Capítulo 168: Cabeleireiro

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POV Luna

Os cabelos dela estavam quase secos e visivelmente embaraçados. Sento ao seu lado e mexo em alguns fios próximos ao seu rosto enquanto a chamava.

— Cristal, as suas roupas chegaram. — Ela piscava algumas vezes, mas em poucos segundos estava acordada. — Senta na poltrona para pentear o seu cabelo.

Estendo a mão, ela aceita e se senta de lado na poltrona. Coloco um pouco de creme nas mãos e espalho pelos seus fios. Alguns nós saíram sem muito esforço, mas a maioria havia uma espécie de cola e cada puxada era seguida de uma reclamação de dor. O produto não funcionava e ela segura minha mão para que não continuasse.

— O que colocaram no seu cabelo? — Questiono enquanto pensava em uma solução.

— Oi! Desculpa atrapalhar. Luna, podemos conversar. — Amanda aparece na porta.

— Claro, só espera um minuto. — Deixo o pente sobre o móvel, ajudo Cristal a se vestir e saio do quarto. — Algum problema?

— Ela não quer sair até a Cristal comer. — Júlia responde por ela e noto o prato de sopa nas suas mãos.

— Ah! Só isso? Podem entrar sem problema. — Abro a porta para elas.

— Não, também queria saber quem vai ficar aqui com a Cristal enquanto estivermos na festa. — Ela encarava-me preocupada.

— Na verdade, ninguém. Ela vai comigo, vou deixá-la em um quarto afastado, mais reservado. — Tento explicar e ela apenas congela. — Isso se der a sua aprovação claro. — Ela olha para o chão por alguns segundos.

— Não estraga a noite, Amanda. — Júlia pede.

— Okay, mas nada de bebida, não pode deixá-la sozinha. Só vai poder comer a sopa. Se a perceber incomodada ou agitada, ligue. Caso a música a deixe assim, cubra os ouvidos com algum pano ou algo que abafe o som. — Ela dizia acelerada e se embola em algumas palavras enquanto entravamos no quarto. — Também evite que ela tenha contato com outras pessoas. Já vimos que não é uma boa ideia no momento.

Cristal nos observava sentada na poltrona e passava os dedos nos nós ainda não desfeitos. Aproximo-me e apoio no encosto dela.

— Pronta para retirarmos esse aparelho? — Amanda estava animada.

Ela entrega o prato para Júlia e vai até o armário onde encontrei os remédios e as tiras da Cristal. A doutora pega uma pequena maleta branca, manchada, com o símbolo do hospital em verde água. Observamos ela higienizar cada ferramenta, colocar as luvas e organizá-las sobre uma mesa móvel próxima a nós.

— Sei que não gosta dessa parte, mas é necessária. — Ela avisa com um abridor labial descartável transparente em mãos.

Amanda ajeita o plástico na boca dela que apenas fecha os olhos e aperta as mãos. Foram longos segundos até a doutora retirar as gominhas e por fim o fio de alumínio que prendia os dentes dela. O alívio da Cristal foi instantâneo. Ela mexia o maxilar devagar como se apreciasse esse momento. Era notório que a sua movimentação estava limitada talvez pelo tempo imóvel ou por fragilidade, mas ela se sentia bem assim.

Enquanto Amanda descartava o fio e as gominhas escuras que retirara do aparelho. Júlia entrega o prato com uma colher para Cristal que se ajeita alegre sobre a poltrona antes de pegá-lo. Se tivesse contado, diria que a sua felicidade durou menos de cinco segundos ao visualizar o "jantar". Júlia tenta disfarçar uma risada da cara de decepção dela e a única a não perceber é Amanda. Abaixo a frente da poltrona e ela encara-me como se pedisse para resolver o problema.

— Não me olha assim. Isso é bom para você e tenho certeza que hoje está melhor que os outros dias. — Tento convencê-la.

A expressão de Cristal muda e ela estende as mãos com a colher e a sopa para mim. O seu olhar alternava entre a água, com uma ligeira coloração amarela e pouquíssima gotas de óleo a flutuar junto de resquícios de carne e batata, e eu.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora