Capítulo 62

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— Você ficou maluco, né? — Alan riu mais uma vez. Abriu uma cerveja long neck, me entregando uma. — Aliás, eu sempre soube que você foi maluco. Mas não maluco desse jeito!

— Alan, é o único jeito de eu ver a Sophia, saber como ela está. — Me sentei no sofazinho de canto. — O pai dela é um animal! Eu tenho medo de ter acontecido alguma coisa com ela, sei lá.

— Mas você também é foda, né Micael? — Alan se sentou em um barril de decoração. — Viajou com a menina, com o dinheiro do pai dela, comeu ela e o cara ainda pegou vocês na cama. Você não quer mais nada também, né?

— A gente literalmente não sabia que o pai dela ia aparecer lá com dois caras e... Pow! Uma arma na cabeça da Sophia, do nada. — Fiquei pensando. — Como esse cara descobriu a gente lá?

— Rastreador. — Alan soltou.

— Você acha que ele rastreia a Sophia?

— Muito provável. — Deu um gole na cerveja. — Esses pais conservadores sempre fazem isso com os filhos, mesmo eles não sabendo, é claro!

— Meu Deus. — Fiquei perplexo. — A Sophia vive em um inferno!

— E cabe à você deixar a Sophia viver a vida dela e seguir em frente. Mas ainda sim você precisa da grana. — Alan coçou a nuca. — Você viu que o Mark's estava contratando garçons?

— E eu lá quero ficar servindo mesa?

— Mas quer entrar em um contrato com um homem de poder que vai foder a sua vida!

— Alan, não tem mais jeito! Eu tô apaixonado pela Sophia e quero tirar ela dessa prisão. — Rebati. — A mãe dela me pediu um favor imenso mas infelizmente eu não posso fazer isso.

— E o que te impede de não fazer? O contrato?

— Os meus pais, Alan. — Trinquei o meu maxilar. — Eu me mato se algo acontecer com a minha mãe, ainda mais grávida.

— Tá vendo? Mais um motivo pra você desistir dessa menina e seguir a sua vida! Você tá no último ano do colegial, tem a vida inteira pela frente... É sério que você se amarrou em uma periquita milionária que só se importa com a roupa que tá usando?

— Não fala assim dela, Alan! — Me levantei com tudo, colocando o indicador no rosto de Alan. — Eu não admito que você fale assim de Sophia.

— Viu só? É por isso que eu sou doente de te ajudar ainda. — Ele voltou a beber sua cerveja.

Esfriei minha cabeça, voltando à sentar no sofazinho.

— Você vai me ajudar com o plano ou não?

— Primeiro: você sabe que esse plano é uma bosta, não sabe? — Pausou. — E segundo: como você vai chegar na porta dela, do nada, e dizer que o ar condicionado da família Abrahão precisa de reparações? — Alan segurou o riso.

Não é pra tanto! Foi a única ideia boa que surgiu em menos de vinte segundos, na minha cabeça de desesperado.

— Vou dizer que algum vizinho reclamou, sei lá. — Não tinha pensado nisso. — Mas a ideia continua sendo boa!

— Continua sendo uma bosta, Micael. Vamos ser sinceros!

— Tá, tá, tá, tá. — Dei de ombros. — Você vai me ajudar ou não?

— Eu vou te ajudar. — Alan revirou os olhos, cansado de repetir aquilo. — Eu posso saber aonde você vai arrumar algum uniforme específico?

— Lembra daquela festa que a gente foi no segundo ano? Então, ela é perfeita! Só precisamos escrever os nomes no emblema, nada mais.

— Onde eu fui amarrar o meu burro, meu Deus? — Alan olhou pra cima, falando sozinho.

— Eu vou pra casa, peço pra minha mãe passar os macacões e te busco amanhã de tarde. Que tal?

— Meu Deus! O meu burro veio com defeito, literalmente. — Alan ainda continuava.

— Alan! — O chamei. — Você vai ficar zoando ou vamos entrar em ação?

— A única ação que a gente vai entrar é se o velho descobrir a nossa falcatrua e chamar a polícia! — Estava meio irritado. — Você quer mais algum conselho ou por hoje já deu?

— Você consegue pegar aquele carrinho velho do teu pai?

— Tá desdenhando do carro do meu pai? — Alan não gostou muito. Segurei meu riso.

— Eu não quis dizer isso, é que... O carro é perfeito pra ocasião.

— Se liga hein, Borges! — Alan saiu do seu lugar, me dando um pescotapa na cabeça, de leve. — Eu sou louco de ser o seu amigo, sabia?

— Eu sei! Todo mundo é louco de ser o meu amigo, menos o Duff. — Comecei a rir do nada, lembrando que eu havia o chamado de fofoqueiro.

— O Duff é à parte! Ninguém quer ser mais amigo do Duff. — Alan começou a rir também. — Aquele pangaré de rodinha que só sabe falar da vida de todo mundo.

— Nem todo mundo. — Pensei. — Ele ficou estranho depois que começou a namorar a Mel, né? — Deixei a garrafa vazia em cima de uma mesinha.

— Acontece com todo mundo. Você, por exemplo. — Começou. — Ficou estranho depois que se fingiu de veado pra Sophia. Mas a gente teve que aceitar isso do início ao... Fim?

— Ainda não teve um fim.

— Pera. — Alan segurou o riso. — É sério que ela ainda te dá mesmo sabendo que você gosta da mesma coisa que ela? Isso é... impossível! — Começou a rir descontroladamente.

— A gente tem uma amizade colorida. — Achei melhor dizer assim.

— Isso pra mim já é putaria, Borges. — Alan recolheu as garrafas. — Se a menina tem namorado e diz que ama ele pra cacete, por que ela dá pra você mesmo sabendo das consequências?

— Vai ver ela não ama ele tanto assim. Tem muita coisa em jogo, Alan! A empresa é uma delas.

— Não sei. — Alan pensou. — Eu acho essa família dela muito estranha. Começando pela mãe. — Pegou outra cerveja. — Quer mais uma?

— Não. — Pausei. — Por que você acha a mãe dela estranha?

— Porque sim! Você mesmo disse que eles nem dormem na mesma cama. E, a troco de quê ela te ajudaria a ficar com a Sophia sabendo do marido que tem?

— Você acha que pode ser uma armadilha, Alan? — Me preocupei.

— Daquela família eu não me impressiono com mais nada. — Voltou a beber. — Eu só quero que não aconteça nada com você, porque, a gente não tem dinheiro pra enterrar o seu corpo.

— Para com isso, Alan! — Fiquei apreensivo. — Vai dar tudo certo.

— Assim eu espero.

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