"E quem disse que eu sou casada?"

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Maratona = (5/15)

Eu olhava para o meu café da manhã.

- Ela me ligou ontem à noite avisando, eu disse que não iria. - falei com descaso.

Eu odiava quando João Pedro puxava papinho comigo, algo que se tornou frequente.

- Qual é o problema de irmos? - perguntou com rudeza.

- Eu não tô a fim de ir com você. Ponto. Respondi a pergunta ou está com atraso mental e não entende?

Eu o olhei com a expressao fria. O rosto dele estava vermelho de raiva.

- Que inferno! Eu não estou sendo mal educado com você! Dá para agir como um ser humano civilizado? - ele esbravejou. Bocejei.

- Você tem sorte de eu olhar pra sua cara. - falei pegando minha bolsa.

O mesmo nem contestava quando eu saia dispensando sua carona, virara rotina. Assim como virou rotina eu tratá lo como um João ninguém. Eu tinha que admitir que eu estou bem pior do que antes e isso em pouco tempo.

Mais um dia na empresa. Minha mudança de visual mudou o modo como todos olhavam para mim. Agora eu era uma figura popular não com as outras funcionárias (elas morriam de inveja de mim), mas dos funcionários.

- Bom dia Júlia! Linda como sempre! - um funcionário me cumprimentou. Eu sorri e acenei.

- Oi Júlia. - outro homem me cumprimentou.

- Olá Jared. - eu disse e continuei a seguir para o meu local de trabalho sempre sendo simpática.

Encontrei com Izabela em nossa divisória. Ela dormia em cima de sua mesa. Eu a cutuquei de leve.

- Acorde Bela. - falei num tom brincalhão. Bom dia.

- A, oi amiga. ela disse junto co um bocejo. Olhou me dos pés a cabeça. Nossa você levou a sério mesmo esse negocio de vir produzida para cá.

Eu olhei para mim mesmo: calça jeans preta justa, sapato de salto alto preto, uma camisa branca colada ao corpo e um cachecol xadrez preso no pescoço.

- Não estou vendo nada demais na minha produção. - falei enquanto sentava.

- Isso é por que você está habituada a se vestir bem agora. Quem está assessorando você nessa parte?

- A Ana Júlia me dá uns toques de vez em quando. - falei enquanto ligava o computador. Bela ficou calada por alguns instantes.

- Olha seu marido chegou. Reparou que de uns tempos pra cá ele nao para de olhar para você?

- Eu nem noto a existência deste ser, Izabela.

- É estranho. Ele te ignorava e agora, nesse último mês, não para de olhar você. Ele está olhando nesse momento enquanto segue para a sala dele.

- Pare de olhá lo. Não quero que ele pense que eu mandei você fazer isso! - disse áspera.

- Ok. Novo assunto: hoje a noite Maria Eduarda e eu vamos em um barzinho que inaugurou recentemente. Dizem que o lugar é ótimo. Quer vir? - Bela convidou. Eu não sei por que ela perguntava se eu iria. Até agora eu não recusei um convite dela.

- Claro. Após o trabalho? - perguntei.

- Sim. Vamos primeiro pegar o Gustavo, Leonardo e Gabriel na empresa e seguimos.

- Tudo bem. - concordei.

Na hora do almoço comi no refeitório com as meninas e tivemos um papo animado sobre nossos planos para a noite. Duda parecia mais tranquila com relação a mim, ela andou preocupada com minha subita mudança de temperamento. Agora que as coisas pareciam tranquilas até mesmo para mim ela não fazia perguntas sobre eu estar bem.

Eu estava entorpecida com tudo, agindo ou com um sorriso ou com uma carranca, mas de forma
superficial. Eu nao agia mais como Júlia e isso me preocupava. Eu queria ter uma vida normal, mas ainda não tinha. Parece que a única forma de conseguir tal coisa era me divorciar de João Pedro, mas sempre que eu pensava nisso repudiava a ideia. Eu não tinha me vingado completamente, ele ainda tinha que pagar.

Conversei com Ana Júlia no telefone. Ela tentou me convencer a ir para o jantar, mas eu recusei o convite. Eu nao iria sair ao lado de João Pedro posando como a esposa feliz.

Ele que fosse sozinho!

Após terminar os meus afazeres eu segui para pegar carona com Bela no novo bar. Ela estava em seu Mercury branco e nos conduziu para a empresa que ficava a algumas milhas do nosso trabalho. Os rapazes já estavam em frente ao luxuoso prédio, naturalmente. Contei as vagas no carro e conclui que eu teria de sair, ou eu ficaria cercada por casais apaixonados.

- Hmmm eu acho que vou de ônibus. Passe-me o endereço Bela? - perguntei já saindo do carro.

- Não precisa Jú. Tem uma vaga ainda. -  disse. Olhei com desgosto para o espaço disponível bem ao lado do casal Duda e Gabriel

- Ainda sim eu prefiro... - murmurei, mas fui interrompida.

- Vem comigo na minha moto. - Leonardo se manifestou. Eu o olhei.

Ele estava montado em sua moto preta cuja marca nao identifiquei. Era bonita. Quando a olhei me remeteu a época em que eu tinha uma moto há muito tempo. Quando meus pais morreram tive de vendê-la para o pagamento de dívidas. Ainda fiquei de pé sem ter certeza se deveria subir.

- Vamos, eu serei bem cauteloso com a moto, ou você não quer bagunçar o cabelo no vento? - perguntou com deboche. Peguei o capacete ofertado por ele e subi na moto enlaçando sua cintura.

- Se quer saber eu tenho carteira para dirigir uma belezinha destas. - falei enquanto o mesmo  ligava a moto.

- Então me perdoe senhora. - falou divertido.

- Não sou senhora, sou senhorita. - o corrigi enquanto começavamos a sair da calçada.

- Mulheres casadas são chamadas de senhora. - ele retrucou.

- E quem disse que eu sou casada? - disse num tom frio. Ele não falou mais depois dessa.

Chegamos rapidamente ao barzinho. O lugar estava lotado, mas não tivemos dificuldades para encontrar uma mesinha para nós seis. A princípio fiquei um pouco retraída, mas logo participei ativamente da conversa.

Falávamos principalmente sobre os podres da empresa, ou melhor, os demais falavam, eu e Leo tentávamos falar sobre o trabalho em si. É claro que logo todos ficaram entediados com o papo e decidiram dançar na pista de dança, todos menos Leonardo e eu. As músicas tocadas no bar eram lentas, se não fosse pela conversa eu não teria ficado lá. Agora que eu não estava entretida com o papo com os amigos, o som doce dos cantores incomodava.

- Quer dançar? - o garoto sentado ao meu lado disse e só então notei que ele estava de pé com a mão erguida em minha direçao. Fiquei embasbacada com seu ato.

- Dançar? Eu? Com você? Mas eu não sei Dançar! - disse nervosa. Leonardo sorriu.

- Também não sou um pé de valsa. Não é preciso saber danças, basta balançarmos para lá e para cá. O que me diz?

Eu poderia dizer não, afinal a última vez em que dancei foi em meu casamento, ou seja, nada de recordações boas. Mas também uma dancinha
não mataria ninguem, pelo menos eu poderia me distrair ao invés de ficar ligada na letra das músicas e nos casais que me rodeavam.

- Tudo bem. - disse levantando-me e aceitando a sua mão.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora