Capítulo 187: Papá

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Horas antes

POV Cristal

Chiara e Mel estariam seguras junto das outras crianças, a maior razão do meu alívio. Em contra ponto, estou diante duma das mansões do meu pai, o qual nunca mais entrei em contato depois da briga responsável pela minha mudança para o Brasil. As minhas mãos suavam enquanto lembranças boas e ruins invadiam a minha mente. Nunca vim nesse lugar antes, era impossível qualquer funcionário me reconhecer. Apreensiva, pego o meu bloco de notas e escrevo para Luna.

*O que acredita que vai acontecer?*

— Tento manter-me esperançosa, apenas vamos ser bem recebidas e escolher os nossos quartos. — Ela diz com um sorriso artificial.

*E no pior dos casos?*

— Vou protegê-la enquanto respirar. — Não era a única com medo, tento sorrir, mas não sai do jeito que queria.

Ela se vira para os meninos ao lado do carro, não foco no que discutiam, apenas observava a estrada de terra a frente do carro.

— Quer que um deles acompanhe ou prefere não? — Luna estava preocupada, apenas aponto para qualquer um com o intuito de terminar logo com isso. — Entra no banco do passageiro parceiro.

Luna fecha a minha porta, Folgadinho entra no banco do passageiro e ela ao meu lado. Ela é a minha âncora para a realidade, uma forma de afastar pensamentos ruins é ficar próxima a ela. Nesse momento, não surtar é de extrema importância para não estragar o plano deles. Foco na minha respiração e tento manter os meus pensamentos calmos e controlados, mas a ansiedade aumentava conforme nos aproximávamos daquele lugar.

— Bom dia, moça, como posso ajudá-la? — A voz denunciava a idade avançada, mas recusava-me a encarar o senhor.

— Bom dia, sou Alicia, motorista da senhorita Giorno. — Alicia toma a frente do diálogo e sinto-me aliviada pelas janelas da parte de trás continuarem fechadas.

— Senhorita Giorno? Bem-vindas a vinícola Tenute Giorno. — Ele exalava uma simplicidade misturada com gentileza e um toque de receio ou preocupação.

Tenute Giorno mais criatividade no nome para uma vinícola não existe. O cheiro das vinhas dominava o aroma do local e enchia-me de lembranças da Itália. Os sabores da minha infância voltavam a mente, músicas e quadros bem detalhados de paisagens os quais enfeitavam a casa. Todos aparentavam uma apreensão com tudo a nossa volta enquanto eu viajava em memórias. Essa sensação de pertencer a um lugar, faz tanto tempo.

— Meninas, tem um helicóptero preto ao lado da casa. — Folgadinho me traz a realidade e percebo Luna se preparar para sairmos.

— Alicia, não desce do carro, mantenha as portas e os vidros fechados. Alguém viu um guarda ou qualquer outra pessoal além do Senhor? — Nem estava atenta a isso e apenas neguei com a cabeça envergonhada pela distração. — Vamos entrar, não leva o fuzil, só pistola.

A arquitetura com uma mistura moderna pelas portas com grandes partes de vidro para o aproveitamento da luz solar e rústica com muitos detalhes em madeira escura e cores variantes entre tons de bege e laranja opaco. O hall amplo com um enorme tapete, escadaria encostada na parede para economia de espaço, vasos com um charme voltado para o classicismo grego e pinturas da paisagem italiana. Não haviam dúvidas quanto ao proprietário desse lugar, tudo aqui concordava com os gostos requintados do meu pai, faltava apenas uma música de Andrea Bocelli de fundo e o aroma gostoso de molhos, queijos e massas.

— Bem vindos! Por favor, acompanhem-me. — Assusto com a presença de um homem com roupas elegantes e voz grave.

— Para onde? — Luna questiona desconfiada.

— Acredito que existam pessoas melhores para explicar. Por favor, acompanhem-me. — Ele explica. Pessoas?

Luna e Folgadinho se preparam com as mãos próximas às armas e ela se aproxima de mim.

— Tudo bem? — Na voz dela havia preocupação ou medo.

— Lembra a minha casa, faz tanto tempo. — Digo com um sorriso saudoso.

— Fica perto de mim, se soltar a sua mão, corre para o carro. Alicia vai tirar você daqui. — Apenas concordo com a cabeça. — Folgadinho, fica mais perto e atenção a todas as entradas, não sabemos de onde podem vir.

Seguro a mão da Luna e seguimos para um cômodo a esquerda, ali havia uma lareia a qual complementava a decoração junto de um sofá de couro branco e uma pintura das vinhas envolta da mansão. Tudo estava tão atrativo e lindo até o meu olhar encontrar ele, o homem elegante do meu sonho estranho, mas agora seria impossível não o reconhecer. Papá...

A presença dele ali, a poucos metros de distância, após tanto tempo. As outras pessoas estavam em câmera a lente, não conseguia entender o que acontecia a minha volta, apenas podia o observar. Seria uma peça da minha cabeça conturbada? Por que ele estaria aqui?

A voz da Luna próxima a mim, não era mais capaz de cumprir o nosso acordo, não conseguiria fugir sem a resposta para as minhas perguntas.

— Não devia ser assim. Fiquem nas portas, não quero que elas saiam antes de conversarmos e cuidado para não chamar a atenção dos outros ou começará um tiroteio. — Clara? Demoro a reconhecer as outras pessoas no lugar.

— Traíra de merda! Eles vão desconfiar da demora e quando acontecer vou ter o prazer de ver os seus corpos ensanguentados sujarem esses tapetes chiques. — Luna estava exaltada.

— Não esperaria menos de vocês, mas a intenção não é começar um tiroteio ou sujar esse lugar de sangue. Também não foi ideia minha atraí-las até aqui, mas acredite, foi preciso. — A delegada provocava enquanto o homem que nos encaminhou até aqui protegia o meu pai.

— Clara, deixa ele explicar, vai ser mais fácil. — Mari tentava manter amenizar o clima tenso entre às duas.

— Quem é esse velho? — Folgadinho questiona e como um instinto respondo.

— Papá... — A minha voz presa na minha garganta pela emoção ou incerteza.

— Figlia... — Ele se aproxima. É ele? É ele! O abraço sem medo algum, um impulso sem controle. — Perdonami figlia... Perdona tuo padre.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora