Capítulo 93: Finalmente, você voltou

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POV Luna

Saímos da balada e vamos até os carros, vejo as meninas começarem a se organizarem para irmos e decido ir sozinha para tentar distrair a cabeça antes desse momento.

- A gente tá enquanto carros? - Pergunta e vejo as meninas me olharem curiosas.

- Em duas motos e dois carros, por que? - Ivete pergunta montada na moto.

- Eu posso ir sozinha na moto? - Peço e vejo elas se entre olharem.

Ivete apenas confirma com a cabeça e desce da moto entregando a chave e colocando a mão em meu ombro.

- Não faz nenhuma bobeira e não desliga o radinho ... não quero te perder também. - Ela sussurra para mim e sorrio para ela enquanto subia na moto.

Coloco o capacete azul da Ivete e dou partida no moto saindo dali. Piloto pelas ruas da cidade que pareciam desertas até que me deparo com a entrada do condomínio. Não havíamos voltado aqui desde aquele dia. Estava tão perdida em pensamentos que não percebo que já estava parada em frente a minha casa e de costas para a casa da Cristal. Entro sem olhar para trás e vou direto para o meu quarto. Tomo um banho quente na tentativa de fazer meus problemas evaporarem com a água, porem não funcionou. Me visto com uma blusa social preta e uma calça jeans escura. Prendo meu cabelo em um coque mal feito e assim que me olho no espelho vejo a profundidade de minhas olheiras.

Se ela me visse assim, com certeza riria da minha cara e colocaria calmante no meu café. Penso comigo mesma e acabo rindo, uma risada que em segundo se desfez e se tornou lágrimas em meus olhos que insistiam em cair. Molho meu rosto e saiu dali voltando para minha moto, mas dessa vez não resisto e olho diretamente para a porta da casa dela que ainda estava aberta. Algo me chamava para lá, talvez a saudade ou a ilusão de encontra-la lá dentro como deveria acontecer. Desço da moto e caminho até lá sentindo meu peito apertar a cada passo. Eu sabia que ela não estava ali, sabia que nada ali me traria paz, mas ainda assim eu queria conferir. Queria me lembrar dos momentos que já tive lá dentro, me lembrar dela cozinhando, das noites acordadas assistindo filmes, dos nossos beijos nos corredores.

Começo a vagar por aqueles corredores vendo as manchas de sangue espalhadas pelo lugar. Imaginando tudo que pode ter acontecido aqui, o barulho dos tiros, cada gotinha de sangue caindo, todos os corpos e principalmente seu desespero quando eles te encurralaram. Te imagino passando por tudo isso sozinho, tirando força apenas da esperança de nos ver em segurança. Como você conseguiu? ... Como pode ser tão forte?

Essas perguntas invadiam minha cabeça até que o passo em frente ao quarto da Chiara e foi como se tudo desaparecesse. Dava para sentir o amor vindo daquele quarto e não dava para ignorar essa sensação. Tento abrir a porta e me lembro que a mesma estava trancada. Dou dois chutes próximos bem próximos a maçaneta e a arrombo. O quarto estava intacto como se nada estivesse acontecido. Podíamos voltar no tempo dentro dele, conseguia ver o primeiro dia que colocamos Chiara para dormir aqui, dela tão pequena nos braços da Cristal. Me lembro da Cristal passando as noites em claro com medo de que qualquer coisinha machucasse nossa pequena, me lembro que ela só conseguia dormir segurando minha mão enquanto Cristal cantava uma canção de ninar.

Volto para a realidade e vejo o pequeno Sunshine sentado em cima da cama como se ele estivesse me chamando. Um ursinho tão pequeno, mas com tantas lembranças e tantos sentimentos. Me aproximo dele e o abraço fazendo com que eu consiga sentir o cheiro do perfume da Cristal misturado com o da Chiara. Vou até o guarda-roupa com ele nos braços e vejo as roupas da Chiara todas as organizadas nos cabides e nas gavetas. Pego algumas roupas para ela e observo uma foto escondida em sua gaveta, era uma foto nossa. 

Eu me lembro desse dia, todas as Hells se reuniram na praia para tirar aproveitar o sol e Cristal insistiu em tirar uma foto, mas as meninas não quiseram e tiramos uma foto apenas nós três. Naquele dia Chiara e Lúcio insistiram em andar de prancha e acabamos cedendo, em poucas horas os dois se afogam em alto mar e me lembro de ver Cristal nadar mais rápido que qualquer salva-vidas e tirar os dois da água. Porem, o rosto de Cristal não estava mais na foto, ela estava rasgada propositalmente para que ela não aparecesse. Durante o tempo que estava fora, as meninas me disseram que as duas só brigavam, mas nunca imaginei que essa situação poderia ir tão longe.

Guardo a foto na minha carteira e saio do quarto sentindo aquela sensação de adeus se aproximar. Olho na direção do quarto da Cristal e por segundo foi como se tudo voltasse ao normal, foi como se eu pudesse vê-la, bem ali, sentada na cama me observando com um sorriso único no rosto.

- Finalmente, você voltou ... - Sua voz era angelical, como uma hipnose, para mim, ela estava ali. - Estava com saudade.

A vejo se levantar e caminhar até mim vestida com meu blusão vermelho. Conseguia sentir seu toque, a suavidade de sua pele e observar o brilho de seus olhos.

- Sei que não está aqui, mas queria tanto que estivesse. - Digo e tudo desaparece me abandonando naquele local vazio mais uma vez.

Deixo minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto até que ouço as meninas me chamarem no radinho.

Radinho on:

(Ivete): Luna ... está na hora, por favor, vem encontrar a gente.

Radinho off.

Dou as costas para aquele quarto e caminho para fora da casa enquanto enxugava minhas lágrimas e leva as coisas que havia pegado comigo. Coloco as roupas da Chiara no porta-malas da moto, mas não consigo soltar aquele ursinho. O prendo em minha blusa, subo na moto, coloco o capacete e saio dali mais uma vez, mas dessa vez eu não iria voltar. Não iria olhar para trás até tê-la de volta em meus braços e não perderia mais ninguém no caminho.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora