Nem a distância nos separa

Capítulo 108: Apenas amigas?

POV Luna

Durante o caminho, pude perceber o quão chateada Chiara estava e o quão manhosa ela consegue ser. Ela estava insistindo em manter-se longe de mim a ponto de não abraçar minha cintura como sempre fazia quando andávamos de moto. Dessa vez estava tentando se segurar na moto, mas mal adiantava já que sempre que acelerava a moto, ela acabava tendo que se apoiar em mim para não ser jogada dali. Apenas ria daquela situação, já que sabia que logo tudo se resolveria.

Chegamos e Chiara desce o mais rápido possível entrando na minha frente na trilha. A acompanho em silencio até o local de treinamento e a vejo me encarar um pouco distante me esperando lhe passar os exercícios de hoje.

- Vai ficar de cara fechada o treino todo? – Pergunto rindo da sua expressão para mim.

- Vocês estão juntas? – Chiara é direta e acaba me surpreendendo.

- Não... Júlia e eu, somos amigas. – Respondo e ela se mantem em uma postura séria.

- Amigas, nada além de amigas? – Ela insiste na pergunta como se já soubesse de algo.

- Sim, apenas amigas. – Confirmo enquanto a observava revirar os olhos.

- Não sabia que amigas se beijavam nas horas vagas. – Chiara diz dessa vez olhando no fundo dos meus olhos como se pudesse me ler completamente.

- Como sabe disso? – Pergunto confusa pela situação.

- Argh... Então é verdade, você tá... tá substituindo a minha... – Vejo seus olhos se encherem de água, mas antes mesmo que terminasse a frase, Chiara dispara na pista de corrida.

- Eiii... Chiara... – Digo enquanto tentava acompanha-la, mas ela nunca havia corrido daquela forma antes.

Me esforcei ao máximo e ainda assim mal conseguia acompanha-la, muito menos para-la. Ela deu duas voltas completas pela pista sem nem um segundo de descanso até que seu ritmo já estava diminuindo quando ela não percebe um dos buracos a sua frente e a vejo cair com tudo na terra.

- Tá tudo bem? Se machucou filhota? – Pergunto tentando ajudá-la a se levantar.

- To bem, não preciso da sua ajuda. – Ela diz tentando se levantar por conta própria e por pouco não cai novamente.

- Vem e para de dar birra que você já ta grandinha para entender as coisas. – Digo a levantando para que ela possa se apoiar em mim.

Ela fica em silencio enquanto a levava até um barraco que havia ali. A deixo sentada em um banco de madeira que havia ali e vou até o pequeno escritório que havíamos construído aqui a muito tempo. Encontro alguns kits de primeiros socorros e volto para Chiara.

- Deixa eu ver o que aconteceu. – Peço e Chiara coloca sua perna esquerda sobre o banco.

Tiro o tênis que ela utilizava e percebo seu tornozelo um pouco inchado e vermelho, mas nada que um pouco de gelo não resolva.

- Não quebrou, só deslocou um pouco, nada muito sério, mas vai precisar ficar mais quieta por um tempo, pelo menos até desinchar. – Digo passando, com bastante cuidado, uma pomada anestésica no local.

- Pensei que vocês se amavam... sei lá, ainda tinha esperanças de ver a duas juntas. – Chiara diz e sinto medo em sua voz. – Realmente queria acreditar que um dia poderíamos ser uma família como antes... Mamãe Luna, Mamãe Cristal e Chiara contra o mundo.

- Olha... eu cometi muitos erros com a sua mãe e tê-la abandonado foi o maior deles... mas eu nunca deixei de ama-la nem por um segundo. - Digo segurando sua mão enquanto a acariciava.

- Você não nos abandonou... eu entendo que precisava se afastar de toda essa bagunça, só... eu senti que... que estava usando a Júlia para se esquecer dela. – Ela diz e me sento ao seu lado.

- Não vou mentir pra você, filhota... eu tentei esquecer sua mãe, acreditei que pudesse ser melhor para nós duas assim... e primeiro usei a Clarisse para isso. – Digo e coloco suas pernas sobre meu colo - Por um tempo pareceu funcionar, mas só estava me iludindo e perdendo sua mãe aos poucos... Quando fomos para aquela festa, a um bom tempo que você insistiu em ir com a gente, mas eu neguei e te pedi para cuidar dos seus primos... Nessa noite, ela foi na festa e foi como se tudo voltasse a ser como antes, ela estava hipnotizante e eu não conseguia tirar meus olhos daquele sorriso. Nos beijamos naquela noite e ali eu entendi que nunca conseguiria esquece-la. No dia seguinte, fui sincera com a Clarisse e terminamos.

- Então você traiu a tia Clarisse? – Chiara diz um pouco decepcionada.

- Sim e ainda assim, ela foi uma mulher incrível que me entendeu até no ultimo minuto e me apoiou não se importando com a minha decisão... só que, naquele dia... sua mãe nos convocou para uma reunião na casa dela. Cold estava lá e ela nos contou que estava noiva. Isso me destruiu, foi como se assim que ela nos disse isso eu entrasse em um pesadelo e não conseguia mais enxergar nada que acontecia a minha volta. – Digo e percebo o olhar de Chiara focado em mim. – Foi aí que decide ir, esquecer tudo por um tempo, me isolar um pouco e usei seu tio Thom como um abrigo pra tudo aquilo e conheci a Júlia, minha segunda tentativa de esquecer sua mãe e novamente foi completamente falha. – Ouço Chiara soltar um risinho. – É, vai rindo garota, sua mãe tem algum feitiço, é impossível superar ela e depois que descobri a verdade de tudo que estava acontecendo... tudo que ela estava fazendo por nós, foi como se eu voltasse a enxergar e ela fosse minha guia mais uma vez.

- Vamos traze-la de volta, né? – Chiara pergunta se sentando no meu colo e apoiando a cabeça em meu ombro.

- Sim filhota, estamos trabalhando pra isso, nunca mais vou abandonar nenhuma de vocês. – Digo acariciando seus cabelos.

- Desculpa mamãe, eu não devia ter agido daquela forma. – Chiara diz e apenas a abraço mais forte.

- Ta tudo bem, eu devia ter te contado a verdade, já não é mais uma criancinha, não devia te tratar como uma. – Digo e a vejo me olhar com um sorriso. – Bem, você precisa descansar então nada de treino físico por hoje.

- Eu já to melhor mamãe, nem ta doendo tanto assim – Chiara diz se levantando e tentando não mancar enquanto caminhava.

- Nada disso, me espera aqui, vamos fazer outra coisa por agora. – Digo a sentando no banco novamente e saindo dali.

Caminho mais tranquila até a moto como se tivesse me livrado de um peso sobre meus ombros. Nossa menina ta crescendo mais rápido do que eu pensava. Ainda assim, ela sempre vai ser minha filhota.