por ela estar brincando comigo. Apesar de nos entendermos, ela não era de brincadeiras.
- Não acho que a palavra tenha tanto poder assim. Se fosse por isso você não deveria nem estar entre os vivos. - disse enquanto ria. Deitou sua cabeça em meu peito e me abraçou com um braço. Meu corpo inteiro relaxou com o seu toque despreocupado.
- Puxa, você queria tanto assim me prejudicar no passado? Eu espero que você não seja daquelas mulheres que, sem mais nem menos, descarregam a raiva no marido com uma faca enquanto dormem. - tentei brincar com o assunto, mas a verdade era que aquela conversa estava trazendo algo à tona, e eu não gostava disso.
- Não se preocupe... Isso já passou. Ela falou com suavidade, mas eu não acreditei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
"The contract" Adaptação Moju
FanfictionUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...