"Ele Não É Homem Pra Nós"

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Pov's Júlia

Eu não sabia o que fazer, como agir. Senti-me um servo diante de um leopardo. Eu me endireitei, mas não consegui tirar os olhos dele, Mota me olhava com olhos perscrutadores, suas mãos ainda em minhas costas. Repentinamente, como que percebendo a situação no mínimo constrangedora em que estávamos, João Pedro afastou-se, mas seus olhos ainda estavam em mim. Após fixar em meu rosto, seus
olhos viram meu crachá.

- Eu... Obrigada, eu.. - oh cara pela primeira vez
estive próxima a ele e não sabia agir como um ser humano normal, fascinada demais por ele.
Dei um passo para trás, meus olhos nele. Não recusei mais um passo, João Pedro me deteve simplesmente segurando meu crachá, seus olhos ali.

Sondou minhas informações ignorando-me e então soltou o mesmo. Eu me afastei trêmula com o ocorrido. Por que ele tinha me detido e olhado com tanto interesse
meu crachá? Sem mais delongas eu caminhei, ou melhor, corri para a minha mesa.

- Hei Júlia, o que houve? Você está pálida desde que chegou do refeitório. Comeu algo que não fez bem? - Bela perguntou. Eu ergui minimamente minha vista para sua direção fingindo concentrar-me em
um trabalho no computador.

- Nada não Bela. - murmurei.
Eu poderia contar a ela não poderia? Estranhamente eu me fechei.

Quero dizer nada realmente aconteceu apenas João Pedro Mota, o cara por quem sou perdidamente apaixonada, olhou-me pela primeira vez enquanto me ajudava a não cair estatelada no chão e não somente isso: ele olhou fixamente para
meu crachá como alguém que colhe informação.

Aquilo não tinha sido nada afinal, iria guardar
para mim mesma. Ainda sim eu podia sentir minha pulsação ainda acelerada, a respiração irregular.

Que efeito Mota tinha sobre mim afinal? Eu sabia, eu sentia, era um efeito devastador. Comecei a imaginar, talvez uma bobagem, mas..

Algo iria acontecer, eu podia sentir bem lá no furndo. Algo que mudaria minha vida.

- Ah, eu vou sair hoje com o Gustavo , um amigo dele e a Duda. Quer vir junto Júlia?- Bela  perguntou.
Acordei de meu devaneio.

- Talvez outro dia. Vou direto para casa, estou
cansada,- disse.

- Júlia, você não aproveita sua vida mesmo! Desse jeito vai ficar para tia, sabia? Nessa idade e se isolando desse jeito. Aposto que nunca fez sexo! - Bela disse divertida, eu ri.

- É isso ai Bela, eu sou virgem. - falei e vi a
descrença cruzar seu rosto.

- Meu Deus! Cara, você tem que se apressar, sabia?
Com essa idade e ainda virgem?

- Ei, eu só tenho vinte e um. - disse bestificada.
Qual era o problema de ser virgem nessa idade?
Nenhum. Mas nunca ter beijado aos vinte e um era outra história.

Fiquei feliz por não ter me aberto
completamente a Bela.

- Bem Júlia, para mim você está perdendo tempo.
Não me diga que está se guardando para o Mota ou coisa parecida? Por que se for isso você vai morrer virgem minha amiga. João Pedro não é
homem para meras mortais como nós.

O discurso de Bela mexeu comigo não somente
por que ela estava exaurindo minhas esperanças
de tê-lo, mas também por que ela acertou na mosca quanto a me guardar para ele. Eu sei, pura idiotice.

O cara nem sabia de minha existência! Ainda sim eu esperava irracionalmente ansiosa pelo dia, pela concretização do meu sonho.

Tê-lo era meu único desejo. Eu não me importaria em ser para sempre uma simples contadora morando em um apartamento pequeno. Se eu tivesse João para mim,
eu não me importaria nem mesmo de ser uma
indigente.

Muitas pessoas iriam supor que meus
sentimentos são superficiais, que só gosto dele pela sua beleza, status, fortuna... Não, não era assim pra mim. Eu não me importaria que Mota fosse pobre, tivesse alguma deformação proveniente de doença ou acidente, eu iria querė-lo sempre.

Era bobagem esperar, mas eu esperava. E me
frustrava toda noite quando, ao final do experiente eu ia embora sem ele. Como agora.

Bela tentou junto a Duda convencer-me a sair. Eu inventei a boa e velha dor de cabeça e fui para meu apartamento. Estranho dizer, mas...

Enquanto seguia para meu apartamento, de ônibus é claro, me senti um pouco vigiada. Peguei-me olhando em volta algumas vezes. Por fim esqueci e fui para meu apartamento, para meu refúgio.

Enquanto jantava..
Enquanto tomava meu banho...
Enquanto me vestia...
Enquanto escovava meus dentes..
Enquanto assistia ao noticiário esperando o sono
vir..
Enquanto eu adormecia...
Em meus pensamentos os olhos castanhos de João Pedro sondando-me. Seu cheiro, seu calor... Alguma coisa iria acontecer, uma esperança crescente no peito.

Fosse o que fosse eu estava preparada. Eu sempre estava preparada para enfrentar os momentos de dificuldade, talvez só não estivesse preparada para enfrentar os momentos de felicidade e, por Deus, eu queria vivê-los!

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora