Capítulo 177: Herói

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POV Cristal

Flashback ligado.

— Precisamos de um plano, armas já temos. Pode contar com todo o estoque do MC para isso. Esse cara não vai sair ileso dessa cidade, muito menos com você. — Teddy falava com ódio, estava pronto para matar, só a espera de uma ordem.

— Todos eles estarão no dia da ocasião. Cold vai querer o lugar cheio, mas duvido que convide inocentes ou testemunhas qualquer. Vou vigiá-lo e tentar reunir mais informações para podermos definir o plano com data e um roteiro de ações. Agora, só preciso que procure um lugar seguro e afastado da cidade, escondido numa mata ou cidade do interior. — Mal começamos a pensar, mas já sabia o meu primeiro objetivo. — Antes que a bomba exploda, vai garantir-me que as crianças e as meninas estarão seguras nesse lugar e se possível, não saberão de nada do que acontecer. Apenas os MC's serão os meus convidados, é assim que irão entrar sem eles suspeitarem.

— Espera, as meninas não vão nos ajudar no combate? — Ele estava confuso e com razão.

— Não, sem a minha presença, Luna estará no comando e conheço aquela cabeça dura. Assim que descobrir sobre o plano, vai me colocar como prioridade, todas vão. Foi assim que as treinei. Vão desfazer o plano e ariscar tudo para me ter com elas quanto antes. — Teddy ouvia em silêncio, sabia da verdade por trás das minhas palavras.

— Se quer assim. Assim será. Como vamos nos comunicar depois daqui? Ainda temos muito o que planejar e pouquíssimo tempo. — Ele se levanta com a mão estendida para mim.

— Cold se recusa a fazer mercado, então sobra para mim, é quando tenho mais liberdade no dia. Ele não confia o suficiente para me deixar ir sozinha, mas sempre espera no carro do lado de fora. Vou deixar bilhetes na caixa de um do seu cereal favorito. — Penso em algo simples, mas resolve o nosso problema.

— E se alguém comprar o cereal antes de mim? — Ele pergunta enquanto descíamos pelo caminho.

— Teddy, ninguém gosta daquele cereal além de você nessa cidade. — Rio e ele puxa-me para um abraço.

— Não se arisca demais. Elas nunca me perdoariam se ele te machucar. E já alerto, se ficar muito tempo sem notícias, invado aquela casa sem aviso. — O seu tom era brincalhão mais uma vez, mas sabia da sua preocupação pela força do seu abraço.

— Vamos resolver isso juntos, prometo. — Tento dar um sorriso descontraído, mas ele já me conhecia o suficiente para ver além dele.

— Tenho um presente para você na moto. Vai saber usar melhor do que eu. — Descemos juntos pela trilha.

Teddy tira uma caixa de metal de dentro de uma mochila presa ao guidom.

— Uma caixa? — Não entendi para que seria útil, até que ele explica o segredo dela.

— Já tem um caderno de anotações dentro, vai poder esconder as informações que descobrir e posso garantir que vão demorar para abrir se não souberem a verdade. — Ele diz num tom nostálgico, talvez triste.

— Obrigada... e desculpa por toda essa confusão.

— Ei! Somos uma família. Os seus problemas também são meus e não precisa se desculpar por isso.

Flashback desligado.

Teddy... AAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!!!

Quero gritar, explodir com todas essas memórias, sensações presas no meu peito. Não consigo acreditar, despedir. Planejamos cada detalhe por semanas, mal imagino a sua aflição após cada mensagem que mandei. Horas em claro desperdiçadas do dia para a noite. Tudo porque aqueles merdas decidiram agir dias antes do casamento. Tínhamos a desculpa perfeita, uma data, uma deixa para iniciar o conflito, a surpresa e o despreparo deles como vantagem. Venceríamos uma guerra antes mesmo dela começar, então por quê?

Por que é você dentro desse túmulo? Do que desconfiaram? Estávamos com todas as peças posicionadas para o golpe final e tudo foi alterado. Não devia ser assim, não existiam chances para acabar assim. Forcei-me a organizar um casamento falso, escolhi um vestido de noiva e suportei aquele olhar nojento sobre o meu corpo. Tempo, esforço, preparação, estratégias, segredos, tudo descartado como lixo sem motivo ou explicação. Não passamos de peças num jogo doentio em que o final sempre esteve traçado. Esse é o nosso destino? Ou não passou de uma luta em vão? Mortes em vão, sem propósito.

Teddy, sinto como se aprendesse a viver mais uma vez. Desde o primeiro passo. Uma criança a descobrir o mundo a minha volta, mas renasci quebrada. Assombrada pelo passado tão confuso e tortuoso que me prende. Quero ser livre, sorrir como você. Não sei se consigo, parece uma realidade tão distante, inalcançável mesmo que corresse. Peço o seu perdão, ainda não estou pronta para o deixar. Vou encontrar as respostas de todas essas dúvidas, descobrir-me no mundo outra vez. Não foi o amor da minha vida como queria, mas o meu herói e companheiro mais leal. Quando voltar aqui, saberei o que escrever para você. Não o decepcionarei nessa nova oportunidade, apenas me dê um tempo para juntar os cacos. Apenas permita-me recomeçar.

Fico ajoelhada na terra com a folha para Teddy quase em branco. Rasgo as outras do bloco de notas e enterro cada uma no túmulo de quem elas pertencem. Amasso a dele e guardo para mim. Ele sabe, voltarei aqui, mesmo que demore um, dois... ou mais anos, mas voltarei. A minha cabeça doía e o meu corpo vacilava pelo cansaço. Poderia apagar a qualquer instante, mas tentava manter-me ali. Queria estar com eles novamente e isso é o mais próximo que consigo. Logo iremos sair da cidade e não sei quando conseguirei senti-los tão perto. Aos poucos tudo a minha volta começa a se apagar. Pude sentir algo tocar o meu ombro e o meu corpo rende-se a exaustão.

As vozes na minha cabeça não cessaram, mas estavam diferentes. Calmas, lentas, uma canção de ninar agradável mesmo sem melodia. Não entendia o que era dito, mas trazia paz, talvez o primeiro sonho em tantos anos. Sentia-me flutuar em águas frias, as quais balançavam o meu corpo como uma rede ou berço. Segurança, talvez seja essa a palavra que buscava. Esquecida na dor. Um calor estranho envolve-me cuidadosamente.

— Pode descansar, sempre vou cuidar de você...

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora