Capítulo 147: Imensidão

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POV Luna

Sinto o meu corpo ser carregado pela areia e consigo ouvir uma sirene ao longe.

— Temos que tira-las daqui...

— A doutora já está a espera na casa, não podemos demorar...

— Ivete...

— Aguenta firme parceira, não vamos perder mais ninguém...

Lentamente todas essas vozes vão se silenciando. Sinto a minha alma se desprender do meu corpo que se torna mais leve. Abro os meus olhos, estava em um lugar estranhamente iluminado e branco. As minhas roupas eram brancas e as marcas de sangue, pólvora e areia já não existiam. Não conseguia descrever a dimensão daquele lugar, mas transmitia uma paz indescritível. Caminho por alguns minutos naquela imensidão vazia até que a encontro. Cristal também estava ali, sentada em um banco de madeira clara e estrutura de metal reluzente como prata. Aproximo e sento ao seu lado. Ela tinha o olhar perdido na imensidão branca que nos rodeava e as suas roupas também eram brancas, o seu vestido, as suas meias e a sua bota. Não estava mais machucada, era como se nada do que vivemos nesses últimos anos fosse real. No entanto, as memórias de tudo ainda estavam vivias em mim e agora tínhamos o infinito diante de nós.

— É lindo. — Ela diz sem desviar o seu olhar.

— Sim... aqui traz uma paz que não consigo explicar, mas sinto falta das cores. — Digo com um sorriso.

— Sabe onde estamos? — Ela pergunta e a sua voz é doce quase como uma melodia.

— Não faço ideia, você sabe? — Pergunto a observando.

— Não, já estive aqui algumas vezes, mas desisti de tentar achar a resposta para isso ou... apenas não quero aceita-la. — Ela diz e direciona o olhar para mim.

— Quando esteve aqui? — Pergunto curiosa.

— Sempre quando achava que não tinha mais solução... sempre que quis desistir de tudo. — Cristal diz e a sua voz se torna melancólica. — Luna... desculpa.

— Pelo que? — Pergunto e aproximo dela.

— Por tentar desistir de tudo tantas vezes, por não ter conseguido salvar todas. — Ela diz e as suas lágrimas molham o seu rosto.

— Ei, resistiu a muita coisa. Estou orgulhosa por ter conseguido por tanto tempo. Não se culpe por nada, todas sabíamos do risco. Decidimos que você valia a pena, não tem pelo que se desculpar. — Digo enquanto secava o seu rosto.

— Por minha causa você está aqui. — Ela diz e sinto a dor nas suas palavras.

— Eu podia ter desistido... sempre foi uma escolha minha, te abandonei uma vez, não iria cometer esse erro de novo. — Digo, colo as nossas testas e sinto o seu corpo frio. — Não posso nem mesmo imaginar o turbilhão que deve estar a sua cabeça agora, mas estou aqui e vou estar para sempre. — Beijo-a como há muito tempo queria fazer.

— Tem que ir, Chiara está lá fora a sua espera. — Cristal diz assim que separa os nossos lábios e encerra a fala com um selinho com gosto de despedida.

— Ela também precisa de você. — Digo ao nos afastarmos.

— Acho que consigo voltar de novo. — Ela diz e se levanta do banco. — Já me despedi do Teddy aqui uma vez, não quero ter que me despedir de você também. — Ela para em pé a minha frente por alguns segundos, consigo ouvir a sua respiração no silêncio que se formava. — Eu te amo.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora