Capítulo 119: Distintivo

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POV Luna

- LUNA... – Ouço Ivete gritar meu nome no quarto ao lado.

Fecho a gaveta de qualquer jeito, saco minha pistola e entro no quarto que ela estava. No quarto havia uma pequena bandeira dos EUA do lado esquerdo, duas camas de solteiro, a da esquerda estava um pouco mais arrumada que a da direita. Haviam duas cômodas, uma ao lado de cada cama e Ivete me esperava em frente a cômoda da direita que estava com as gavetas abertas.

- Tá tudo bem? – Pergunto preocupada.

- Você precisa ver isso. – Ivete diz se sentando na cama me indicando algo dentro da terceira gaveta da cômoda.

Me aproximo e vejo um distintivo e um coldre da polícia. Pego uma sacolinha e coloco na mão para pegar o distintivo sem deixar minhas digitais. O distintivo era dourado brilhante, parecia novo e muito limpo. O coldre era preto, de perna e tinha lugar para colocar uma pistola e um canivete.

- É de pula, sabe o que isso significa. – Ivete diz seria.

- Temos um infiltrado na polícia. – Digo e o rosto daquele intrometido me vem a cabeça. – Acho que estamos pensando na mesma pessoa.

- Quá quá... – Ivete começa a imitar o som de um pato toda orgulhosa da descoberta e não consigo conter a risada.

- Achou mais alguma coisa? – Pergunto olhando o lugar

- Lembra dos corpos na casa da Cristal, os norte-americanos? – Ivete pergunta se levantando da cama.

- Lembro sim, Cristal falou sobre eles no diário. – Digo e a vejo caminhar até a bandeira pendurada no quarto.

- No quarto anterior tinham várias roupas camufladas perfeitamente dobradas dentro das cômodas, uma bandeira muito maior que essa na parede, pesos de academia de todo tipo e alguns coturnos muito bem lustrados próximos às camas, desse lado do quarto tem essa bandeira, dentro da cômoda também tem algumas roupas camufladas femininas bem dobradas e embaixo da cama tinha três pesos diferentes e esse coturno feminino. – Ivete diz me mostrando as coisas no quarto.

- Até parece militares. – Digo abismada com a organização.

- Não só parece, eles eram e pelo que achei muito bem treinados, ah, também achei isso no quarto do lado. – Ivete diz me entregando um cantil de metal verde bem estilo militar.

Abro e o cheiro de álcool invade minhas narinas.

- Uísque americano barato, provavelmente é um Jack Daniels. – Ivete fala enquanto experimento um pouco da bebida e confirmo o que ela havia dito. – E também tinham nomes nas roupas, Elizabeth Thompson e David e Thomas Miller, no outro quarto.

- Os três já estão mortos então não precisamos mais nos preocupar com isso. – Digo devolvendo o cantil para ela.

- E você? Achou alguma coisa? – Ela me pergunta antes que eu saísse do quarto.

- Um quarto de porcos, o quarto da Naomi e do Scofield, um suporte para armas de alto calibre na parede, nada que nos surpreenda. – Digo saindo do quarto e indo para o último do lado esquerdo.

Diferente dos outros quartos, esse era muito grande. Tinha uma cama enorme de casal no centro, uma varandinha com vista pro quintal, no banheiro tinha uma banheira e era o primeiro quarto com um closet. Com certeza era o quarto principal da casa, tinha uma televisão, um console de vídeo game e algumas garrafas de bebida em cima do hacker. As paredes do quarto eram brancas com alguns detalhes rosas igual ao edredom que estava sobre a cama e tinha algumas pelúcias em forma de coração caídas no chão. Entro no closet e vejo algumas peças de roupas abandonadas ali. Abro as gavetas e encontro algumas roupas femininas, a botinha preta da Cristal e um estoque de remédios, bandagens e injeções. Percebo que a maioria daqueles remédios eram os que a Cristal precisava usar diariamente. Ele a trouxe para cá, eles estavam do nosso lado.

Decepção ainda é uma palavra fraca para o que estava sentindo dentro daquele quarto. Raiva, ódio, tristeza, todas essas sensações se misturavam em meu peito. Era com se eles sempre estivessem um passo a nossa frente. Vou até a varanda respirar um pouco e vejo as labaredas do condomínio em chamas. Abaixo meu olhar e vejo o quintal daquela casa. Haviam algumas árvores e arbustos que cercavam a casa e atrapalhavam a visão do lado de fora. A grama estava um pouco alta, tinham um monte de terra mexida próxima aos arbustos e uma espécie de alçapão de madeira no meio da grama. Saio do quarto e me deparo com Ivete fechando a porta do quarto em frente aquele.

- Alguma novidade nesse quarto? – Pergunto a vendo com um porta-retratos nas mãos.

- Só isso, pelo jeito os irmãos da Cristal também estão pela cidade. – Ivete diz me entregando o objeto.

Era uma foto antiga dela, do Ryan e do Rodrigo nos Vagos. Rodrigo estava com aquela cara fechada que ele usava para intimidar todo mundo enquanto Ryan e Cristal estavam abraçados com um sorriso de orelha a orelha.

- Vamos descer e contar para as outras o que descobrimos aqui. – Digo descendo as escadas com o porta-retratos nas mãos.

Assim que descemos vemos Gabi sentada no sofá pálida com Maju ajoelhada em sua frente abanando-a e as outras estavam carregando o porco para fora da casa. O cheiro estava horrível, mas assim que tiraram aquele animal da casa deu um alívio no odor. Ivete corre até a Gabi preocupada e eu vou até o quintal ver o que as meninas estavam fazendo com aquele animal. Elas abandonaram o animal dentro dos arbustos próximos ao monte de terra mexida. Me aproximei dela e pude perceber que não era um simples monte de terra. Aquilo era um túmulo e foi aberto em menos de um mês.

- Meninas, procurem alguma pá ou algo do tipo na casa, por favor. – Digo abaixada em frente ao túmulo.

- A gente pode procurar, mas por que chefinha? – Alicia pergunta preocupada.

- Vou abrir esse túmulo, quero ver quem ou o que tá aqui em baixo. – Digo e as vejo confirmarem e entrarem na casa.

A terra me parecia fofa, significa que vai ser fácil de desenterrar. Olho em volta e meus olhos focam no pequeno alçapão camuflado pela grama. Sinto um frio subir pela minha espinha e uma sensação de familiaridade com aquele lugar mesmo que nunca estivesse vindo aqui antes. Eu tive dois sonhos muito realísticos com a Cristal depois que ela foi sequestrada. Em um deles ela estava presa dentro do freezer, machucada e passando frio. No outro, ela estava em um lugar escuro, mofado, abafado e com uma escada de madeira bem precária. Pelo que vimos, eles realmente a trancaram dentro do freezer, não sei como uma coincidência dessas é possível, mas vou descobrir. Sinto que esse lugar ainda tem muita coisa obscura e não saio daqui até desvendar tudo que esses idiotas deixaram para trás.

Nem a distância nos separaOnde histórias criam vida. Descubra agora