Capítulo 186: Figlia

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POV Luna

— Não deviam ser assim. Fiquem nas portas, não quero que elas saiam antes de conversarmos e cuidado para não chamar a atenção dos outros ou começará um tiroteio. — Clara comanda a mulher e o homem atrás de nós que se posicionam nas duas saídas do cômodo.

— Traíra de merda! Eles vão desconfiar da demora e quando acontecer vou ter o prazer de ver os seus corpos ensanguentados sujarem esses tapetes chiques. — Ameaço e a vadia sorri.

— Não esperaria menos de vocês, mas a intenção não é começar um tiroteio ou sujar esse lugar de sangue. Também não foi ideia minha atraí-las até aqui, mas acredite, foi preciso. — Clara sempre vai se sentir superior, mais inteligente, mais rápida. Vai morrer hoje pela própria prepotência.

— Clara, deixa ele explicar, vai ser mais fácil. — Mari abre espaço para o senhor assustado.

— Quem é esse velho? — Folgadinho pergunta confuso e irritado.

— Papá... — Cristal fala quase como um sussurro.

— Figlia... — Ele se aproxima dela receoso e antes que me colocasse entre os dois, Cristal vai até ele e o abraça. — Perdonami figlia... Perdona tuo padre.

Papá? Impossível. Mari estava com um sorriso enquanto Clara mantinha-se séria, indiferente.

— Alguém pode explicar o que isso significa? — Pergunto entre dentes.

— Lascia che ti guardi, piccolo mio... Quando la polizia mi ha detto cosa è successo... Perdonami per non essere nella tua vita, per non averti cercato, per non averti visitato e per non averti potuto proteggere. (Deixa-me olhar você, minha pequena... Quando as policiais me contaram o que aconteceu... Perdoa-me por não estar na sua vida, não ter procurado, por não visitar e por não ter conseguido protegê-la) — Ele segurava o rosto da Cristal e estava com a voz embargada como se segurasse o choro na garganta. — Avevo tanta paura di non vederti mai più... non potevo dire la verità a tua madre... potevo solo chiedere a queste donne di proteggerti e non appena mi hanno detto che stavi bene, sono venuta in Brasile, Avevo bisogno di abbracciarla. (Estava com tanto medo de nunca mais te ver... Não podia contar a verdade para sua mãe... Só podia pedir a essas mulheres para te proteger e assim que elas me disseram que você estava bem, vim para o Brasil, precisava abrace-la) — Os dois se abraçavam com força e ele não parava de falar.

— Cristal... quem é ele? — Pergunto mesmo que já soubesse a resposta, precisava ouvir da boca dela.

— É o meu pai. — Vejo os olhos dela marejados e um sorriso sem jeito nos lábios.

— Por isso viemos, Luna. Deixa os dois a sós e podemos conversar na cozinha. — Clara caminha para a saída a minha direita.

— Como se pudesse confiar em vocês? Não vou deixá-la sozinha com essa gente. — Digo irritada e o olhar do homem mais velho cai sobre mim ainda assustado.

— Essa gente é o Senhor Giovanni Giorno e os seguranças particulares dele. O pai da Cristal, posso garantir que ela é a última pessoa que seriam capazes de machucar. — Mari diz com calam e insiste que as acompanhemos.

— Não é o bastante para mim. — Pego a mão da Cristal que se afasta dele.

— Devolvam as armas deles, deve se sentir mais segura com algo para se defender e sem querer ser rude, mas seria melhor avisar que estão bem antes que tenhamos problemas maiores. — Clara é incisiva, Folgadinho e eu recebemos as pistolas que nos foram tiradas e aviso no rádio.

Rádio ligado.

(Luna): estamos bem. Clara e Mari estão aqui junto de três seguranças, podem ter mais pela casa. Não entrem ainda, elas querem conversar sobre um contratempo, continuem alerta.

(Priscilão): no primeiro disparo invadimos.

(Luna): conto com vocês para isso.

Rádio ligado.

Olho para Cristal e para o senhor a nossa frente.

— Pode ir, é o meu pai e sei que não estarão longe de mim. — Ela pede, hesito ao soltar a sua mão e ir até Clara.

— O que querem com isso? — Questiono enquanto os observava.

— O senhor Giorno é o nosso patrocinador para a investigação do Quaresma. Precisamos de dinheiro para não utilizarmos o equipamento da polícia e pagar algumas pessoas que não gostam de conversar com a polícia. — Clara apoia-se numa enorme mesa de madeira escura.

— Contamos a ele sobre o desaparecimento da filha a alguns anos e ficamos responsáveis de atualizá-lo quanto a situação em troca do dinheiro. Ele soube que ela ainda estava viva a poucos dias, quando pedimos a autorização para utilizar essa vinícola como esconderijo para vocês. — Mari também estava com os olhos nos dois.

— Chorou igual a uma criança. Não pensei que se importasse tanto com a filha já que a expulsou de casa e nunca buscou nada dela, mas ele é diferente. Possui retratos e pinturas dela espalhados pela mansão na Itália. A educação dos ricos é mandar os filhos mimados e desobedientes para outro país e esperar que eles busquem os pais totalmente domesticados como cachorrinhos abandonados. — A delegada ri dessa ideologia falha.

— Nem precisamos dizer que isso nunca funcionaria com a senhorita Giorno, afinal a conhece melhor que qualquer um aqui. — Mari diz com um sorriso gentil.

— Bem, temos outros assuntos a tratar agora que chegaram com segurança na cidade. — Clara chama a minha atenção. — Conseguimos um rastro dos vermes, não sabemos se é confiável, mas já é melhor que nada. Cold possuía uma lancha pequena no nome dele, a qual foi encontrada abandonada numa praia isolada próxima à cidade de Valência na Venezuela.

— Uma lancha? Então eram aqueles desgraçados na água. — Digo e Mari encara-me curiosa. — Na noite que explodimos a base deles, no litoral, antes de apagar, vi duas pessoas em um barco no mar. Provavelmente eram eles com essa lancha.

— Por que não nos contou isso antes? Poderíamos ter entrado em contato com várias guardas litorâneas para procurar eles antes de saírem do país. — Clara repreende-me.

— Não eram confiáveis o bastante para saberem disso e a situação que estamos agora só prova o meu ponto. Também não confiaram em nós o bastante para a abrir o jogo sobre o velho. — Aumento o tom da minha voz.

— Relaxem esses nervos, estamos atrás do mesmo objetivo. Chega de esconder informações ou nunca vamos conseguir encurralá-los.— Mari puxa uma cadeira para mim. — Vou buscar água para vocês usarem mais a razão ao invés da emoção.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora