Capítulo 102: Cadeado falso

363 40 119
                                    

POV Luna

Depois de horas de treino pesado, estávamos deitadas no chão observando o céu estrelado enquanto o suor escorria pelos nossos rostos.

- Mãe, preciso de água, tem alguma? – Chiara pergunta se levantando lentamente.

- Tem algumas embaixo do banco da moto, trás uma pra mim também, filhota, to exausta. – Digo rindo enquanto tentava não me mexer para não sentir a dor dos meus músculos.

Rapidamente ela vai até a moto e volta com duas garrafinhas de água e a caixinha que havia esquecido ali.

- O que tem de tão especial nessa coisa? – Ela me pergunta curiosa enquanto analisava a caixa.

- Achamos ela em um cômodo escondido no quarto da sua mãe, Din disse que ela era do Teddy, mas ninguém sabe como abri-la. – Respondo enquanto tomava minha água.

- Tem alguma dica de como abrir? – Chiara pergunta se sentando com a caixa em cima de suas pernas.

- Din disse que tem uma charada na tampa dela, mas ta em braile. -Digo me sentando ao seu lado.

- Eu aprendi um pouco de braile na escola, nas aulas de convivência social e acessibilidade. – Ela me diz e a vejo fechar os olhos e passar os dedos sobre a caixa. – "Nem tudo é aquilo que parece, as coisas podem ser mais simples do que imaginamos, veja além do que seus olhos podem lhe mostrar".

- Não sabia que sabia fazer isso. – Digo orgulhosa da minha pequena.

- Passamos algumas aulas vendados para aprendermos como deficientes visuais leem. – Ela diz abrindo os olhos com um sorriso estampado no rosto. – A professora me elogiou pelo meu desempenho nas aulas.

- Isso foi muito bom mesmo, agora só temos que descobrir o que essa frase quer realmente nos contar. – Digo sorrindo sem jeito por não ter entendido nada da charada.

- Provavelmente ta falando do cadeado falso. – Chiara diz como se aquilo não fosse nada.

- Cadeado falso? – Pergunto extremamente confusa.

- É, ta vendo aqui, ele é fundido, podemos colocar qualquer sequencia nele que não vai abrir, Lúcio usa muitos desses pra enfeitar o quarto e também para enganar as pessoas. – Chiara me explica mostrando que o mecanismo responsável pela trava do cadeado estava fundido ao aço que o envolvia, logo não funcionaria.

- Eu não acredito que as meninas e eu passamos dias tentando descobrir a senha disso, para ser falso. – Digo rindo da minha própria estupidez.

- É comum isso, ninguém que não conheça costuma reparar nesses detalhes, eu mesma demorei um pouco para perceber, Lúcio teria visto no instante que colocasse os olhos na caixa. – Chiara diz rindo comigo.

- Agora é saber como vamos abrir isso sem ser pelo cadea... – Acabo sem interrompida pelo toque do meu celular, era Renata me ligando.

Ligação com Boca de Suvela on:

(Renata): Mulheeee onde você tá? A gente tem compromisso esqueceu? To te ligando faz mais de uma hora.

(Luna): Nossa mulhe, esqueci totalmente, eu estava treinando com a Chiara e perdi a noção do tempo.

(Renata): Meu deus Luna, já são 21:54 e tu ainda nem começou a se arrumar.

(Luna): Calma, chego a aí em meia horinha, segura.

Ligação com Boca de Suvela off.

- É melhor a gente ir antes que ela venha me buscar pelos cabelos. – Aviso Chiara que estava rindo da nossa conversa.

Corremos pra moto e fomos a toda velocidade de volta pra casa. Assim que estaciono a moto vejo Renata de braços cruzados em frente a porta tentando fazendo uma expressão brava.

- Boa sorte. – Chiara sussurra e passa por ela antes que pudesse fazer qualquer coisa.

Me aproximo tentando conter a risada pra receber um "esporro".

- Poxa Luna, a gente ta te esperando a um tempão. – Ela diz magoada.

- Já to indo tomar um banho e me arrumar para irmos, fica tranquila, não vou demorar, as meninas já voltaram? – Digo passando por ela e entrando em casa.

- Já, estão jantando com o pessoal agora, mas você vai direto pro seu banho. – Ela diz me empurrando para o quarto.

Rio da sua atitude e vou direto para o banheiro me arrumar antes que ela resolva me dar banho também. Decido vestir uma calça camuflada preta e cinza, um cropped preto, amarro meu cabelo em um coque bagunçado, calço um all star vermelho, coloco minha bandana vermelha, minha juju vermelha e uma mochilinha preta para fechar o pique bandida. Equipo minha pistola e já deixo uma algema, algumas munições e um teaser dentro da mochila, afinal, nunca se sabe o que pode nos esperar.

Termino de me arrumar e me encontro com Renata e Spok na sala me esperando. A animação dela era evidente e contagiante. Fomos juntos no carro do Spok para a festa. Todos ali estavam mascarados e alguns portavam armas pesadas gigantescas. A maioria das pessoas já estavam bem alcoolizadas, para onde olhássemos havia bebidas e drogas espalhadas pelo lugar como se não fosse nada. O beco era bem aberto e em um piscar de olhos, já havia perdido os dois de vista no meio daquela multidão. Tiro minha bandana por alguns segundos para beber uma caipirinha e logo a coloco novamente.

- E lá vamos nós, já não queria vir pra esse lugar e eles simplesmente me deixam aqui. – Sussurro pra mim mesma e ouço uma risada conhecida.

- Pensei que gostasse de festas, nunca vi alguém ficar tão acabada em tão pouco tempo. – A voz dela ainda é bem impotente para ser confundida com qualquer outra.

- O que faz aqui? Está me seguindo agora? – Digo em aproximando de Júlia que estava escorada em um murinho com várias bebidas.

- Você comentou que as pessoas da sua cidade eram muito mais animadas, então resolvi vir conferir se era verdade, só me esqueci de um detalhe, nunca perguntei onde você morava e acabei deixando meu celular com seu número na outra cidade. – Ela diz com seu jeito descontraído de sempre.

- E o que tá achando? – Pergunto feliz por não estar mais sozinha ali.

- Você tinha razão, são bem animados, mas nunca imaginei que poderiam sugar o charme de alguém assim tão rápido, não to brincando você tá acabada. – Ela diz rindo da minha cara.

- Digamos que rolou muita coisa depois que voltei e não tive muito tempo para descansar. – Dou uma explicação meia boca para ela.

- Eii, não me deve explicações e estamos aqui para curtir, então pega isso e bora pra pista. – Ela me entrega uma garrafa cheia de tequila e me puxa até a multidão de pessoas dançando.

Ela salvou minha noite e me fez esquecer de qualquer problema que me rodeasse. Com ela tudo era dança, pegação e muita bebida. Não existiam incômodos ou preocupações ao lado dela. Era a mais pura curtição. 

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora