"Nenhuma mulher parecia me saciar"

68 1 0
                                    

Maratona = (8/15)

- O que? - perguntou com a voz falha. Poderia ser apenas impressao minha, mas entendi que minhas palavras a afetaram.

- Eu quero que tenhamos uma boa convivência. Sem brigas nem nada disso. O que você acha? Eu sei que esta situaçao desagrada tanto a você como a mim.

Expliquei querendo que Júlia entendesse minha lógica, percebesse que o melhor para nós dois era chegarmos a um acordo. Ouvi sua risada. - Por que está rindo? Não estou contando nenhuma piada. - falei irado.

- O modo como eu o estou tratando pode desagradá lo, mas a mim agrada, e muito. Eu gosto de tratá lo como o lixo que você é. - falou e saiu sem olhar para mim.

Eu fiquei parado, sem saber que reação deveria ter. Acabei não reagindo. Estranhamente ser chamado de lixo por Ela incomodou mais do que deveria. E eu sabia que só estava sentindo incômodo porquê era com ela. Se fosse outra pessoa, outra mulher, não teria incomodado tanto.

Era só o começo.

"Isso vai passar, não pode ser permanente!" pensei.

Eu queria acreditar nisso, eu precisava para manter minha sanidade. E eu esperei...

Esperei... Esperei... Duas semanas, três semanas, um mês...

Um mês sendo destratado de uma forma pior a cada dia. As peças do meu desconforto, da minha tristeza pelas atitudes de Júlia Franco foram se colocando num quebra-cabeça bizarro. E quanto mais a verdade vinha para mim, mais eu entrava em desespero. Por que eu nunca imaginei em meu plano genioso que chegaríamos a uma situação limite, ainda mais em um tempo tão curto.

Três meses de casamento e um mês
desde que Franco mudou para este novo ser que não conheço. E eu tentei ser simpático quando minha paciência não se exauria. Tentei. Mas sempre ela vinha com aspereza.

Eu não conseguia me segurar, era rude também. O que fazer? O que dizer a ela?

Naquela manhã eu estava com espírito renovado. Após um mês sendo chutado
com palavras, eu estava disposto a tentar mais uma vez. Tem sido assim na última semana e eu ainda não havia desanimado.

Eu a encontrei naquela manhã tomando seu café. Dei bom dia, mas Júlia não respondeu. Procurei ignorar. Sua atitude desrespeitosa já era algo rotineiro. Em um dado momento eu me manifestei lembrando-me de uma ligação que recebi de Ana um pouco antes de vir tomar o meu café.

- Ana Júlia está preparando um jantar hoje à noite. Ela nos convidou. - disse. A Garota nem se deu ao trabalho de me olhar, subitamente concentrada demais no que comia.

Não achei que me responderia na certa me ignoraris como sempre. Para a minha surpresa ela respondeu.

- Ela me ligou ontem à noite avisando, eu disse que não iria. - falou com descaso.

Eu tinha que me sentir grato, era muito difícil Júlia falar uma frase completa para mim que não viesse com xingamentos. Estupidamente pensei que isso poderia ser um indício que ela estava cedendo.

- Qual é o problema de irmos? - perguntei rude.

Ela sempre recusava os convites de minha irmã, pelo menos em jantares em que eu deveria estar presente. Ela olhou para mim com raiva e entendi que viria uma torrente de insultos antes mesmo de ouvi los.

- Eu não tô a fim de ir com você. Ponto. Respondi a pergunta ou está com atraso mental e não entende? - falou. Senti meu rosto esquentar pela raiva.

Agora os momentos em que a própria me provocava, eu era educado. Sera que ela não poderia ser igualmente educada, mesmo que soasse como algo falso?

- Que inferno! Eu não estou sendo mal educado com você! Dá para agir como um ser humano civilizado? - perdi o controle. Júlia bocejou.

- Você tem sorte de eu olhar pra sua cara. - falou já se levantando, pegando sua bolsa e partindo.

Eu não ofereceria uma carona, era certeza de que recusaria.

A situação estava realmente insustentável.

Enquanto seguia de carro para a empresa, fiquei a meditar. Julia parecia me desprezar profundamente, mas até agora não pediu divórcio.

O que ela estava esperando? Mas a pergunta mais importante era: se Ela pedisse o divórcio, o que eu faria? Eu a deixaria ir? O antigo João Pedro de um mês atrás não pensaria duas vezes, adoraria que fizesse tal coisa, mas agora...

É como se não bastasse eu ser tratado por Júlia como um cachorro, sua mudança de visual começou a chamar a atenção. Eu havia notado como os funcionários do sexo masculino a olhavam; eu poderia até imaginar os pensamentos lascivos com relaçao a ela. Eles a cumprimentavam e soube pelos bastidores que alguns, mesmo sabendo que ela era casada comigo, se atreveram a convidá la para sair.

Júlia recusou, mas tenho certeza que fez isso por eles e não por achar que deve me respeitar.

Ainda sim, para os casos confirmados de flerte,
eu não deixei passar. Demiti sem dó nem piedade aqueles que a convidaram para sair. Eu nunca contei tal atitude para ninguém, nem mesmo para Kate, mas Ana Júlia percebeu que o quadro de funcionários estava diminuindo significativamente.

Cheguei amuado como em todos os outros dias, Kate já nem se surpreendia com o meu humor negro.

- Bom dia. - Kate disse num tom estranhamente profissional. Murmurei algo parecido com um bom dia e segui para meus afazeres.

Outra cosia que havia mudado eram minhas farras. Eu não me encontrava mais com garotas de programa e meus encontros com Kate estavam a cada dia mais escassos. Isso a incomodava, mas ela temendo uma reprimenda não me questionava. A verdade era que a atraçao física que eu sentia por Kate estava diminuindo a cada dia.

Se às vezes eu me envolvia fisicamente com ela,
era por pura necessidade (não dava para fugir das necessidades do corpo).

Eu me perguntava porquê essa mudança, porquê nenhuma mulher parecia me saciar e estremecia quando a provável resposta vinha em minha mente.

Mesmo não querendo ir sozinho jantar com
Ana Júlia e ser bombardeado por perguntas sobre Júlia ,eu liguei confirmando o jantar. Queria evitar ela, consequentemente evitando aborrecimentos.

- Mota, hora do almoço. Melhor comer. Tem uma série de reuniões após esse horário. - Kate avisou. Levantei de minha mesa e segui para a saída. Iria almoçar em meu restaurante favorito.

- Outra prática que adquiri e que muito me incomodava era olhar para o local onde Júlia trabalhava. Era algo compulsório, eu não conseguia não olhar. A colega dela, Izabela, pareceu perceber minha atitude e certamente contou a Júlia.

Além disso, existia um sentimento, algo em meu peito, que me oprimia.

...

- Meu amor, eu vou me recolher agora. Pedro disse beijando Ana nos lábios. Até mais João. Obrigado por sua visita. Eu espero que Júlia venha da próxima vez. - disse e seguiu para a escadaria que o levaria aos quartos. Acenei.

Ana Júlia e eu estávamos agora, sozinhos, na sala de visita sorvendo um licor qualquer trazido por uma das empregadas. Durante todo o jantar, desde que me viu chegando sozinho, ela me olhou de forma especulativa. Agora que Pedro havia se recolhido as perguntas começariam.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora