Capítulo 183: Estrada

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POV Luna

— Para aonde vai levá-la? — Amanda questiona em frente a porta da ambulância.

— Pensei que não viria. — Respondo aliviada.

— Júlia conseguiu me convencer e tem razão, não posso abandonar dessa forma o tratamento dela. — Ela diz ao entrar no veículo.

— E onde ela está? — Pergunto enquanto ajeitava o cinto na Cristal que apenas observava a cena.

— Já está num carro com a Renata. Vimos várias viaturas na praia quando passamos na rodovia. — Amanda avisa preocupada.

— Então não temos muito tempo, como sempre, obrigada! — Volto para o motorista e aviso as meninas.

Rádio ligado.

(Luna): ajeitem-se nos carros, vamos sair!

Rádio desligado.

Os meninos são os primeiros a sair seguidos pelo caminhão da Tríade e os carros. A ambulância ficará no final da fila até sairmos da cidade, depois ligarei a sirene e assumirei a frente do caminho. Em pouco tempo de estrada o meu celular toca. Atendo e coloco no vivo-a-voz.

Ligação com Delegada ligada.

(Clara): onde estão?

(Luna): próximas à saída, rumo Nova Iguaçu.

(Clara): certo, deixa a sirene e as luzes da ambulância ligadas. Não duvido que farão pontos de paradas obrigatórias na rodovia em poucas horas a procura de vocês. Então acelerem, sem paradas desnecessárias até saírem do estado. Manda uma localização em tempo real, com ela, consigo avisar se tiver algum problema na estrada para fazerem um desvio antecipado.

(Luna): valeu, a Mari está tranquila?

(Clara): sim, por que não estaria?

(Luna): pedi para ela causar uma distração no departamento, precisava atrasar a ação de vocês.

(Clara): agora sei quem ensaboou o chão do vestiário e desarmou o padrão de energia.

(Luna): vai dar problema para ela?

(Clara): bem improvável, principalmente com a busca por vocês. E a senhorita Giorno, como ela está?

(Luna): estável e acordada, temos uma médica conosco caso ocorra algum imprevisto.

(Clara): ótimo, vou desligar, entrarei em patrulha com a Mari. Se precisar, sabe o que fazer.

Ligação com Delegada desligada.

Mando a localização para ela por mensagem e pego o rádio.

Rádio ligado.

(Luna): meninas! Avisem o pessoal que vou abrir o caminho a partir de agora.

(Maju): os meninos deram a ideia de entrar numa frequência com às três facções.

(Priscilão): podemos entrar na 669.

(Renata): por que não 666?

(Ivete): é muito óbvia, mula!

(Luna): vamos ficar com a 669 mesmo.

Rádio desligado.

Troco a frequência, aviso sobre a mudança na ordem dos veículos, ligo a sirene e assumo a dianteira.

Rádio ligado.

(Luna): não teremos paradas nas rodovias principais. Em caso de emergência, avisem quanto antes para pegarmos um desvio.

(Din): todos já estão nessa frequência?

(Clarisse): da Tríade, apenas eu vou ficar aqui para evitar tumulto.

(Luna): okay, provavelmente farão barreiras no percurso. O meu informante vai nos ajudar nesse quesito, então fiquem atentos a qualquer mudança repentina no trajeto.

(Clarisse): quando chegarmos em Osasco, a Tríade irá separar do grupo. Din, podemos entregar as suas armas amanhã ou assim que se estabelecerem na cidade.

(Din): mando mensagem no privado para definir essa questão quando chegarmos.

Rádio desligado.

A viagem foi calma, com poucos desvios e sem paradas. Até passarmos por uma estrada de terra esburacada a qual agitou Cristal.

— Luna, não consigo segurá-la para aplicar o calmante. — Amanda grita em meio aos sons da maca e batidas na lateral da ambulância.

Aviso no rádio antes de estacionar o veículo próximo ao barranco da estrada. Desço do banco do motorista, corro até a doutora e deixo as portas de trás da ambulância abertas no processo.

Rádio ligado.

(Priscilão): o que aconteceu?

(Gabi): a Chiara quer ir até à mãe, posso deixar ou não?

(Renata): a Mel também ficou inquieta com a voz da Chiara.

(Luna): Cristal está agitada, segurem as crianças nos carros.

(Din): ela passou mal?

(Luna): não sei ainda, só me dá um tempo para resolver isso.

Rádio desligado.

A respiração desregulada enquanto se debatia na maca com os olhos cheios de lágrimas. Amanda tentava segurar os braços dela, no mesmo momento em que preparava uma injeção.

— Cristal! Respira, sou eu, Luna. — Aproximo dela e afrouxo os cintos.

Ela se solta da maca e abraça-me. Tento deitá-la novamente, mas ela recusava a soltar o meu pescoço.

— Tudo bem, não vou sair daqui até se acalmar. — Sento na maca e deixo ela se ajeitar no meu colo.

— Deixa o pescoço dela virado para o meu lado, assim consigo aplicar o calmante. — Amanda avisa com a injeção nas mãos.

— Não, deixa ela acalmar sozinha. — Conseguia sentir as lágrimas dela molharem a minha pele. O que a deixou assim?

— Ela não vai continuar calma sem o remédio e sem você. — A doutora alerta de forma compreensiva.

— Então é melhor entregar a chave da ambulância para mim. — Octavius observava a cena da porta do veículo.

— O que quer aqui? — O olhar dele estava diferente, compassivo ou até empático.

— Não temos tanto tempo para perder com paradas como essa. Ela não vai aguentar a viagem assim e não a quer medicar. Então vai ficar aqui com ela e a doutora enquanto dirijo a ambulância. Ou possui alguma menina disponível para isso? — Era como se ele conseguisse ler a minha mente, nenhuma das minhas pilotas estavam livres.

As minhas opções eram Ivete, Renata ou ele. Aquelas duas na direção apenas com um GPS em rodovias desconhecidas está longe de ser uma ideia sensata.

— Quão bem sabe dirigir? — Ele não é confiável, mas que merda!

— Melhor do que imagina, conheço todos os caminhos na palma da minha mão. — Ele sorri arrogante.

— Tem um celular ao lado do volante, pega para mim. — Ordeno e ele hesita em cumprir, mas traz o aparelho. — Vou ditar o caminho para você, não vai pegar nenhum desvio sem a minha ordem, entendeu? — Ele responde com a cabeça. — Também não quero ouvir a sua voz durante o trajeto, a chave está no painel.

Não vou esquecer aquele sorriso vitorioso quando fechou as portas por alguns dias. Deito Cristal no meu colo e Amanda ajusta os cintos para amenizar o balanço do veículo. Foram longas horas em silêncio, às vezes Clara avisava-me de alguma barreira na rodovia, Amanda verificava a pulsação da Cristal, que dormiu o restante do caminho, e as meninas questionavam sobre o tempo e a distância que restavam para chegarmos. Estava ansiosa, mas tentava não transparecer para que ninguém ficasse mais preocupado. Cruzamos o estado rumo ao desconhecido, que a sorte esteja do nosso lado dessa vez.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora