Capítulo 182: A espera

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POV Luna

Cristal encarava-me preocupada.

— Temos uma hora para sair dessa cidade. Se apoia em mim. — Ajudo ela a levantar da maca, passo um braço na cintura dela que segura no meu ombro e, com a minha mão livre, seguro o rádio.

Rádio ligado.

(Luna): meninas! Preciso de vocês organizadas com as crianças nos carros em menos de 20 minutos. Vou passar de ambulância em frente a mansão, nesse sinal irão sair e partiremos para o ponto de encontro. Gabi, Ivete e Priscilão, busquem os três adolescentes na pizzaria do centro. Qualquer problema, pede a localização para a Chiara. Maju, avisa os meninos para se apressarem, Alicia, faça o mesmo com a Clarisse. Temos menos de uma hora para deixar a mansão e de preferência a cidade também.

(Priscilão): o que aconteceu?

(Luna): Mari ligou para avisar, a polícia vai invadir a mansão com a intenção de prender o Lúcio e eu. Houve uma denúncia anônima sobre o hacker que fizemos nas câmeras estaduais.

(Renata): porra! Que merda! E a Mel? A Júlia não está aqui para dirigir o Kuruma.

(Luna): então você vai ter que assumir o lugar dela. Já liga para ela ou para Amanda e avisa da mudança no horário. Cuidado com a minha filha!

Rádio desligado.

Chego na ambulância, deito Cristal na maca e regulo os cintos que a prendiam ali. Sento no banco do motorista, dirijo para longe do hospital, respiro fundo e sigo para a mansão. Não demoro a chegar, logo as meninas acompanham-me numa fileira de carros bejes, cinzas e pretos. Sem as cores vibrantes de antes é difícil de reconhecê-los. Seguimos alguns quilômetros pela rodovia da praia quando Priscilão e Gabi nos encontraram e coloquei a localização do ponto em comum marcado com o MC e a Tríade no GPS. Assim que saímos da rodovia, uma moto policial passou por nós com a sirene ligada sentido a mansão. Chegamos com os meninos. A Tríade já estava ali, alguns pareciam inquietos, outros preocupados e Octavius escorado em um carro de luxo com o seu sorriso arrogante e inabalável.

Rádio ligado.

(Luna): estacionem os carros próximos aos deles, cuidado com as bombas de gasolina, não queremos uma explosão. Vou manter a ambulância afastada devido ao acontecido na última reunião com a Tríade.

(Priscilão): por que vamos parar? A polícia já deve estar na mansão enquanto esperamos.

(Renata): ainda falta a Júlia e a Amanda.

(Luna): o que elas disseram sobre a mudança no horário?

(Renata): nada, só concordaram. Na minha opinião, elas estavam estranhas quando liguei.

(Luna): avisem que iremos esperar aqui por alguns minutos, depois partiremos.

(Renata): devo ligar para as meninas e apressá-las?

(Luna): não, se não chegarem a tempo, iremos sem elas. Mantenham as crianças afastadas da Tríade, principalmente a Chiara. Não quero que o Octavius faça perguntas para ela.

(Gabi): Clarisse questionou o motivo da espera.

(Luna): diga que estamos à espera da autorização de um infiltrado no governo para a saída da ambulância.

Rádio desligado.

A tensão no local causava um silêncio tão profundo que com muita concentração permitia-me ouvir, a distância, as sirenes das viaturas. Não recebi nenhuma ligação da Mari, nem da Clara, espero que seja um bom sinal. Também haviam alguns cochichos ansiosos sobre a espera no ar.

Rádio ligado.

(Ivete): desculpa a pergunta, mas o que faremos se elas não chegarem?

(Luna): partiremos sem elas.

(Gabi): depois elas vão nos encontrar na vinícola?

(Luna): não, elas não fazem parte da facção, por isso dei a elas a escolha de nos acompanhar ou não.

(Maju): o quê?

(Priscilão): elas têm muita informação sobre todas nós. Podem estar com a polícia agora.

(Luna): não interessa o que elas farão a partir de hoje. As ações delas não são e nunca foram da nossa responsabilidade ou interesse. Se elas não chegarem nos próximos minutos, serão esquecidas. Caso cheguem, ainda não farão parte da facção e nem de nada relacionado ao ilegal. Elas são civis livres e continuarão assim não importa a decisão que tomarem.

(Priscilão): sei que está no comando enquanto a Cristal se recupera, mas essa é uma decisão muito importante e duvido que ela concordaria com isso Luna. Sugiro uma votação para definirmos o destino delas.

(Luna): está acima da minha ordem, Priscilão?

(Priscilão): claro que não, só não concordo com ela.

(Luna): a sua opinião não foi pedida, apenas comuniquei como agiremos de hoje em diante. Tomei essa decisão na frente da Cristal que me deu total liberdade para a realizar. Não se esqueçam da hierarquia. Qualquer oposição, podem questionar a líder quando chegar a cidade e ela assumir o posto dela novamente. Enquanto isso não acontecer, faremos do meu jeito.

(Priscilão): sempre chefe.

Rádio desligado.

Agora a tensão era por outro motivo, não haviam mais sussurros ou reclamações. Questiono-me se fui grossa, mas sei que ela não teria feito diferente. Sou a líder no momento. Logo, a minha decisão é a lei e não pode ser contestada.

Saio dos meus pensamentos com batidas na parte de trás da ambulância. Desço do banco do motorista e vou até Cristal. Ela parecia apreensiva com os cintos que a prendiam na maca.

— Calma. — Afrouxo eles para ela.

Cristal segura a minha mão com força. A viagem não seria fácil para ela, principalmente sozinha nessa parte de trás. A única livre para nos acompanhar na ambulância é a Ivete, a qual não é uma boa opção. Sabia que Amanda e Júlia fariam falta, mas não imaginei nesse nível. O meu maior medo é Cristal ter qualquer complicação durante o trajeto.

— Vai conseguir suportar a viagem assim? — Ela olha-me com um sorriso calmo, falso.

Dou um beijo na mão dela, um ato de medo, preocupação. Talvez seja mais seguro colocá-la no banco do passageiro ao meu lado. Assim, pelo menos ela não estará sozinha. Antes que a tirasse da maca, uma voz surpreende-me.

— Para onde vai levá-la?

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora