Capítulo 198: Berislav: deuses, maldições e demônios

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POV Luna

Espero a permissão da Cristal para entrar e destranco a porta.

— Oi! Desculpa o atraso, tive que fazer uma reunião inesperada com as meninas. Trouxe o seu almoço. — Percebo que ela estava sentada na poltrona com um livro na mão assim que fecho a porta. — Qual é esse? — Aproximo e deixo o prato próximo a ela sobre uma das prateleiras.

— É a continuação de Berislav. — Ela responde sem tirar os olhos da página.

Recordava-me desse nome, mas não sabia nada sobre a história.

— Essa noite, as meninas e eu temos um compromisso e não sei que horas voltaremos. Júlia, Amanda e Marli estarão em casa caso precise de algo. — Aviso, o olhar dela se volta para mim, parecia querer dizer algo, mas desiste. — Quer que peça a Marli para trazer algum doce antes da doutora voltar do hospital?

— Não precisa, a minha dieta não está mais tão rigorosa. — Ela responde.

— Ainda conversa com o seu pai? Chiara me contou que ele manda algumas mensagens para ela. — Tento puxar algum assunto com ela antes de questionar sobre os Bloods.

— Ocasionalmente pergunta como estou, sobre o tratamento e quando iremos visitá-lo na Itália. — Ela diz sem muita emoção.

— Está tudo bem? — Essa é uma pergunta difícil de responder e vejo isso quando ela fecha os olhos por alguns segundos.

— Saudade da Mel e da Chiara. — A voz dela fica um pouco mais fraca.

— No final de semana elas voltam para casa. — Tento animá-la.

— Mas não vão ficar... vão voltar para o internato e teremos que nos despedir de novo. — Ela me encara por alguns segundos.

— Também não gosto dessa situação, mas é a forma que encontramos de mantê-las seguras. Sabe que é necessário. — Digo e ela passa a mão no rosto enquanto confirma com a cabeça. — E como está a terapia com a Amanda?

— É estranho... sei sobre o que ela quer falar, mas... às vezes não consigo. — Ela suspira, a conheço o bastante para saber que prendia algo na garganta. — Conversar é bom, só que... em alguns momentos machuca. — Um sorriso forçado se forma no rosto dela.

— Posso dar um abraço? — Isso se tornou um costume, perguntar antes de me aproximar dela.

Cristal se levanta e passo os meus braços pela cintura dela que deita o rosto no meu ombro. Afastamos, coloco as mãos no rosto dela e sorrio.

— Preciso fazer algumas perguntas, mas não quero que se preocupe com nada do que disser para você. — O olhar dela se fixa no meu. — Já esteve em Osasco antes?

— Não que me recorde, mas... Cold já comentou algo. — Ela diz pensativa.

— Ele disse sobre a cidade ou sobre alguém? — Questiono e percebo ela fechar os olhos como se forçasse a memória.

— Ele reclamou, foi antes duma viagem, estava estressado, mas não lembro o motivo. — Ela abre os olhos. — Se não me engano, o assunto era um grupo de mulheres em Osasco. Na época pensei que ele se referiu a vocês, mas hoje não faz sentido por que antes disso ele me avisou que participaria duma reunião.

— Obrigada por me contar, vou deixá-la almoçar e tomar um banho. — Dou um beijo na mão dela e caminho até o closet para separar uma muda de roupa.

Volto, ela estava sentada na poltrona a mastigar com o livro nas mãos, decido tomar um banho de banheira para relaxar antes dum possível conflito. Enquanto a banheira enchia, escolho uma playlist no celular e ajeito os fones de ouvido para não caírem na água. As músicas tocavam de forma aleatória, os meus músculos relaxavam em contato com a temperatura morna e, após poucos minutos, adormeci. Não sabia ao certo quanto tempo passei ali, mas fui acordada por batidas na porta do banheiro.

— Luna? Tudo certo aí? As meninas já estão prontas. — Ivete chamava-me, saio da banheira e olho o horário na tela do meu celular, dezenove e vinte.

— Já vou sair. — Aviso enquanto enxugava o meu corpo na toalha.

Visto uma blusa larga, rosa, com uma estampada de caveira, provavelmente de alguma banda de rock desconhecida, calça jeans escura e coturno. Faço as marcas no meu rosto, seco o meu cabelo e o prendo num rabo de cavalo desajeitado. O meu celular estava com pouca bateria e escolho deixá-lo em casa a carregar. Despeço de Cristal que estava sentada em frente a escrivaninha e apenas acena quando abro a porta.

As meninas estavam a minha espera no hall de entrada, corro até o freezer, visto um colete, pego uma Ak e uma pistola, ambas carregadas. Junto-me a elas, nos organizamos nos veículos e aviso no rádio.

Rádio ligado.

(Luna): todas prontas?

(Gabi, Maju e Renata): sim, patroa.

(Luna): Gabi, não esquece, o seu nome a partir de agora é Cristal Giorno, líder da Hells Angels, certo?

(Gabi): deixa comigo.

(Luna): não esqueçam as máscaras. — Coloco a minha bandana vermelha. — Como estão divididas?

(Gabi): Ivete e eu na moto.

(Maju): estou com a Alicia de piloto no zentorno.

(Luna): certo, Priscilão e Renata estão comigo no kuruma. Vamos dar uma volta no lugar e analisar os convidados que chegarem. Tentem não chamar muita atenção logo de início. O objetivo dessa festa é conseguirmos informação. Peguem leve com a bebida, evitem andar sozinhas, atenção ao rádio, qualquer sinal de conflito primeiro tentaremos sair do bar. Se não conseguirmos, podem meter balas nesses otários. Cristal disse que não sabe de muito sobre Osasco, mas disse que ouviu Cold reclamar de uma reunião que participou com um grupo de mulheres daqui.

(Priscilão): sombras?

(Luna): não tem como sabermos, mas fiquem atentas, podemos descobrir algo relacionado a ele hoje.

Rádio desligado.

As meninas comemoram, Priscilão coloca a localização no GPS do carro e assumo a frente do caminho. Fora alguns minutos de estrada. A lua iluminava a noite. Um letreiro luminoso vermelho indicava estarmos no lugar certo. Uma boate próxima à rodovia, depois de alguns metros de estrada de terra. Já haviam alguns carros e motos estacionados envolta do lugar. Um homem na porta, provavelmente ele é o segurança responsável por permitir a entrada exclusiva dos convidados.

Rádio ligado.

(Luna): alguém aqui reconhece algum desses veículos?

(Maju): aquele amarelo, rebaixado com o neon em baixo, já vi um muito parecido, a Kátia dos Vagos chegou na quebrada deles com ele, quando fui comprar droga.

(Renata): Maju, aquela moto estacionada bem próxima à entrada, não é a do Kuro? — Ela se refere a uma Nightblade vermelha ao lado de outra com detalhes de chamas roxas.

(Maju): não consigo afirmar, só o vi uma vez de moto.

(Priscilão): o único do lado de fora é o cara na entrada.

(Gabi): os meninos ainda não chegaram e não vejo nenhum veículo da Tríade aqui.

(Luna): deixem os veículos camuflados nos arbustos mais afastados da boate e vamos esperar alguém chegar. — Olho o horário no celular, vinte e dezessete.

Rádio desligado.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora