"Júlia era impecável"

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Se ela iria cumprir o papel de esposa precisaria
usá la, mas a verdade é que eu só queria vê-la usando o acessório mais uma vez. Por que aquele anel, apesar de tudo, era a prova incontestável da nossa união.

- Trouxe algo para você usar. - disse pegando o anel do bolso.

- Já estou com acessórios demais. - disse agressiva. Não consegui conter uma risada.

- Mas se você vai cumprir o papel de esposa terá de usá la. Tome. - esperei que Júlia me olhasse e quando ela o fez eu estendi a mão com a aliança na palma.

Franco pareceu chocada ao ver o objeto. Eu entendia sua reação. Ela jogou o aro de ouro no chão do seu quarto crente de que o objeto pararia no lixo. Logo se recompôs e pegou com rapidez sua aliança colocando-a em seu colo.

- Não vai colocá la? - perguntei.

- Coloco quando estivermos na porta do local onde vai ocorrer o evento. - falou com descaso. Sempre agindo como se eu fosse um inseto. Isso me incomodou.

Encostei o carro no meio fio.

- Por que está parando? - perguntou alterada. Virei me para ela e peguei a aliança. - O que está fazendo?

Eu a ignorei enquanto colocava a aliança em seu dedo anelar. O ato em si me perturbou. Lembrei me do dia do nosso casamento. Júlia chorava copiosamente porque o ato de pôr o anel tinha muito significado, mas para mim, na época, não tinha. Como eu pude estragar tudo?

Notei entao que Franco me observava. Afastei me e voltei à direçao.

- Quanto tempo nós ficaremos no evento? - perguntou. Fiquei surpreso. Achei que ela me ignoraria.

- Até eu receber um prêmio, ai nós saímos.

Vai ganhar um prêmio? De que? - perguntou com genuíno interesse.

- Sei lá, eu não dei atenção quando li o convite. fui sincero. Eu nunca liguei para isso, mas tive a impressao de que ligaria um pouco mais devido a presença de Júlia.

- Você nunca dá atenção em nada. - falou amuada. Estaquei.

Por que para mim suas palavras tinham duplo sentido, quase uma indireta? Bom já que a intenção de arrastá la para o evento era de seduzi la, eu poderia começar desde agora.

- O prêmio não merece atenção, mas há alguém que merece. Quer saber quem é essa pessoa? - perguntei numa voz arrulhada.

- Não. - murmurou olhando para o outro lado.

- Mas eu vou dizer mesmo assim. A única pessoa que terá minha atenção neste evento é você Júlia. E a propósito você está encantadora!-  disse ignorando o fato de que ja estávamos no local do evento e olhando fixamente para Ela.

E ela estava linda, como uma deusa grega em Terra. Eu me sentia, mesmo distante fisicamente dela como eu estava, como um adolescente excitado. Júlia, ao ouvir o que eu disse, olhou raivosa para mim mandando o dedo do meio. Não resisti e gargalhei. Estacionei em frente ao prédio, dois funcionários vieram nos auxiliar.

Vi que ela estava diante das escadas, parecendo temerosa até de subir os degraus. Hesitava.

- Comporte-se mocinha. - falei ao ficar ao seu lado.

- Claro senhor Mota. A partir do momento em que eu passar por esta porta eu vou bancar a sua esposa. - disse num tom áspero.

Peguei sua mão sem hesitar, apreciando a maciez da mesma. O contato despreocupado com sua pele acendeu me.

Já fazia algum tempo que eu não me aproximava demais de uma mulher. Caminhamos lentamente para a entrada do evento. Fiquei atento a Júlia vendo sua expressão facial antes dura mudar abruptamente para um rosto tranquilo, quase risonho.

Antes que eu pudesse fazer algo, dizer algo, os anfitrioes do evento vieram ao meu encontro.

- Ah senhor Mota! Finalmente! Estávamos a sua espera. - Richard nos cumprimentou com entusiasmo.

- Tive alguns contratempos. Richard, eu quero apresentar minha esposa. Júlia, este é o organizador do evento. enquanto falava Richard pegou a mão dela e a cumprimentou com um beijo na costa da mão. Seus olhos brilhavam.

Lembrei me que, após meu casamento, quando ia a eventos, sempre perguntavam onde estava minha esposa. Acho que nunca entenderam porquê eu não a levava aos eventos empresariais. Era difícil de admitir, mas naquela época eu não só não queria a companhia de Júlia como também tinha vergonha dela, pela sua origem humilde.

- Finalmente conheço a senhora Mota. Agora sei por que João Pedro não a trazia para o evento, temendo que sua linda esposa seja alvo de cobiça. - não gostei do que disse, eu nao havia pensado na possibilidade de minha mulher ser alvo de gaviões. E eu bem sabia que o que não faltava naquele evento eram filhos, representantes de seus pais, loucos por uma aventurazinha enquanto tinham de participar de um evento tao chato. Bom agora é tarde, eu nao poderia pegá la pelo braço e arrastá la para fora.

- Acredito que meu marido não me trouxe antes por que não queria que eu me entediasse com os bajuladores que o rodeiam neste evento como abutres em cima da carne, senhor Richard.

Franco soltou sem mais nem menos estas palavras. Estaquei.

Apertei sua mão em um aviso para que retirasse o que dissesse, mas Ela me ignorou.

- Ah, bem... Eu lhes guiarei até a sua mesa. - Richard disse. Eu a olhei com fúria.

Eu a havia pagado,Júlia não deveria agir como uma pessoa amarga, nao naquela noite.

Ela sorria agindo como a esposinha perfeita, mas sua felicidade era tão forçada que soava falsa. Bom... Eu não poderia cobrar muito dela.

Fui cumprimentado por todos como de costume e apresentei Franco como minha esposa. Todos foram muito cordiais com ela, mas vi em seus olhos o espanto com a presença dela. Sabiam que eu era casado, mas nunca, até então, a viram.

Júlia era impecável, ainda mais perfeita que a melhor das anfitrias. Eu tinha me acostumado a garota ríspida e carrancuda, tanto que estava surpreso com essa nova persona dela. E ela estava tão encantadora! Ah como eu queria manter aquele lado dela!

Sentamos em uma mesa próxima ao palco. Eu sei que deveria ficar calado, mas diante da diferença de Júlia antes e Júlia após a proposta eu tinha que comentar a situação.

- Nossa, eu não conhecia este seu lado tão simpático! - falei me aproximando mais dela, coloquei meu braço em seu ombro. O simples toque em sua pele me causava arrepios.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora