POV Luna
Eles conversavam, sento próxima à Chiara que me encarava curiosa.
— Ela está bem? — Din é o primeiro a se pronunciar.
— Está, já deveria prever que isso aconteceria cedo ou tarde. — Digo e Ivete me oferece uma cerveja.
— O que aconteceu? — Chiara pergunta.
— Acredito que uma crise de pânico, dei algum gatilho nela e quando percebi já não tinha muito o que fazer. — Tomo um gole da cerveja e forço um sorriso. — Mas também teve uma parte boa, agora sei por onde podemos começar o acompanhamento psicológico dela. — Olho para Amanda.
— Ótimo, já é um começo. — Ela retribui o sorriso.
— Por que a senhorita Giorno precisa desse acompanhamento? — Percebo a presença de dona Marli na roda.
— Ela passou um trauma forte recentemente. — Respondo sem muitos detalhes.
— Por isso ela é tão quieta e recolhida? Que triste, vi o quadro que o patrão trouxesse dela. Tão linda com um sorriso brilhante e um olhar encantador. A imaginei mais enérgica, feliz. — Dona Marli sem perceber instaura um clima mais pesado que a fumaça vinda da churrasqueira.
— A mamãe era assim mesmo. Tinha o sorriso mais lindo de todo o mundo, também era brava sempre que precisava proteger a Mel ou a Chiara. — Mel se senta no colo da Chiara, ela ainda era inocente demais para compreender a situação e fico feliz por isso. — Mas não precisam ficar com essas caras emburradas, mamãe é muito forte. Logo vai melhorar e voltar a cantar como antes. Será que se a Mel e a Chiara forem até ela pedir, ela aceita? — A pequena anima-se com a ideia e a puxo para o meu colo.
— Acredito que ela esteja cansada agora Mel, mas quem sabe outro dia. — Chiara responde e Mel se ajeita no meu colo.
— E não é a única cansada aqui. — Percebo algumas crianças se aproximarem e pediram colo para os pais.
— Hora de colocar os menores na cama. — Alicia estava com Rosinha no colo e Pedrinho ao seu lado.
— Então vamos. — Maju pega Maia que dormia com Din.
Levamos as crianças para os quartos, a viagem, a cidade nova, o parque e a mansão cansaram elas ao ponto de apagarem ao deitar. Voltamos para perto da churrasqueira e percebo Amanda e Marli na cozinha.
— Essa quantidade está boa, senhora, não podemos exagerar, já é tarde e ela está numa dieta bem restrita. — Amanda tentava controlar a quantia de sopa que a mais velha colocava em uma tigela.
— Dieta? Mas para que dieta? Ela precisa comer, mal tocou no estrogonofe, não comeu o churrasco e está só pele e osso. — Ela continua a encher a vasilha.
— Luna, ajuda aqui. — A doutora me chama sem saber como lidar com a situação e rio ao caminhar até elas.
— Concordo com a dona Marli, Cristal precisa de sustância. — Digo e Amanda olha para mim incrédula. — Mas vamos começar gradualmente, isso já é o bastante, posso levar e se ela quiser repetir venho buscar mais.
— Está bem, mas busque mesmo, porque essa aqui quer deixar a menina morrer de fome. — Marli diz satisfeita e Amanda volta para perto do pessoal derrotada. — Ah! Aqui, fiz isso para ela também, mas não conta para ninguém, vai ser o nosso segredo. Talvez um doce ajude o trazer de volta o sorriso da senhorita Giorno, adiantei para o café da manhã.
Ela me entrega um pedaço de bolo de cenoura com cauda de chocolate num pote fechado e embrulhado num pano. Agradeço, subo as escadas e entro no quarto. Cristal estava deitada, mas não parecia dormir.
— Oi! Que bom que ainda está acordada! Dona Marli preparou um jantar especial para você. — Ela se senta na cama e percebo os olhos molhados. — Aqui, primeiro uma sopa leve ou Amanda não me deixaria nem aproximar de você.
Ela dá um sorriso fraco e apoio a tigela no colo dela. Não tinha pressa para terminar e estava com a cabeça longe enquanto comia. Apenas ficamos em silêncio por longos minutos.
— É uma senhora muito gentil. — Cristal diz antes de colocar mais uma colher na boca.
— Acredito que não tenha ninguém que não se encantou por ela. — Tento estender o assunto. — Está boa?
— Sim... não consegui dormir. — Ela mantinha o olhar baixo na tigela.
— Posso ficar aqui até adormecer... Talvez ajude saber que não está sozinha. — Sorrio e ela me encara.
— É... Talvez seja uma boa ideia. — Cristal termina a sopa e entrega-me a vasilha.
— Ah! Isso é um segredo... Dona Marli fez para você, disse que um doce poderia a animar. — Mostro o pedaço de bolo.
Cristal estande os braços e entrego o pote destampado e uma colher. Pude observar a satisfação dela a cada pedaço.
— Nossa! Está maravilhoso. — Ela diz com olhos fechados enquanto mastigava e não contive o meu sorriso.
— Ela parece ser uma cozinheira de mão-cheia. — Os nossos olhares se encontram por alguns segundos.
— Eles não mudaram... — Ela sussurra como um pensamento que escapou pelos lábios.
— Eles? — Pergunto confusa.
— Os seus olhos... Ainda é o mesmo verde, mas agora estão rodeados de olheiras. — Ela ri.
— Não sei se posso levar isso como um elogio. — Rio e ela termina o bolo. — Vou levar essa louça e volto para ficar ao seu lado.
Cristal se ajeita na cama, confirma com a cabeça e saio do quarto. Deixo a louça na pia da cozinha, vou até o pessoal, como um pouco de carne e me despeço para dormir. Subo a escada e ela ainda estava acordada.
— Vou tomar uma ducha rápida, estou suada da viagem. — Aviso e vou para o banheiro das meninas já que no quarto só havia a banheira.
Deixo a água escorrer pelo meu corpo e levar com ela todo estresse que passei. Enxugo numa toalha que já estava ali e percebo que não trouxesse nenhuma roupa. Enrolo o meu corpo no tecido, observo o corredor vazio e volto rápido para o quarto. Fecho a porta e o olhar da Cristal queima a minha pele, ela estava vermelha e desvia o olhar.
— Ah! Desculpa, vou lembrar de levar uma muda de roupa na próxima vez. — Caminho envergonhada até o closet.
Visto um top de malha e uma calça de moletom. Faço um coque no cabelo e vou para a cama. Ela estava do lado direito virada para mim, não sei por quanto tempo nos encaramos em silêncio até ela fechar os olhos e adormecer. A noite pode não ter sido como imaginava, mas uma parte não mudou: consegui fechar os olhos e descansar com a cabeça tranquila.
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Nem a distância nos separa
FanfictionDentro de uma família, se criam laços, uns mais fortes que outros e o que elas criaram se tornou tão indestrutível que mesmo distantes, uma consegue sentir as emoções da outra. Mesmo que o mundo pareça estar contra, esse laço as uni, as prende. Essa...