"Eu amo você"

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Vendo-o agir daquele jeito, recebendo todo aquele carinho e atenção, eu queria me arriscar. Eu queria... Não, eu precisava contar a ele a verdade. Contar que eu o amava. Um ato aparentemente simples, mas para mim extremamente arriscado. Isso por que no passado eu deixei claro que o amava e ele me rejeitou, e eu temia que isso voltasse a acontecer.

- Estou feliz que tenha aceitado meu convite. E então? Como está a comida? Espero que esteja do seu agrado. - disse Ana Júlia alegremente para mim.

Nós chegamos a sua casa sendo recepcionados por Ana e Pedro e alguns empregados. Mal nos cumprimentamos e fomos para a sala de jantar comer a magnífica refeiçao que Anaju organizou. Agora estávamos almoçando e conversando quando era possível.

- A comida está maravilhosa maninha, mas porquê não foi você que preparou. - disse provocativo. Ele estava sentado em frente a mim, ao lado de Pedro. Ana estava sentada ao meu lado.

- Não seja chato! - Sua irmã resmungou dando-lhe a língua. Pedro riu. E eu continuei a olhar para Mota .

Se eu iria perder um dia aquela boa fase, ao menos queria memorizar o seu sorriso, o seu olhar, tudo que vinha dele.

João deve ter percebido minha estranheza, mas continuou interagindo com os outros. Pouco falei, ocupando minha boca com a deliciosa comida ao invés de falar algo. Captei um pouco da conversa, Ana estava tentando convencer Mota e eu a viajarmos com ela e Pedro para algum lugar paradisíaco.

- Eu irei, desde que Júlia vá comigo, claro. E então amor? O que você acha? Seria uma boa oportunidade para termos nossa lua de mel. - disse olhando para mim. Demorei um pouco mais de tempo para responder.

- Desde que isso não me prejudique no trabalho... - disse enquanto olhava os empregados se aproximarem para retirar os pratos e servirem a sobremesa.

- Não se preocupe com o seu trabalho meu amor. - disse com um tom desagradável na voz.

Eu sabia que ele estava irritado por eu sempre priorizar o trabalho ao invés de nos dois, apenas repetindo o que ele me fizera assim que nos casamos.

- É mesmo Jú. Você tem que se aproveitar do João Pedro, de sua posiçao. - Ana disse num tom brincalhao. Mota bufou com suas palavras.

- Minha mulher não é assim Ana Júlia.

- Mas ela precisa viajar com você. Quando você assumir a presidência não terá muito tempo para regalias como essa. - disse provando de sua sobremesa.

- Então você já soube? - João perguntou retoricamente.

- Soube. O boato correu na empresa. Charles está pressionando você a assumir o posto de nosso pai. Você deve estar empolgado, não é? Era o que você queria. Você estará muito atarefado quando se tornar presidente. E Júlia não o verá muito então é bom aproveitarmos para viajar.

Mota pareceu não gostar de Sua irmã falar sobre aquele assunto. Não fiquei surpresa em saber que ele iria assumir o cargo do pai. No entanto fiquei incomodada em saber que teríamos menos tempo para nós dois. As coisas ainda não estavam bem e se o mesmo se afastasse talvez nossa situação não evoluísse. Havia uma forma, porém, de evoluirmos e só dependia de mim.

"Será hoje que direi?" pensei.

Após o almoço Pedro convenceu me a jogar videogame com ele. Aceitei mais para agradar ao meu cunhado, mas acabei verdadeiramente me divertindo. João ficou conversando com Ana Durante algum tempo. Passamos boa parte do
dia com os dois, ora no videogame de Pedro, ora conversando e até planejando a desejada viagem a quatro. No final da tarde Mota e eu voltamos para casa.

- Eu deveria ter dito a você sobre a presidência antes da Ana Júlia - dizia enquanto sorvia sua taça de vinho.

Chegamos a nossa casa e, após algum tempo nos preparando para dormir, fomos para a gigantesca sacada no apartamento. João estava encostado no parapeito com uma taça de vinho nas maos enquanto eu estava deitada em uma espreguiçadeira; um livro em minhas mãos.

- Não se preocupe. Eu já esperava por isso.

- Eu estava pensando em uma coisa para passarmos mais tempo juntos. Se você fosse minha secretária ficaríamos o tempo todo juntos, mesmo que eu tivesse que viajar. O que você acha? - João perguntou para mim. Fitei o livro em minhas mãos.

- Eu sou contadora, e me formei nisso. Eu não saberia ser uma secretária. - disse sem olhá-lo sabendo que minhas palavras o aborreceriam+

- Posso contratar alguém que lhe prestará consultoria. Seria muito melhor para você. Um emprego não tão cheio de incumbências e que pagará melhor. - ele queria me convencer, mas eu não cederia. Eu estava acostumada com minha posição de contadora, fugir disso me parecia estranho.

O mesmo deve ter visto a hesitação em meu rosto. Não precisei verbalizar nada, ele já dizia a sua defesa.

- Prometa pelo menos pensar, está bem? Eu quero demais poder ficar mais com você. - pediu e justificou. Eu assenti ainda com os olhos em meu livro. Isso pareceu deixá-lo aliviado.

- Antes de eu assumir a presidência nós viajaremos, ou com Ana e Pedro ou sozinhos nossa lua de mel. Você pode escolher o local; para mim não importa onde, mas com quem estarei. - falou numa voz afável.

Fiquei paralisada por alguns instantes e então o livro que eu segurava caiu de minhas mãos no chão. Um braço foi para meus olhos, tapando-os. Procurei reprimir o choro que ameaçava me tomar, mas foi impossível.

- Júlia? - chamou. Ouvi seus passos e então se sentou na espreguiçadeira ao meu lado. Senti sua mão em meu braço, o braço que cobria meu rosto. Mota tentava ver o meu rosto. - O que houve meu amor? Você está chorando? - conseguiu após algum esforço retirar meu braço. Quando viu meus olhos tomados por lágrimas, ele estancou. - Júlia! O que houve? - perguntou com preocupação.

Meus olhos se fixaram nos seus olhos, embora a imagem estivesse um pouco borrada pelas minhas lágrimas. Minha garganta estava apertada, como se algo estivesse preso e, se eu não expulsasse o corpo estranho, morreria asfixiada.

- Eu amo você. - Silêncio.

João Pedro me encarava pasmo. Enquanto isso meu corpo relaxava sentindo uma leveza sem igual. Eu havia me libertado e me sentia extremamente bem, eu estava mesmo sentindo uma forte necessidade de contar a ele isso. E então eu voltei a chorar.

- Por que está chorando? - perguntou acariciando meu rosto com uma mão, enxugando minhas lágrimas. - Por um acaso está chorando de felicidade?

- Não, não é felicidade. É tristeza mesmo. - murmurei. O mesmo pareceu se assustar com minhas palavras.

- Está triste por me amar? Pessoas que amam e são correspondidas geralmente não ficam felizes pelo sentimento que possuem? - era uma pergunta retórica dele, eu sabia. Vi um sorriso em seus lábios, mas seus olhos emitiam tristeza.

- Eu era mais feliz quando odiava você. Tudo era tão mais simples! Eu sentia que estava fazendo o que era certo e que estava evitando futuros males quando eu o destratava. Mas agora você me trata desse jeito e já não posso ser a mesma. Já não posso mais me esconder envolta do muro que criei e isso me assusta. Eu te amo e a verdade é que odeio isso. Odeio te amar.

Desabafar aumentou ainda mais a vazão de minhas lágrimas. Mota continuou sentado, seu rosto baixo olhando para mim, uma mão em meu rosto acariciando-o. Parecia perdido em pensamentos até que um sorriso sutil surgiu em seus lábios.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora