"Notei que os olhos dele me avaliavam"

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- Nós a levamos para casa, você estava completamente bêbada! Ninguém conseguiu fazê-la parar de beber. Nós a deixamos na porta da cobertura e entao saímos. O resto eu não sei. Pronto! Agora como foi a sua manhã? - ela perguntou empolgada. - Sorri.

- Dei um gelo nele. Ele está furioso comigo. Eu nao ligo, mas...

- Mas? Ah Júlia não me venha com arrependimento!

- Não é isso Bela. É só que... Eu não vou obter a vingança que eu quero simplesmente ignorando-o. O João Pedro pode até ficar aborrecido, mas nada mais que isso. Talvez seja melhor apenas pedir o divórcio e...

- AH NÃO ME VENHA COM ESSE PAPO! Júlia é isso o que ele quer, eu aposto! Não raqueje agora amiga!

E Izabela estava certa, claro. Dar o divórcio tornaria tudo perfeito para ele e eu continuaria na merda. Ele tinha que pagar de alguma forma!

- Tem razão. - disse olhando-a. Izabela sorriu satisfeita.

- Eu sei. - ela retribuiu o sorriso.

O restante do dia transcorreu quase que normalmente. Ainda pensava em Mota, ainda pensava no que ele havia feito comigo, mas a dor estava um pouco menor. É claro que ajudava o fato de eu estar tão imersa no trabalho e no fato de não vê-lo. No entanto quando eu o visse eu sabia que poderia perder o controle. Até agora consegui me controlar, mas até onde meu controle suportaria? Quando eu apenas pensava nele eu sentia o ódio me queimar.

Na hora do almoço fui com as meninas para o refeitório da empresa. Contei a Duda a atitude
de Mota esta manhã e ouvi mais detalhes de minha noitada anterior com elas. Eu estava me sentindo bem, pelo menos bem melhor do que pensei que estaria. Mas eu não conseguia sorrir, fingir sorrir sim, mas sorrir era diferente. Fiquei preocupada, talvez eu não conseguisse mais sentir o que era ser feliz.

- Olha quem está aqui! - Bela disse. Iria me virar para olhar, mas ela segurou minha cabeça com ambas às maos. - Você nao vai olhar! É o Mota.

Assim que ouvi o nome dele congelei. O que ele estaria fazendo no refeitório?

- Ele está procurando alguém... - Duda murmurou. - Deve ser você, Júlia. - sorri de forma sarcástica.

- Definitivamente eu não sou o motivo. Deve estar procurando outra pessoa. - disse e minha voz falhou. Eu ainda estava tão ferida! Duda percebeu, afagou minha mão por cima da mesa.

- Jú, amiga, ainda está doendo, não é? - perguntou com brandura. Fiquei encarando meu prato. É claro que doía! - Ei, talvez vingança não seja o caminho. Isso vai acabar mal para você. Por que simplesmente não pede divórcio?

- E deixar a diversao de lado! Poupe-me dos seus conselhos Maria Eduarda Matte! Eu sei o que é melhor para Júlia e o melhor é botar um belo par de chifres nele! - Isabela disse entusiasmada. Sorri tristemente.

- Bela, por mais que o Mota mereça isso, eu não vou conseguir. Isso nao sou eu, entende? Não posso mudar assim.

- E você não precisa mudar Júlia. - Bela disse com convicção. - Seja você mesma. Olha se quiser continuar uma pamonha por detrás das cortinas, tudo bem, mas quando estiver diante dele aja como um vadia louca por sexo e... -
Duda calou Bela com a mão. Izabela retirou a mão de Duda de sua boca. - Tô brincando! - ela não estava brincando, nós sabíamos. - Mas curtir a night você pode, nao é? Ontem foi ótimo e hoje será melhor. Que tal?

- Eu nem me recuperei da noitada, essa eu passo. Duda disse.

- Então vamos só nós duas e nada de bebida em excesso. Eu não levo jeito para cuidar de porre.

- Tudo bem Bela. Pegue-me em casa. Afinal é domingo amanhã, vou poder descansar. Mas acho que não vou dormir em casa. Posso dormir na sua casa?

- Claro Júlia! Vamos nos divertir muito! Ah e estou querendo alugar seu apartamento pra valer.

- Pode ocupá lo, depois acertamos o aluguel. Ele está mobiliado. - disse.

- Então vou providenciar a mudança o quanto antes! Eu farei uma festa para comemorar a minha emancipaçao! Você deixa, né? - Izabel a perguntou com os olhos lacrimejantes. Bufei.

- Faça o que quiser. - disse numa voz entediada enquanto empurrava a comida que comprei.

Eu me agarraria a qualquer desculpa para poder ficar longe de casa, se preciso for sairia todas as noites com Izabela. Eu precisava manter minha mente ocupada para não pensar.

Fim de expediente. Era comum eu esperar por João Pedro ir para casa com ele. A única coisa que o desgraçado me dava era carona! Não mais. Saí às pressas com Bela e Duda Fui para casa de ônibus. Apenas cumprimentei as empregadas e segui para o meu quarto. Eu queria sair antes que Mota chegasse.

"Talvez ele chegue de madrugada por estar com alguma vadia como ele fazia antes" pensei cheia de fúria.

A primeira coisa que fiz ao entrar em meu quarto fo olhar meu closet. Fiquei assustada com a quantidade de sacolas lá, muito mais do que havia imaginado.

- Nem quero ver o rombo nas minhas finanças. - estremeci com minhas palavras.

Haviam muitas roupas bonitas, difícil escolher. As roupas da noite passada estavam limpas e passadas em cima da cama, obra de alguma das empregadas. Guardei a roupa e escolhi o que vestir: saltos cor de caramelo, um vestido tomara-que-caia preto com detalhes em caramelo no busto.

Tratei de tomar meu banho passando mais tempo do que deveria. A água em minhas costas parecia me deixar mais relaxada.
Após sair comecei a me arrumar lembrando-me
de alguns toques que Bela e Duda me deram durante o dia sobre acessórios e maquiagem.

Nunca fui de me arrumar, eu não gostava de gastar com inutilidades. Agora parecia imprescindível estar apresentável. Eu queria mostrar que eu poderia ficar tão bonita quanto as prostitutas que João Pedro assediava. Eu queria mostrar o que ele estava perdendo, ou pelo menos essa era minha intenção. Talvez eu estivesse sendo ridícula, não tinha como eu não afeta - lo. Mas eu precisava fazer algo caso o contrário eu ficaria perdida.

Já estava quase pronta, penteando meus cabelos que estavam soltos e não tão rebeldes, quando um vulto passou pela minha porta. Ignorei. Continuei a me embonecar usando mais maquiagem que o habitual, querendo ficar irresistível para os olhos de Mota ou para os olhos alheios.

Peguei uma bolsa de mão dourada, olhei para mim mesma no espelho sentindo-me apos tanto tempo bonita. Sorri. Eu era tão diferente com um pouco mais de produção! Perguntei me estupidamente se eu teria mantido João Pedro fiel e amoroso caso fizesse isso antes do nosso casamento falir. Queria me socar. Poi que eu não conseguia me livrar da sensaçao de que a culpa era minha?

- Estúpida - murmurei para a minha imagem no espelho e saí do quarto. Foi repentino.

Ele estava de pé, olhando-me fixamente.

Por alguns instantes ficamos parados, nos encarando, sem sorrir. Notei que os olhos dele me avaliavam e tentavam reprimir a surpresa em me ver tão arrumada. Eu só conseguia sentir ódio. Travava meu corpo para não fazer nada precipitado Quando vi os labios de Mota se entreabrirem, na certa para falar algo, eu passei por ele, segui rapidamente para fora do prédio.

Ele não me seguiu claro. Fiquei um minutinho no saguão até Bela aparecer. Ela estava em seu carro, o que usava só para sair já que ele viva sem gasolina. Para a minha surpresa eu vi que ela não estava só no carro. Gustavo estava no lado do carona e no banco de trás estava um rapaz moreno que nunca vi.

- Vem Júlia! ela chamou.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora