"Você já me teve um dia"

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- Júlia terá mais uma dança, mas será comigo, seu marido.

Virei-me e vi Mota próximo a nós dois olhando para Alec. Ele aparentava tranquilidade, mas seus punhos estavam fechados com força. Estranhei.

- Senhor Mota. - Alec afastou se de mim. - Eu estava...

- Distraindo a minha mulher em meu lugar como pude perceber. Não há razão para fazê-lo mais Alec. Eu estou aqui e agora serei o centro das atenções de minha adorável esposa Júlia. - ele falou num tom malicioso. Antes que eu pudesse dizer algo, João tomou o lugar de Alec, mas ao contrário dele, fez questão que dançássemos colados um no outro.

Desnorteada eu o olhei tentando entender porquê ele estava agindo de forma tão possessiva. Não poderia ser um indício de que sentia algo por mim. Devia ser apenas aquela sensação de alguém que possui algo e não quer que os outros tenham, João Pedro me tratava como um objeto.

Mota conseguia a proeza de colar ainda mais o seu corpo ao meu enquanto dançávamos para lá e para cá, suas mãos circundavam minha cintura de tal forma que a pressão fez doer meus músculos. Eu coloquei minhas maos em seu ombro e fitei o nada, nao queria encará lo.

- Eu deveria descontar sua atitude do seu "salário". - ele sussurrou em meu ouvido. Estremeci.

- Que atitude? - perguntei embora soubesse de antemao o que ele diria.

Ele voltou a colar seus lábios no meu ouvido na intençao de que eu ouvisse, mas também senti certa provocação em seu ato.

- Preciso mesmo relatar? Fiz um discurso apaixonado pelo recebimento daquele prêmio insignificante e esperei que minha amada esposa estivesse me observando, batesse palmas quando eu finalizasse o discurso. Ao invés disso você estava dançando com aquele babaca! - disse entredentes. Seu hálito chocando-se contra a pele do meu pescoço causava arrepios.

- E daí? Não cometi nenhum pecado! Só estava dançando. Acho que tenho o direito de um pouco de diversão, não tenho? - falei com aspereza.

- E por que a sua diversão é apenas com os outros e não comigo? Tem idéia do quanto eu poderia entretêla? - senti seu lábios encostarem em meu pescoço. Arfei.

- O que pensa que está fazendo? perguntei com a voz falha. Seus dedos delineavam minha coluna, as maos descendo e subindo em uma carícia provocante.

- Estou aproveitando que a terei como minha esposa por uma noite. - murmurou parando de dançar, beijando novamente meu pescoço enquanto suas mãos acariciavam minhas costas.

Meus braços caíram dos ombros de dele e os deixei ao céu. Jp afastou se e soube de suas intenções quando encontrei o seu olhar.

Inclinou seu rosto para frente na tentativa de me beijar. Mesmo desorientada com o que estava acontecendo, eu consegui afastá-lo empurrando seu corpo para longe de mim.

- Não posso beijá la? - perguntou confuso com minha atitude. Era muito cara de pau mesmo!

- Nao faz parte do acordo! - falei entredentes. João Pedro deu um meio sorriso.

- Disse que seria minha mulher por uma noite e esposas beijam seus maridos. - justificou se e novamente inclinou seu rosto em minha direção.

- Nao vou beijar você. - falei exasperada, mas controlando minha voz.

Eu o afastei novamente e caminhei em direção ao banheiro feminino. Eu precisava respirar, precisava ficar afastada dele. Eu não gostava do modo como meu corpo reagia a ele, as suas provocações. Ouvi passos atrás de mim. Não precisava me virar para saber que ele me seguia.

- Tudo bem, quanto você quer para que me beije? - perguntou. Parei de andar no mesmo instante.

- Como é que é? - perguntei. Eu devia estar com uma expressão de surpresa cômica, pois João Pedro reprimia um riso.

-Quanto você quer pelo beijo. Posso dar um cheque em branco se quiser. - disse enquanto procurava seu talão de cheques. (isso que eu chamo de carência slk kkk)

Quando o achou encostou se na parede e o assinou, mas não chegou a colocar o valor. Era uma imprudência! Eu poderia retirar tudo o que ele tinha com aquele cheque. Ele o passou para mim com um sorriso matreiro no rosto. Eu fiquei parada, perplexa com o que ele estava fazendo.

Num ato no mínimo repugnante dobrou o cheque, aproximou se de mim colocando o cheque dobrado em meu decote.

- Está pago. - disse satisfeito.

Enquanto eu continuava a encará lo mortificada,ele enlaçou me pela cintura e fez com que eu caminhasse para trás até minhas costas encontrarem a parede. Ninguém havia nos notado, estávamos em uma parte em que nem mesmo a luz nos encontrava. Mota não perdeu tempo, ansioso como estava de me ter. Beijou me com volúpia, de um jeito que até então nunca fui beijada por ele.

Como se aquele fosse de fato o nosso primeiro beijo. Eu podia sentir em seus lábios, em suas mãos, a urgência em me tomar como sua posse.

Seu corpo prensou o meu enquanto continuava a me beijar. Uma parte de mim queria corresponder ao beijo, algo que me surpreendeu. Com tristeza percebi que a Julia patética de outrora ainda viva em mim. Eu poderia negar a ele e ao mundo, mas eu sabia, em meu íntimo, que ansiava sentir os lábios dele cobrindo os meus... Ainda sim eu não me movi para corresponder.

Por que embora aquele momento pudesse ser belo, só poderia ser belo aos olhos de outra pessoa. Eu sabia que Ele me tomava em seus braços e me beijava apenas para provar que ele sempre tinha o que queria. Ele nao me amava; nunca me amou.

Tudo isto era apenas um capricho dele como foi o nosso casamento.

Eu pude sentir as lágrimas caindo de meus olhos e escorrendo pelas bochechas.

Mota parou finalmente se tocando que eu não correspondia ao beijo. Pude ver a surpresa em seus olhos quando viu que além de quieta eu chorava.

- Júlia! - arqueou. - O que houve? O que foi que eu... - disse apressadamente.

- Como... Como se atreve? Como se atreve a me comparar com uma de suas prostitutas? Como se não bastasse tudo o que você.. - murmurei numa voz sôfrega.

O garoto afastou se de imediato.

- Eu pensei que você... Que você queria. - falou atordoado.

A raiva me tomou. Peguei o cheque que ele havia posto em meu decote e rasguei diante de seus olhos.

- A mim você não pode comprar nem hoje nem nunca! Você já me teve um dia, mas preferiu estranhos ao invés de mim. FIQUE COM SUAS PUTAS! FIQUE COM O SEU MALDITO DINHEIRO! - gritei jogando os restos de papel em sua cara.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora