Capítulo 142: Não desista

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POV Luna

Ivete desliga a ligação enquanto a encarava.

— Estou em ótimas condições para lidar com o que eu quiser. — Digo sem controlar a emoção em minhas palavras.

— Conseguimos ver isso, quase caiu dura quando ouviu a voz da Cristal. — Ivete diz e as meninas se matem em silêncio a nossa volta.

— Isso não é da sua conta, sou sua líder, quem decide o que fazer ou não sou eu. — Respondo mais ríspida possível.

— Antes de ser minha líder é minha amiga. Estou a três anos de vendo afundar por causa desse assunto, faça o que quiser comigo, mas a partir de agora, enquanto estiver viva, não vou te deixar lidar com isso sozinha. — Ivete diz levantando a voz.

— Então talvez eu devesse te m... — Antes que falasse uma besteira Priscilão me interrompe.

— Chega, às duas. Estão parecendo crianças discutindo e Luna, Ivete está certa, não está em condições de lidar com isso. Essa discussão é a prova disso. — Ela nos advertiu.

— Vamos dormir, o dia foi cheio, estamos todas cansadas. — Alice diz se aproximando de mim.

— Não preciso de ajuda. — Digo me levantando sozinha e indo até o meu quarto.

Fecho a porta sem olhar para trás. Minha cabeça estava um caos. Todos aqueles sonhos voltam de uma vez nas minhas memórias. Isso me enlouquece e começo a jogar tudo que conseguia no chão e nas paredes. Porta-retratos, vasos, sapatos, travesseiros, tudo que estava na minha visão. Conseguia ouvir as meninas do outro lado da porta, mas não queria conversar com ninguém. Abro as gavetas do armário e tiro todas as minhas roupas até finalmente chegar nela. Uma blusa que há alguns anos havia guardado no fundo da gaveta para não a ver novamente. Minha camisa vermelha, aquela que Cristal me roubara mais de uma vez.

Ela estava em minhas mãos e isso me desarma completamente. Sento no canto do quarto e começo a gritar. Queria arrancar todo esse sentimento do meu peito. Esse ódio, fraqueza, dor, não conseguia mais segurar isso. As meninas batiam na minha porta me implorando para abri-la. Minha garganta doía e meus olhos ardiam pelo choro. Abraço a blusa em minhas mãos e deixo tudo que aprisionei em meu peito sair pelas minhas lágrimas.

Isso durou horas, simplesmente apaguei ali. A luz do sol invadia o quarto e incomodava ao ponto de me fazer levantar. Tudo estava como havia deixado, como se um furacão tivesse passado por ali. Começo a juntar as coisas e colocar as que sobreviveram em seus devidos lugares. Havia cacos por todo lugar, tanto de vidro quanto de cerâmica. Terra e algumas plantas estavam jogadas sobre roupas e almofadas. Minha cabeça latejava enquanto tentava limpar tudo.

Precisava de uma vassoura para terminar, mas não tinha coragem de sair daquele quarto depois do show de ontem. Não consigo nem imaginar o que Chiara e Mel devem estar pensando sobre isso. Sou uma idiota, estou perdendo a minha cabeça, nisso as meninas estão certas. Já estou farta de toda essa situação. Como pude cogitar matar a Ivete por estar tentando me proteger? Só estou causando problemas.

Esses pensamentos se repetiam na minha cabeça enquanto encarava a blusa sobre a mina cama. Será que o luto não seria mais fácil que tudo isso? Balanço minha cabeça na tentativa de expulsar essa ideia. Enquanto ela estiver viva, ainda terei esperança.

Pego um relógio de punho velho e vejo que já passava das 11 horas. A casa estava silenciosa então decido sair. Abro a porta e não vejo ninguém no corredor, na sala ou na cozinha. Elas deixaram um pão com um copo de suco de laranja em cima da mesa esperando por mim. Procuro qualquer bilheta ou mensagem que elas poderiam ter deixado. Devem estar trabalhando.

Como e vou atrás da vassoura para terminar de limpar meu quarto. Não demoro muito para organizar tudo deforma que pareça que nada aconteceu. Tomo um banho frio e me arrumo para treinar. As crianças e os meninos também não estavam no lugar, mesmo sendo um domingo na hora do almoço. Procuro por meu celular na sala e não o encontro. Deve estar com a Ivete, então apenas sigo o meu caminho. Tiro minha acuma da garagem e dirijo até o acampamento.

Sigo pelo mesmo caminho e entro na trilha em meio ao mato. Se passam alguns minutos e me deparo com várias motos estacionadas próximas à pista de corrida. Confiro um por uma e vejo que todas elas pertenciam às meninas, mas por que estavam ali? Pego minha pistola e começo a averiguar o lugar.

Não havia ninguém nos lugares de treino, mas eles haviam sido usados já que não estavam da forma que deixei. Procuro meu rádio para perguntar pelas meninas e percebo que em meio ao meu surto, quebrei-o na parede. Vou até o barracão, o último lugar que faltava olhar. Ao me aproximar, ouço vozes e risadas no lugar. Entro no lugar e vejo todas as meninas, Chiara e Lúcio reunidos comendo alguns lanches. Eles me olham e guardo a arma que estava em punho.

— Agradecemos por não atirar. — Ivete diz rindo com a boca cheia.

— O que estão fazendo aqui? — Pergunto surpresa pela presença de todas elas.

— A cristal está viva e logo vamos receber a localização dela. Precisamos estar prontas para garantir que as cabeças certas irão rolar. — Vanessão diz enquanto afiava seu machado apoiado no que restou de um carro.

— Pensei que tivessem desistido. — Digo sentindo a vergonha de ontem.

— Desistir da nossa pinscher, nunca. — Gabi diz me puxando para perto de todas.

— Desculpem-me por ontem, perdi a cabeça. — Digo e cabeça baixa para evitar qualquer contato visual.

— Está tudo bem, a voz da chefinha mexeu com todas. — Alice diz com um sorriso cansado.

Estavam todas suadas e um pouco ofegantes. Provavelmente treinaram durante a manhã por isso não estavam em casa.

— Por que não deixaram um aviso? — Pergunto por pura curiosidade.

— Mas mandei várias mensagens para você. — Chiara diz olhando o celular.

— Ivete ficou com um celular ontem a noite. — Digo olhando para ela que bate as mãos nos bolsos e retira o aparelho.

— Foi mal, nem percebi. — Ela diz me entregando ele que estava desligado, provavelmente sem bateria.

— Sem problema e me desculpa por ontem, não quis dizer nada daquilo. — Digo e ela sorri boba.

— Não esquenta, sei que disse da boca para fora. — Ela diz me dando um soquinho no ombro e voltou para perto da Gabi.

— Receberam alguma notícia do Erro? — Pergunto e elas apenas negam com a cabeça.


Treinamos durante a tarde até o pôr do sol. Chiara de fato estava mais forte e as outras meninas também estavam evoluindo. Nossa conexão continuava a mesma, até mais forte. Continuamos atrás de você, não desista de nós também.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora