POV Luna
O caminho foi calmo, já estava tão acostumada a fazê-lo que o meu corpo agia em automático enquanto a minha cabeça viajava. Nossa vida mudaria ainda mais. Um novo mercado, concorrentes, amigos e inimigos. Possivelmente não fabricaríamos o mesmo produto. As crianças teriam que se adaptar a uma escola diferente, penso em como seria se ficássemos aqui. Uma guerra com certeza é a resposta, agentes de todos os níveis e cargos a nossa procura. Invasões, tiroteios e mais mortes, mesmo que a mudança seja difícil, ficar seria pior.
Estaciono atrás do prédio, entro e após poucos passos ouço Júlia e Amanda discutirem.
— Não é como se fosse um grande sacrifício, Amanda. Sejamos sinceras, foi despedida do hospital a mais de um ano por ausência e paranoia durante as poucas vezes que estava lá. Acompanhou todos os noticiários sobre o caso da máfia e buscava por atualizações diariamente, pois sabia que em algum momento o nome Giorno seria citado. Também não tem família além de nós na cidade, vai renunciar a tudo que reconstruímos. — A voz de Júlia parecia irritada.
— Se aceitar ir com elas, seguirei as ordens da Luna e entrarei nesse mundo de novo. Demorei anos para superar os traumas da polícia, não quero estar do outro do tiroteio. Quero cuidar das pessoas, curá-las e sim, perdi o meu emprego por não ter ajudado a senhorita Giorno a tempo. Não quero abandoná-la assim, mas caramba! É isso ou submeter-me a uma facção e terminar morta em alguma vala. — Amanda retruca com uma voz firme enquanto aproximava da porta do quarto ao lado do da Cristal.
— Ela não disse que entraria para a facção, só que precisamos de você para continuar o tratamento. — As vozes vinham de dentro desse lugar.
— Precisamos? É uma delas? Disse que eram só amigas. — Agora era a doutora que gritava.
— Não, não estou permanente. Sou só uma amiga que está disposta a ajudar. — Júlia tenta explicar.
— Então Luna sabe que vai sair para viajarmos o mundo juntas? Obviamente conversou com ela antes de prometer para mim, não é? — O tom sarcástico ainda não conseguia esconder os vacilos da voz dela.
— Eu... não, Amanda, ainda não falei com ela sobre isso, mas não será um proble... — É interrompida por um grito.
— Mentira! Não é verdade e sabe disso. Apenas acredita porque não quer encarar a realidade. Está apegada a elas e gosta da adrenalina que tudo isso traz. — Um silêncio repentino. — Sei que já fiz muita merda na vida, principalmente com você. A culpa dessas atitudes corroera-me por muito tempo até que nos encontramos e tive a chance de redimir-me com você. Pude explicar todo a manipulação que fiz e sofri, consegui o seu perdão e, junto dele, o seu amor.
— Não é por estar em uma facção que deixei de ter esse sentimento por você. — Júlia diz, mas Amanda logo retoma o seu ponto.
— Deixa-me terminar! Quero ser a mais sincera com você, porque foi isso que nos separou no passado. Eu te amo! Amo de verdade, gosto de estar com você e de sentir o seu amor por mim, mas não somos adolescentes para acreditar que isso é tudo o que importa. O nosso amor não deve e não é maior que os meus sonhos. Temos amor-próprio e pelo bem da minha saúde mental não posso acompanhá-la nessa parte da sua vida. De mesma forma, não quero que as deixe, sei do quanto gosta da adrenalina do ilegal e de como são importantes para você. Merece viver da maneira que mais a agrada. Acredito num futuro onde envelheceremos juntas, apenas com alguns gatos e cachorros para cuidar, mas para isso, nesse momento, não precisamos estar juntas. — Amanda chorava ao concluir a fala.
— Está certa... Menos num ponto, não estou com elas pela adrenalina, mas pelo carinho. Elas criaram uma família no meio dum mundo caótico e quando conheci a Luna, fui envolvida por essa sensação de pertencer a algo e é muito bom. Não quero tiros, drogas ou fugas da polícia, só o conforto de saber que elas estão ali por mim como também estou por elas. Posso afastar-me de toda parte ilegal, começar uma vida nova se nessa puder ter você e as meninas ao meu redor. — Júlia desabafa, a voz dela era calma e esperançosa.
— Seria um sonho, mas duvido que nos deixaríamos livres por um sonho... — Decido abrir a porta antes que Amanda concluísse a fala.
— Por um sonho não, mas pelo amor, pela lealdade e por toda ajuda que já nos prestaram. — Elas assustam com a minha presença. — Conheço o sentimento de perder um amor tão intenso e acredito na confiança das duas diante da minha família. São livres para decidirem qual caminho querem seguir, mas pelo bem da pessoa que eu amo, preciso fazer um pedido: por favor nos acompanhem nessa mudança e no tratamento da Cristal. Partiremos essa noite, às 24 horas, Júlia sabe onde nos encontrar. Se aceitarem o meu pedido ainda serão livres e não participarão de nada da facção, basta chegar no horário. Caso não, desejo toda felicidade para às duas e dou a minha palavra que nenhuma de nós irá atrapalhá-las. — Elas ainda estavam em silêncio, apenas saio do quarto e entro no da Cristal.
Ela estava acordada na cama com uma expressão tranquila, mesmo com as olheiras e o corte na testa. Os olhos da cor de mel, cansados, mas belos como sempre. Amanda estava certa, nos amamos, mas isso não significa que precisamos ficar juntas sempre. Somos completas por nós mesmas e ainda melhores próximas. Vou esperá-la Cristal Giorno, nem que dure uma eternidade, estarei pronta quando também estiver.
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Nem a distância nos separa
FanfictionDentro de uma família, se criam laços, uns mais fortes que outros e o que elas criaram se tornou tão indestrutível que mesmo distantes, uma consegue sentir as emoções da outra. Mesmo que o mundo pareça estar contra, esse laço as uni, as prende. Essa...