- É. Estamos bem. Melhor do que eu imaginava. - olhei meu prato sem saber para onde a conversa iria.
- João Pedro mudou muito. Eu jamais o vi desse jeito, todo amoroso com alguém. Ele só era assim quando nossa mãe estava viva, mas depois que ela faleceu, ele se fechou para o mundo. - Acho que ele me disse algo assim certa vez. Mas... - Meu irmão está se abrindo para o mundo e acho que logo ele vai despejar em você tudo sobre ele. Ai você vai entender por que ele é estranho. - algo no que Ana disse me pareceu suspeito, mas deixei para lá.
- Ele tem os seus defeitos, mas eu reconheço que ele está mudando para melhor. Isso é bom, essa mudança mudou tudo entre nós. - comentei sem saber se ela me entenderia, mas a julgar pelo modo como ela me olhou ela entendia.
- Acho que vamos ter a oportunidade de nos conhecermos melhor, cunhada. - disse. Eu sorri.
- Também acho isso.
O restante da tarde foi de compras e conversa. Ana Júlia me falou muito sobre ela deixando João de fora inteligentemente. Acho que ela queria que o próprio falasse sobre sua vida. Ela me falou da escola só para meninas ricas que estudou. Falou das muitas amizades que até hoje cultivou desde os tempos da escola. O amor pela moda que surgiu através de sua mãe, Úrsula, e a tristeza que sentiu ao perdê-la. Apesar de falar na morte da mãe, anaju não mostrava tristeza. E eu sabia por que havia superado a perda da mãe e do pai.
- Pedro sempre esteve comigo desde que nos conhecemos. Eu nunca me senti sozinha desde então.
- Como você e ele se conheceram? - perguntei. Ela riu.
- Ele era filho da diretora da escola para meninas que eu estudava. Ele sempre foi bonito (uma beleza meio andrógina) por isso durante muito tempo pensei que ele fosse uma garota. Era estranho um garoto estudando no meio de meninas.
- Nossa, que estranho. - disse rindo.
- Ficamos amigos por um tempo. Eu gostei dele em segredo. O mesmo se confessou para mim e me pediu em namoro no dia em que encontramos minha mãe desacordada no banheiro de casa. Ela só ficou um tempo hospitalizada a então... - Ana pareceu imersa em pensamentos, pensamentos nada felizes pela expressão sofrida que carregava. Decidi tirá la do transe.
- Ei, é melhor continuarmos com as compras. - levantei. - Logo vai anoitecer. Além disso, os rapazes devem estar preocupados.
- Ah, claro! Eu vou pagar pelo almoço. Você fica aqui e repara as nossas coisas?
-Sim. - ela foi ao balcão pagar a conta.
Olhei para as sacolas pretendendo recolhê-las, mas eram tantas que desisti. Só peguei minha parte quando ela voltou. Caminhamos pelo calçadão, despreocupadas, parando quando Ana Júlia via algo interessante em alguma butique. A conversa entre nós foi mais descontraída. Conversa vai conversa vem, entre uma butique e outra, algo que eu não esperava aconteceu: eu me perdi da mesma.
- Droga! - olhei envolta e não vi nada, apenas rostos desconhecidos na multidão.
Com várias sacolas, eu tentei pegar o meu celular e quando consegui, o celular caiu no chão. Com muito esforço procurei um jeito de pegar o celular para ligar para Ela sem deixar as sacolas caírem. Foi naquele momento que uma mão se antecipou pegando o celular.
Agradecida, peguei o celular ofertado pela mão e olhei para a pessoa que me ajudou. Estaquei. Diante de mim estava...
- Leonardo? - falei num tom surpreso. Ele sorriu.
- Olá Júlia.
...
- Então veio representando sua empresa em uma feira de tecnologia?
- Sim. Não sei por que me escolheram. Há tantos funcionários lá. Eu não queria vir.
- Eles escolheram você, por que é um ótimo funcionário. - sorri.
Após o nosso inesperado encontro, Leonardo me convidou para tomarmos um café em uma confeitaria. Eu aceitei por que achei que era o melhor. Eu pensei que o havia perdido após eu me entender com Meu marido, afinal de contas Leonardo se mantinha afastado de mim. E esta foi a minha chance de melhorar um pouco o nosso relacionamento.
- Eu acho que me escolheram por que sou o único que não se nega a esse tipo de coisa. Mas pela primeira vez eu quis negar. Não estava com ânimo para viajar a trabalho. - notei que sua expressão era preocupada. Algo devia estar acontecendo com ele.
- Você não querendo participar de uma viagem em nome da empresa? Pensei que gostasse disso. - sorri, mas meu bom humor não o tirou de sua melancolia.
- Meu pai não está muito bem de saúde. Eu estava cuidando dele quando a empresa me impôs essa viagem. Tentei dissuadi Los , mas não consegui. Minhas irmãs têm cada uma sua família, eu sou o filho livre que poderia cuidar do pai, mas com a empresa me requisitando para esses trabalhos fica difícil.
- Sinto muito. É algo grave? - senti uma forte aflição com a ideia de Lamar estar perdendo o pai após perder a mãe. Claro que ele tinha as irmãs, Rachel e Rebeca, mas não era a mesma coisa. Ele percebeu o meu pesar e adiantou se em esclarecer a situação.
- Não é nada grave, apenas coisa da idade. Não se preocupe, o velho é forte como um búfalo, vai se safar. Eu é que estou muito preocupado com ele. Para dizer a verdade foi ele que me convenceu a viajar. Se eu não quisesse, eu simplesmente não iria, mas ele me chutou para fora. um resquício do sorriso de Leonardo, já tão familiar para mim, apareceu em seus lábios cheios. Sorri automaticamente.
- Falando dessa forma fico com uma vontade imensa de conhecê-lo, sabia?
- Você ainda pode conhecê-lo, basta marcar o dia e vamos lá.
Eu estaquei. Não imaginei que ele me propusesse isso. Para dizer a verdade eu esperava que quando me encontrasse ele atravessasse a rua. Não, Leonardo não é assim. Ele não me trataria tão rudemente, mesmo se eu merecesse; O que é o caso. Então me lembrei do João e já até poderia imaginar o que ele me diria se eu sugerisse algo como visitar a família do meu ex.
- Bem, eu... Eu não sei se... - murmurei embasbacada.
O que eu poderia dizer? Não poderia aceitar e terminar por recusar o convite, mas também não poderia dizer não e afastá lo de mim.
- Ele não deixaria, não é? - perguntou com brandura, mas ao olhar para seu rosto notei uma expressão dura.
- Ele não ficaria muito feliz, mas eu decido no final então...
- E como vocês estão? - perguntou sem se importar com a rápida mudança de assunto. - Eu espero que estejam bem, embora eu duvide muito a julgar pela personalidade daquele cara. - falou áspero.
- Meu Marido mudou e sim, nós estamos bem. - disse num tom igualmente áspero.
Ficamos nos encarando com raiva e por fim Leonardo cedeu. Com um suspiro, encostou se no assento da cadeira em que estava sentado e voltou a bebericar o café que havia pedido.
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"The contract" Adaptação Moju
Hayran KurguUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...