Capítulo 120: Sonho ou realidade

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POV Luna

As meninas conseguiram encontrar três pás num armário de bagunça que havia embaixo da escada. Após alguns minutos cavando, com a ajuda da Ivete e da Maju, encontramos um enorme saco preto.

- Não encostem nisso, não podemos deixar digitais. – Digo analisando o saco dentro do buraco enquanto improvisava luvas com as sacolinhas que Ivete havia me dado. – Chamem a Priscilão e a Vanessão, elas vão gostar de ver o que quer que esteja aqui dentro.

As duas vão juntas para a sala e voltam com todas as meninas.

- Priscilão, me ajuda aqui já que você é a única de luva. – Digo me preparando para tirar aquilo dali.

Vejo Priscilão analisando o formato do saco e a preocupação em seu olhar era evidente.

- Eles são bem amadores, todo mundo sabe que para se desfazer de um corpo tem que primeiro esquartejar o cadáver para dificultar o reconhecimento da vítima. – Vanessão diz numa tranquilidade e ouvimos um risinho da Priscilão.

- É só olhar a casa, Vanessão, que dá para perceber o quão amadores eles são. – Priscilão diz enquanto as meninas se entre olhavam preocupadas. – No três a gente levanta o presunto... – Às vezes a tranquilidade dessas duas me assusta. – Um... Dois... Três.

O pacote não tão pesado quanto parecia, então foi fácil tirá-lo dali. O colocamos na grama e Vanessão se aproxima com um canivete nas mãos e se abaixa ao lado do corpo. Ela sempre fica com um sorriso animado no rosto nessas situações e dessa vez não foi diferente. Vanessão abriu o saco com todo cuidado para não atingir quem estava dentro e tentando deixar o mínimo de digitais possíveis.

Assim que o saco se abre, uma grande quantidade de líquido sai junto de um cheiro tão forte que chegava a arder os olhos. Dentro do saco havia um homem com um jaleco branco ensanguentado e sujo. O alívio das meninas era claro. Priscilão entrega um par de luvas azuis para Vanessão que assim que a coloca, começa a mexer no corpo.

- É um homem de uns 20 a 25 anos, cabelos escuros curtos, aproximadamente 1,80 de altura. – Vanessão começa a descrever o cadáver enquanto Priscilão anotava as informações. – Os hematomas no rosto indicam que ele foi agredido antes de morrer, ele utiliza um jaleco hospitalar, deve ser um estudante de medicina ou um médico-residente pela falta de idade, tem um corte grande na garganta abaixo do pomo de adão, possível causa da morte, porem preciso de uma análise mais detalhada para afirmar isso, o pior é que pela tonalidade da pele e por esse inchaço, eu diria que o boneco aqui foi enterrado a no máximo dois, talvez três dias.

- O que a gente vai fazer com o presunto? – Gabi pergunta tampando o nariz pelo cheiro.

- Vamos levar ele com a gente. – Priscilão diz simplista. – Coloquem suas bandanas, Alicia abre o porta malas do carro para mim, Ivete e Gabi acompanhem ela e façam a contenção lá fora, Vanessão e eu vamos levar o cadáver, as outras continuem explorando a casa e fiquem preparadas caso precisemos de vocês. – Ela joga a chave do carro para Alicia e começa a levantar o cadáver dentro do saco junto de Vanessão.

Coloco minha bandana enquanto as meninas saiam com o corpo e vou até o alçapão. Me abaixo e percebo ser uma pequena portinha de madeira velha e úmida com uma pequena alça de corda para abri-la. Não me parecia muito resistente. Tento levantá-la sozinha, porem as tábuas estavam inchadas pela umidade do lugar e bem emperradas ali. O ranger da madeira chama a atenção das meninas que ficaram comigo no jardim.

- Que merda. – Renata diz percebendo o alçapão.

- É, uma merda emperrada. – Digo sentindo minhas costas começarem a doer pelo esforço.

- Deixa que a gente dá um jeito. – Maju diz pegando as pás no chão e entregando uma para Renata. – Vamos fazer uma alavanca para levantar isso aí.

As duas enfiam as pás nas tábuas, próximas à corda que eu havia puxado na tentativa de abrir o lugar. Elas forçam as pás por baixo da porta que lentamente cede e se desprende do chão. Pego a terceira pá no chão e acerto as dobradiças da porta até elas quebrarem. Renata e Maju retiram a porta e a deixam largada ao lado do buraco escuro que havíamos aberto.

A poeira e o cheiro de mofo saiam do lugar. Não dava para ver nada dentro dali até que Maju liga uma lanterna e vemos uma plataforma de madeira escura. Me sento na frente do buraco com as pernas para dentro, pronta para entrar.

- Qual das duas vai comigo? – Pergunto tentado ver alguma coisa lá dentro.

- Eu fico aqui guardando as costas de vocês. – Renta diz dando um risinho de nervoso.

- Nada disso, parceira, se eu entrar num lugar desses vou parar direto no hospital sem respirar. – Maju diz entregando a lanterna para Renata e sacando a pistola.

- Então bora boca de suvela. – Digo entrando no buraco e dando espaço para Renata entrar também.

- Merda. – Ela diz e entra logo em seguida.

Depois da plataforma havia uma porta que dava para uma escada apertada, sem corrimão, com tábuas velhas que rangiam a cada passo. A lanterna iluminava um lugar sujo com as paredes mofadas cheias de musgos. O cheiro ali estava longe de ser agradável. Era um cômodo pequeno e estava vazio. Sinto um calafrio subir pela minha espinha e como um flash, vejo Cristal dar uma joelhada em Cold e subir as escadas desesperada. Ouço seu grito mais uma vez e sinto minha pressão baixar. Como isso seria possível? Era um sonho, não tem como ser real.

- Luna, tá tudo bem? – Renata pergunta me olhando preocupada.

- Ela estava aqui... – Digo sem saber como explicar o que estava acontecendo.

- Como assim, Luna? – Renata pergunta colocando a mão no meu ombro.

- A Cristal realmente estava aqui e eu... eu a vi. – Digo tentando entender toda essa situação.

- Do que você tá falando louca? – Renata diz segurando meu rosto me fazendo olhá-la.

- Eu não sei, não sei o que está acontecendo, eu só sei que eu a vi, a vi aqui e a vi dentro do freezer. – Digo apontando pro canto em que a vi chorando no "sonho". – Bem aqui, ela estava sentada chorando, eu tentei achar uma saída, mas não consegui, foi quando o Cold apareceu, ele disse alguma coisa para ela, nisso ela deu uma joelhada na barriga dele e subiu essas escadas, depois... depois ela gritou e eu acordei. – Digo percebendo o quão louco tudo que estava falando parecia para ela. – Eu juro que a vi.

- Eu acredito, vem, vamos sair, aqui não tem nada para gente mesmo. – Renata diz sorrindo e apenas a acompanho para fora dali.

Eu estava avoada e a única coisa que se passava na minha cabeça era se eu estava enlouquecendo. Ao mesmo tempo que eu queria acreditar que nada daquilo havia acontecido, que tudo não passava de uma grande coincidência. No fundo, eu sabia que tinha algo a mais. As meninas já haviam guardado as coisas que encontramos e o corpo dentro do porta-mala do carro enquanto eu estava sentada na sala tentando organizar meus pensamentos. Renata estava em pé ao meu lado apenas me observando e as meninas estavam espalhadas pela casa, garantindo que não estávamos deixando nada passar quando ouvimos o barulho da porta da frente sendo aberta. Renata e eu sacamos as pistolas e esperamos quem quer que seja entrar. A pessoa abre uma fresta da porta e a vemos jogar uma pistola por ali.

- Não sou o inimigo, apenas quero conversar...

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora