Capítulo 158: Quem é você agora?

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POV Luna

Ela caminha até a borda, era como se o seu corpo estivesse ali enquanto a sua cabeça viajava na paisagem da cidade. Coloco o bloco de nota em cima do parapeito próximo a ela.

— No que tanto pensa? — Pergunto curiosa e foi como se ela não pudesse ouvir-me.

Tanto tempo passou. Quem é você agora? Adoraria ter uma resposta para essa pergunta, mas acredito que nem ela saiba. Será que deveria aproximar-me mais dela ou isso vai a assustar? Quero a conhecer novamente, apaixonar-me por quem se tornou, mas como poderia? O tempo deveria consertar tudo, mas dessa vez nos transformou em estranhas. É tudo tão confuso. Sei que a amo, não tenho dúvidas quanto a isso... ou a amava. Queria poder-te abraçar como antes, sem nenhum receio. Dizer o quanto me fez falta. É assustador a forma que estamos próximas e distantes. Posso vê-la, toca-la, ao mesmo tempo que sinto uma muralha a nos separar e não sei como ultrapassa-la. De fato, voltamos à estaca zero.

Observo ela sentar-se no parapeito de costas, o seu olhar encontra o meu e ela passa uma perna para outro lado.

— Desce daí... — A minha voz estava presa na minha garganta e podia sentir os meus olhos encherem de água apenas de imaginar essa hipótese.

Ela continuou ali, a apreciar a vista com o vento a balançar o seu cabelo e fecha os olhos por alguns instantes.

— Cristal... No que está pensando? — Pergunto, ela direciona a sua atenção para mim e paga o bloco a sua frente.

*Não precisa se preocupar. Fiz uma promessa, não irei quebra-la.*

— É um pouco estranho conversar com você e não ouvir a sua voz. — Digo um pouco sem jeito.

*Sabe quando vou poder tirar esse negócio da minha boca?*

— Não, mas deve demorar só algumas semanas. É muito ruim usar isso? — Respondo e apoio os meus braços no parapeito.

*Agoniante.*

— Imaginei. Aqui está frio, não quer voltar? — Pergunto e olho para o elevador de onde viemos.

Ela apenas desce e sobe as escadas do heliponto enquanto a acompanhava. Cristal deita em uma das pernas do H sob nós.

— Não que aqui é mais confortável que a cama para dormir. — Digo e sento próxima a ela. — Disse que sonhou comigo... Quer conversar sobre isso?

*Ainda não.*

— Okay, só queria te dizer que também sonhei com você. Varias vezes para ser bem sincera. — Deito na outra perna do H e a observo por longos minutos.

A noite estava fria devido ao vento e percebo Cristal arrepiar.

— Aqui, não quero que fique doente. — Digo e a embrulho na coberta.

*Obrigada.*

— Não precisa agradecer. — Falo e afasto-me novamente.

*Não precisa ficar tão longe. Confio em você.*

Leio, dou um sorriso bobo e deito ao seu lado. As não passam quando estamos juntas ou perco a noção do tempo com ela. A maioria das luzes da cidade já haviam se apagado e estávamos ali, até ela adormecer. Seguro-a nos meus braços ainda embrulhada no cobertor e desço com ela para o quarto. Os corredores mantinham-se silenciosos. A deito na maca e arrumo a coberta sobre ela. Dou-lhe um beijo na testa, sento na poltrona, seguro a sua mão e deito a minha cabeça na maca para encantar-me com cada traço do seu rosto. Os meus olhos pesam e deixo que se fechem. Enfim, adormeço.

— Meninas? — Acordo quando Amanda nos chama ao abrir a porta do quarto. — Bom dia, como foi a noite? — Ela pergunta com a voz baixa para não acordar a Cristal.

— Um pouco complicada, mas acredito que ela conseguiu descansar. — Digo e ajeito o cabelo enquanto ela vai até à maca.

— Ela acordou ou se debateu muito a noite? — A doutora pergunta e apenas faço que não com a cabeça. — Então ela deve ter tirado os elétrodos enquanto dormia.

A vejo conectar os fios na Cristal e logo o monitor revela os seus sinais vitais.

— O pessoal já está na recepção, ansiosos para vê-la, posso deixá-los entrar antes que façam um buraco no chão ou acha melhor esperar ela acordar? — Amanda avisa e olho para Cristal que estava de olhos abertos e fecha-os rapidamente.

— Deixa a Chiara entrar primeiro, garanto que ela vai acordar na hora. — Digo e Amanda sai do quarto. — Se não quiser, posso pedir para ela esperar mais um pouco. — Entrego o bloco para Cristal.

*É o que mais quero, só estou com medo de como ela vai reagir.*

— Bem, primeiro ela vai chorar como uma criança, depois te abraçar e não soltar por um bom tempo. — Digo com sorriso para ela

*Pode dizer que a amo por mim?*

— Não precisa se preocupar, ela sabe que a ama. — Digo e beijo a sua mão que tremia de ansiedade.

Ouvimos a porta ser aberta e com ela os batimentos de Cristal aumentam.

— Posso entrar? — Chiara pede sem jeito.

— Claro filhota, tem uma aqui ansiosa para te ver. — Digo e ela entrar em seguida.

A nossa pequena estava com os olhinhos vermelhos e cheios de água.

— Oi mãe... — Ela diz e as lágrimas escorrem pelo seu rosto.

Cristal senta na maca, tenta levantar para ir até ela e Chiara corre para os seus braços.

— Mãe... a minha mãe... desculpa. — Chiara dizia entre soluços sem conter as suas lágrimas.

Cristal apenas segura o rosto dela e começar a secar as suas lágrimas enquanto as dela caíam.

— Eu te amo, mãe... desculpa não ter dito antes... eu te amo. — Chiara diz abraçada a cintura da Cristal.

— Posso entrar nesse abraço também? — Pergunto ao aproximar-me das duas.

— Claro mamãe Luna. — Chiara responde com um sorriso que a tanto tempo não via.

Ali, senti-me completa novamente. Tudo estava certo dentro daquele abraço. Só existia a gente. Sempre existiu só a gente. Finalmente os pesadelos teriam um fim. Estávamos juntas de novo... para sempre dessa vez.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora