"Mota, sentado no sofá com seus olhos em mim."

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Atravessei a danceteria abarrotada de gente. Sentei em um banquinho no bar e pedi um drink. Sabia que nao poderia beber em excesso, mas ficar sóbria estava fora de questão. Além disso, era só ficar a toa para pensar em João Pedro.

Tudo aconteceu tão rápido! Em um momento eu estava tão bem com Mota, fazendo planos, e no outro eu estava na merda vendo-o me tratar como um lixo. Eu me perguntava por que ele havia feito isso comigo. Imaginei que ele havia ficado assustado pelo casamento e esperei que aceitasse, mas não era isso. Ele apenas se entediou de mim num tempo muito menor do que o previsto.

Bebi mais uma dose. Eu o odiava tanto, mas me odiava mais por que, embora não fosse admitir, tudo o que eu fazia era por ele. Mesmo que ligados pelo ódio, nós ainda estávamos conectados. Eu queria me libertar, mas como faria isso? Nem mesmo o divórcio me livraria de minhas dores, do ressentimento.

"Como posso me libertar se no fundo eu quero estar presa a ele ainda?".

Minha cabeça doía, meu corpo parecia exausto.

- Merda - murmurei tentando me situar.

Eu sabia o que tinha acontecido. Eu bebi e dancei até ficar num estado deplorável. Provavelmente Gustavo e Bela me levaram para casa. Sentei na cama enquanto minha visão de acostumava com a luz.

Primeiro senti o choque de me deparar com o desconhecido.

- Meu pai. - disse enquanto notava que não estava em meu quarto em casa. Era em um lugar diferente, em uma cama diferente. Eu estava perdida!

- A culpa não é minha que você não tenha percebido que estava no meu quarto! - Izabela esbravejava enquanto me servia algumas panquecas que fez.

- A culpa é sua por beber tanto que tive de trazê-la para cá.

- Sinto muito pelo trabalho que causei. - murmurei sem graça.

- Francamente Júlia por que você encheu a cara? - A mesma virou-se deixando a louça que estava lavando de lado para me encarar.

- Eu só consigo esquecer o que se passa comigo quando bebo, só consigo me soltar quando bebo. Uma válvula de escape.

- É, você precisa de uma outra forma de esquecer. Seu fígado agradece.

- Eu sei Izabela. - fiquei bebericando meu café e mordiscando uma panqueca.

- Ah, eu falei para meu pai do lance de morar sozinha enquanto você dormia. Ele achou uma boa ideia. Faço a mudança hoje, o que você acha?

- Bela, o apartamento não é aberto há algum tempo. Precisará de uma faxina.

- Isso não é problema! Eu compro algumas coisas no supermercado e hoje mesmo faço a mudança.

- Então tudo bem.

- E você? Quer me ajudar com a mudança? Ou quer ficar em casa o domingo todo? - Bela me olhou especulativa.

- Que pergunta Izabela! Você sabe que eu quero ficar longe daquela casa. - Mas acho que precisarei ir para mudar de roupa e tudo mais. disse olhando para mim, ainda vestia a roupa da noite anterior.

- Não se preocupe. Tome um banho e vista umas roupas minhas. Que tal?

- Perfeito. - disse.

Não bastou irmos apenas nós duas, precisávamos de mais gente para colocar meu antigo apartamento em ordem. Logo Izabela  convocou Gustavo, Duda e o namorado dela (colega de trabalho de Gustavo) Gabriel para ajudar.

Enquanto Duda, Bela e eu limpávamos o local, os rapazes carregavam as caixas que trouxemos da casa de Izabela. Foi divertido. Não me lembrava de fazer algo, ainda que bobo, com meus amigos. Comemos bobagens, ouvimos música, dançamos, enquanto deixávamos tudo em ordem.

Olhar meu apartamento me trouxe lembranças de uma época em que, embora amasse João Pedro, eu não sofria tanto assim. Mas também aquilo não era uma vida, apagada como estava. Eu tinha que agradecer a Mota graças às atrocidades que fez comigo eu havia me tornado alguém mais forte.

- Hei Ju você não se importa se eu fizer uma festinha aqui, não é? - Bela perguntou. Estava sentada no colo de Gustavo que estava sentado no sofá.

- Não. Quem tem que se importar e opinar são os seus novos vizinhos. - disse sarcástica.

- Eu vou convidá - los também. - A mesma falou. Gustavo a interrompeu beijando-a. Desviei os olhos. Eu não gostava de testemunhar casais felizes diante de mim, fazia eu me sentir miserável por dentro. Senti que aquela era a minha hora.

- Gente eu preciso ir. - anunciei levantando-me do outro sofá em que estava sentada.

Duda, que estava na cozinha com Gabriel preparando algo para que comecemos, apareceu.

- Mas já? Espere pelo menos a pizza que estou preparando! - Duda pediu com Gabriel ao seu lado.

- Eu agradeço, mas já anoiteceu e... Bom eu estou precisando descansar direito. Vemos nos amanhã na empresa. - falei. - Obrigada pelas roupas que me emprestou Bela. Levo amanhã ou depois. - olhei para a camisa de flanela colada ao meu corpo, a calça jeans e as sandálias.

Saí rapidamente de lá. Eu não queria voltar para casa, mas que escolha eu tinha? Além do mais não seria tão ruim. Bastaria eu me refugiar em meu quarto e ponto! Acompanhada de minha bolsa de mão e uma sacola com as roupas da noite anterior, cheguei em casa de táxi.

Cumprimentei ao porteiro, subi até a cobertura pelo opulento elevador. Certamente João Pedro não estava em casa, devia voltar a sua rotina de sair para noitadas com suas vadias. Crispei meus lábios com o pensamento. Odiava, mesmo na atual situação, sentir ciúmes.

Quando adentrei o apartamento e não ouvi barulho algum pensei que estaria só. Procurei ser silenciosa. Eu só queria entrar no meu quarto e criar raízes lá até amanhã. A sala estava escura, mas não teria problemas para chegar ao meu quarto.

Para a minha surpresa a luz do abajur próxima ao sofá foi acessa. Estaquei e vi, pouco iluminado pela luz amarela, Mota, sentado no sofá com seus olhos em mim.

Procurei manter uma expressão nula. A expressão de Jp era furiosa.

- Está aqui em pleno domingo? Testemunhei um milagre! - falei num tom debochado.

Isso só deixou a feição dele mais irritada. Como se eu ligasse! Caminhei em direção ao corredor, iria para meu quarto.

- Espero que essa prática de noitadas suas não comprometa seu desempenho na empresa. Eu não gostaria de tomar alguma atitude caso isso ocorra.

- Atitude? Ora não seria difícil para você me demitir, não é? Demita - me se eu faltar com a empresa, eu não me importo. Mas devo alertá lo qui isso não vai acontecer. dei mais um passo para meu quarto, meu refúgio. Senti alguém me deter,João Pedro. Segurou me pelo braço. Eu o olhei, aturdida. Como ele ousava ser tão indelicado? - Solte-me. - pedi num tom calmo, muito diferente de como eu sentia.

- Se você me trair, e isto cair na boca da imprensa, você terá de sofrer as consequências. - falou autoritário, quase soando como o marido que nunca foi. Não me segurei. Soltei uma gostosa gargalhada.

- Sofrer as consequências? E quais seriam essas consequências, João Pedro Mota? Vai me demitir? Ótimo, faça isso. Eu tenho competência suficiente para encontrar outro emprego. Vai aparecer por aí com suas vadias para me atingir? Faça isso, eu tô pouco me lixando! - eu me aproximei de seu rosto, provocativa como nunca ousei, e sussurrei. - Vai me pedir divórcio? Faça isso. Se você está tão louco para se livrar de mim já deveria tê-lo feito.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora