Capítulo 188: Única

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Todos os diálogos realizados entre Cristal e o pai dela serão em italiano, apenas quando estiver em um ponto de vista (POV) diferente do dela, colocarei o dialogo original e a tradução. 

POV Cristal

— Deixa-me olhar você, minha pequena... Quando as policiais me contaram o que aconteceu... Perdoa-me por não estar na sua vida, não ter procurado, por não visitar e por não ter conseguido protegê-la... Estava com tanto medo de nunca mais te ver... Não podia contar a verdade para sua mãe... Só podia pedir a essas mulheres para te proteger e assim que elas me disseram que você estava bem, vim para o Brasil, precisava abraçá-la — Ele falava tão rápido, algumas palavras embaralhavam a minha cabeça e o seu toque não era capaz de me assustar ou causava qualquer desconforto.

— Cristal... quem é ele? — Luna questiona provavelmente confusa com a situação.

Não sei como explicar isso, talvez ainda não acreditasse que de fato ele estava a minha frente.

— É o meu pai. — Digo e sinto algumas lágrimas presas nos meus olhos ao pronunciar tais palavras.

— Por isso viemos, Luna. Deixa os dois a sós e podemos conversar na cozinha. — Clara convida Luna e Folgadinho para saírem do cômodo.

— Como se pudesse confiar em vocês? Não vou deixá-la sozinha com essa gente. — Ela estava irritada, mas também podia reconhecer o medo na sua voz.

— Essa gente é o Senhor Giovanni Giorno e os seguranças particulares dele. O pai da Cristal, posso garantir que ela é a última pessoa que conseguiriam machucar. — Mari tenta convencê-la.

— Não é o bastante para mim. — Ela segura na minha mão e afasto do meu pai para falar com ela.

— Devolvam as armas deles, deve se sentir mais segura com algo para se defender e sem querer ser rude, mas seria melhor avisar que estão bem antes que tenhamos problemas maiores. — Clara não olhava para Luna como uma ameaça, mas também não estava com paciência para muita conversa.

Ouço ela avisar no rádio sobre a nossa situação e espero ela terminar para falar.

— Pode ir, é o meu pai e sei que não estarão longe de mim. — Transmito uma confiança, ela encara-me receosa por alguns minutos, solta a minha mão e caminha até Clara.

Folgadinho e Mari a acompanham enquanto o meu pai aproxima-se novamente.

— Filha? — Giovanni segura as minhas mãos, o seu olhar estava repleto de arrependimento. Essa seria a primeira vez que o orgulho não falaria mais alto que os sentimentos dele? — Não sei e nem acredito que um dia vá me perdoar. Depois de tudo, nem sequer sou digno do seu perdão, mas não quero mais essa distância entre nós. É a minha filha, única, todo o meu amor materializado numa pessoa.

Única? O rosto de Rodrigo e Ryan voltam a minha cabeça. Mais uma mentira ou ele realmente não sabia da existência dos dois?

— E os meus irmãos? Não são importantes para você? — Pergunto sem muita discrição e ele apenas abaixa a cabeça envergonhado.

— Então os conheceu. Não tenho orgulho do meu passado antes da Itália, antes da sua mãe. Era um homem sem princípios, perdido no mundo apenas com desejos da carne e sem um pingo de responsabilidade. Ordenei aos meus seguranças para procurarem eles meses após a sua vinda para o Brasil. Foi quando descobri sobre as diversas passagens pela polícia e dos envolvimentos com tráfico, assaltos, assassinatos. — Ele enxuga algumas lágrimas do rosto.

— E isso o fez desistir deles? A minha ficha não está tão diferente ultimamente. — Digo ao afastar-me dele.

— Não! Deu-me mais vontade de encontrá-los, contei a sua mãe sobre eles e disse que os queria na Itália. Dar a eles uma chance para mudarem o rumo de suas vidas. Nem preciso dizer que ela odiou a notícia, mas depois de alguns dias apoiou a minha decisão. Juro que tentei entrar em contato, foram tantas ligações recusadas, números bloqueados, alguns dos meus seguranças foram ameaçados. Eles não me queriam, era tarde demais para me perdoarem. Mas ainda quis ajudá-los, mesmo que a distância. Enviei-lhes maletas cheias de notas, convenci amigos a aceitá-los em suas empresas brasileiras. Eles nunca aceitaram nada meu e sempre fugiam quando os encontrava. Entendi que o melhor a fazer era deixá-los seguir como preferiram, sem mim. — Rodrigo e Ryan eram muito cabeças duras para aceitar qualquer ajuda do homem que os abandonou no mundo, não posso culpá-los.

— Pelo menos tentou, isso é o suficiente para mim. — Forço um sorriso e ele me abraça com força.

— Obrigado filha, não sabe o quanto é importante para mim. — As mãos dele tremiam durante esse abraço longo.

— Soube o que aconteceu com eles? — Pergunto receosa de fazê-lo sentir-se culpado, mas era o pai deles e precisa saber a verdade ou pelo menos uma parte dela.

— Deles? Clara contou que o corpo do Rodrigo foi encontrado na mansão, pedi que ele fosse enterrado ao lado da mãe dele. — Ele diz cabisbaixo.

— Ryan também morreu. — Informo.

— Então eles estavam envolvidos com o seu sequestro e tudo que... — Novas lágrimas surgem no rosto dele, não preciso contar tudo.

— Não, Ryan tentou me resgatar e foi morto anos antes de me resgatarem. Rodrigo se infiltrou para me ajudar a escapar, mas antes que conseguisse a mansão foi invadida. — Essa mentira queimava a minha garganta.

— Eles estavam lá por você. Devo mais a eles do que imaginava, salvaram a minha garota. — Ele coloca as mãos no meu rosto e dá um sorriso aliviado.

— Chega desse assunto, não gosto dessas memórias. — Peço e ele confirma com a cabeça. — Também lhe contaram sobre os seus netos? — Forço mais um sorriso.

— Sim, Clara mostrou retratos de duas garotas lindas, Chiara com os cabelos claros, a mais velha, e a pequena Mel de cabelos mais escuros. — Ele sorri orgulhoso e mostra algumas fotos das duas no seu celular. Elas eram a capa de fundo do aparelho.

— Vai ter que atualizar essa foto, também possui um neto. — Digo e ele olha-me surpresos e os seus olhos vão na direção da minha barriga, o que me deixa extremamente desconfortável. — Charlie, filho do Ryan, um pouco mais novo que a Chiara.

— Ele teve um filho? — O meu pai pergunta orgulhoso.

— Na verdade, ele é adotivo, mas posso garantir que todo o amor do Ryan está nele. — Respondo ainda sem jeito com a situação anterior.

— Eles estão na cidade? Estou maluco para conhecer todos. — Um sorriso genuíno surge nos lábios dele.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora