Capítulo 10

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— Você sabe como eu e Jack nos conhecemos. Sim? — Sophia molhou o pincel no esmalte, passando em seguida na unha do meu dedão.

— Eu nunca soube, borboleta. — Estava bem interessado nas palavras a seguir.

— A mãe do Jack era a nossa cozinheira, minha mãe contratou ela por uns quatro anos seguidos. O Jack não tinha dinheiro pra nada. — Disse simples, agora, limpando as bordas da unha com seu próprio dedão.

— O Jack é pobre, em termos? — Franzi meu cenho.

— Tecnicamente sim. O Jack vive de bolsa de estudos! — Continuou a pintar.

Caralho!

— Quando a minha sogra estava no segundo ano de emprego, aqui mesmo, o meu pai fez com que Jack estudasse horrores pra passar na prova. E enfim, ele passou, com um gabarito comprado, é claro. — Rolou os olhos.

— E ele entrou no colégio normalmente?

— De início sim, depois, meu pai começou a pagar uma mensalidade pra ele. — Entreabri meus lábios.

— Vocês se conheceram no colégio ou aqui mesmo?

— No colégio. Depois o meu pai fez com que as nossas famílias se conhecessem. — Esticou minha mão, verificando o esmalte. — Essa cor ficou tudo, Borboleto!

— Mas e agora? Quer dizer, ele ainda tem bastante status de vida. Se é que você me entende. — Engoli seco, esperando Sophia soltar mais algum podre do maluco.

— Foi eu quem dei aquele carro pro Jack. — Soltou. — Quando fizemos um ano de namoro. O meu pai tem muito dinheiro, Mica. Você nem imagina o quanto!

— Então você banca o Jack?

— Não mais. Agora ele é meio que sócio do meu pai. — Fez uma careta de não gostar do assunto. — Na verdade eu não entendo muito bem mas ele trabalha, não muito, mas consegue arrancar um dinheiro legal. — Começou o seu trabalho na outra mão.

— Nossa. — Suspirei, foi novidade demais à mim. — Então ele é praticamente bancado por você?

— Ele era, Borboleto. Mas eu o ajudei bastante. Quer dizer, o meu pai o ajudou. — Sophia terminava de pintar.

— E enquanto ao namoro com ele? — Senti um nó na garganta, não sabia o por quê.

— É tranquilo. Só ele que é muito ciumento, as vezes. Algumas atitudes do Jack me deixam irritada. — Suspirou.

— Hum. — Remexi meus lábios, pensando.

Jack na verdade era o chupim de Sophia, que o bancava, desde as épocas em que ele não tinha condições. E agora eu me perguntava se ele realmente amava ela, ou era um amor por puro luxo? Já tínhamos a reposta mas eu preferia fantasiar outra coisa.

— Borboleto. — Me chamou. — Eu quero te perguntar uma coisa mas estou com medo de ser muito íntimo. — Encolheu os ombros.

— Pode perguntar, borboleta. Já falamos... Tudo. — Quase tudo!

— Então. — Preparou-se para dizer. — Como é a sensação de transar com uma garota?

Se eu estivesse bebendo algo, com certeza eu teria me engasgado.

— Como assim, borboleta? — Estava surpreso com a pergunta, assim, na lata.

— Todos os meninos são... Precoces? — Arqueou uma sobrancelha.

— Nem todos, borboleta. Isso vai de garoto pra garoto. — Ah... — Jack é precoce com você? — Eu queria tanto rir.

— É sim! — Ficou com vergonha ao falar. — Na verdade, eu nunca transei com outro garoto. Só com Jack. — Ele foi o primeiro dela. — E toda vez que transamos, tem sempre um ritual de início que perde totalmente o meu encanto por ele.

— Que tipo de ritual? — Fiquei curioso.

— Não podemos trocar de posição em hipótese alguma. Jack sempre goza em mamãe e papai, acredita? — Arregalei meus olhos, incrédulo. — E isso não dura nem 5 minutos, eu literalmente estou cansada disso. — Desabafou.

O mané literalmente era um mané. Se achava tanto e nem sabia transar direito. Otário! Eu estava impressionado com a leveza, zero preocupação e atos sem vergonha de Sophia, parecia que ela me conhecia há anos e estava se abrindo mais do que uma porteira.

— Meu Deus, borboleta. — Tive um espanto. — Você nunca ficou com outros caras? — Ela negou. — Nadinha de nada? Nem um beijo... Algo chego próximo à isso. — Ela também negou.

— Meus pais não sabem que eu não sou mais virgem. — Explicou. — Jack fez um contrato falso com o meu pai, dizendo que se casaria comigo e faria tudo depois da cerimônia. Mas isso foi quebrado há algum tempo. — Entristeceu ao dizer. — Meus pais não sabem de nada e nem podem saber.

— Que situação. — Fiquei em transe por segundos.

— Mas e você, Mica? Como foi a experiência de namorar uma garota por alguns anos? — Sophia terminou de pintar as unhas, levantando-se e me ajudando a ficar da pé. O roxo pastel em minha unha havia ganhado destaque.

— Foi... Diferente. — Tentava achar palavras pra mentir.

— E como é transar com uma garota? Você sabe a hora de fazer tudo? — Meu Deus! Como ela era curiosa, e realmente não sabia nada no mundo do sexo.

Eu jurei que naquele momento, se ela me pedisse pra mostrar como funciona a coisa de verdade, eu meteria nela até o amanhecer e não ficaria arrependido de nada. Sua carinha de dó fez o meu pau pulsar e o meu coração se despedaçar. Sophia Abrahão era experiente nas quadras e inexperiente na cama, graças ao babaca do namorado.

— Você precisa ter uma certa química, entende? Se não o sexo não rende, não funciona. — Me lembrei de fodas antigas e de fazer amor, como as menininhas típico Sophia chamam. — Estar dentro de uma menina é bem diferente. — Sophia prestava a atenção, ainda com a máscara fácil no rosto, agora seca. — Ainda mais estar dentro de uma garota que você realmente ama. — Nossos olhares se encontraram.

O azul penetrante deu impacto com o castanho dos meus olhos, sua face angelical me hipnotizou. Eu estava obcecado por ela, em frente ao espelho, com uma máscara facial na cor verde e triste por suas aventuras sexuais serem um fracasso.
O que estava acontecendo comigo? Sua imagem foi gravada na minha memória e eu estava em transe com ela, um minuto havia se passado e o silêncio permanecia entre nós. Eu tinha que voltar para a realidade, minha cabeça iria explodir!

— Acho que Jack não sente o mesmo. — Soltou um risinho triste, mas ainda sim, um risinho. Buscou um algodão em rodela na gaveta do armarinho, despejando um pouco de demaquilante e retirando a máscara facial do rosto.

Eu assistia toda a cena encantado.

— Mas vai sentir, borboleta. — Chamar ela de borboleta era igual à um alarme para voltar ao personagem, sem que o meu passado me abalasse, e sem eu ter que ficar pensando besteiras de hétero com ela.

— Assim eu espero. — Continuou a retirar o produto de seu rosto.

Eu estava me sentindo estranho. Espero que seja sintomas do esmalte em minhas unhas. Mas eu já tinha sentido aquilo antes.

E os resultados não são bons. Eu estava ficando... Apaixonado?

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